Capítulo 11

668 104 10
                                    



Um velho careca de estatura média e jaleco branco entrou na sala onde estava Petrus. O homem não parecia surpreso com a perfuração no peito do rapaz, ele já estava acostumado com acidentes e ocorrências de todos os tipos no hospital. O rapaz estava desacordado na hora que o médico entrou, tinha sido uma longa noite. A ardência do remédio utilizado para o curativo o acordou. O médico deu alguns pontos na perfuração para que o machucado parasse de sangrar.

− Vou ficar bem?

− Se a perfuração tivesse sido mais profunda, você poderia ter morrido. Você vai ficar ótimo. Só precisa de alguns dias para o machucado cicatrizar.

− Como Augustus está?

− Ele está do lado de fora impaciente para te ver.

− Digo, como está o machucado dele.

− Está tudo bem. Os dois vão ficar bem! Fique tranquilo. Vocês deram sorte. – Chame de sorte, de magia, do que você quisesse. Naquela madrugada, os dois garotos desejaram que nada de mal acontecesse ao outro e pudessem desfrutar de outros momentos juntos.

O médico saiu da sala e avisou que Augustus poderia entrar no quarto se quisesse. Petrus já estava acordado e medicado. Ver o rapaz deitado na cama do hospital fez todas as emoções de Augustus se agitarem novamente. Um nó se formou em sua garganta e ele fez um esforço para tentar conversar.

− Como você está se sentindo? – Augustus segurou para não chorar novamente. O rapaz ficou o tempo inteiro orando e torcendo para que Petrus ficasse bem logo.

− Ainda está doendo, mas o médico disse que vou ficar bem em breve – Petrus abriu um sorriso para Augustus. – E você?

− O meu caso foi bem mais simples que o seu. Minha perfuração foi leve. Perdi um pouco de sangue. – Tinha tantas coisas que Augustus gostaria de contar para Petrus, mas não podia. Os dois teriam se machucado mortalmente se não fosse pelas intervenções divinas e pela magia de Augustus. O menino vinha de uma família de bruxos e sempre andava com algumas ervas onde quer que fosse. Quando Petrus estava quase desmaiando no carro, Augustus realizou um feitiço para a cura. Augustus estava sangrando tanto que poderia morrer a qualquer segundo, e por mais que Graziela corresse com o carro, não chegariam a tempo ao hospital. O bruxo pediu a proteção e a cura para os deuses, elementos e espíritos e suas preces foram atendidas. Ele tinha medo de que mais magia pudesse piorar a situação, mas não estava disposto a perder Petrus. Se existia uma coisa que ele poderia aceitar era a rejeição do amado, mas não a morte dele, não agora, quando os dois finalmente estavam se conhecendo e se dando tão bem. O jovem bruxo fechou os olhos e tentou se conectar com sua avó falecida, ela sempre tinha os melhores conselhos quando ele precisava. Augustus ainda não estava entendendo completamente o que tinha acontecido, mas sabia que tinha sido o responsável pelo comportamento do Rafael. Ele nunca se perdoaria se algo acontecesse a Petrus.

− Augustus, você praticou algum tipo de magia ultimamente? – O jovem ouviu a avó perguntando com uma voz séria para ele.

− Eu pedi ajuda para curar Petrus. Eu não sabia o que fazer. Ele iria morrer se nós não chegássemos a tempo... – Augustus começou a chorar na visão em que conversava com a avó. A mulher abraçou-o com força e disse que tudo ficaria bem. Ela tentou acalmá-lo e lembrou que ele não tinha muito tempo.

− E antes disso? Alguma coisa para Petrus?

− Eu fiz um feitiço básico de amor. Estava no livro, mas pelo que eu me lembre, as palavras diziam que nenhum feitiço era forte o suficiente para fazer alguém amar o outro. Eu fiz, mas nem mesmo levei a sério. – A avó deu um olhar sério para Augustus. No fundo, era como se ela estivesse funcionando como a consciência dele. Ela já sabia o que tinha acontecido, pois acompanhava a vida do rapaz desde que estava viva, mas mesmo depois de morta, ela sabia de todas as suas alegrias e tristezas. A velha era muito conectada ao neto para deixá-lo, mesmo do outro plano.

− Você pode não se lembrar, mas nós dois já tivemos esta conversa quando você era muito novo. Você lembra quando o Petrus te agrediu no colégio? Você me perguntou porque ele tinha tanta raiva de você e eu respondi que, às vezes, era melhor ele te odiar, do que não sentir nada por você. A raiva e o amor são mais próximos do que imaginamos.

"Para se gostar de alguém, é preciso sentir algo por ela e estes sentimentos podiam se transformar a qualquer minuto. Ele nunca te odiou, só não sabia como lidar com seus próprios sentimentos e descontava em você. Mas não é sobre isso que estávamos falando. No momento em que você desejou ardentemente que Petrus pudesse gostar de você, o outro rapaz que gostava de você passou a te odiar. O seu feitiço provocou a ira nos espíritos. Algumas almas se recusavam a deixar a Terra, algumas por estarem perdidas, outras por terem ficado presas com suas obsessões e angústias. No minuto em que elas perceberam que você estava procurando alguém que não tinha, elas imaginaram que você não era bom o suficiente para receber o afeto de Rafael. Os espíritos dominaram o corpo dele e se alimentaram com a raiva que ele sentia de você e de Petrus. Você precisa chegar em casa o mais rápido o possível e olhar no livro algum ritual para libertar Rafael de todo o mal que está habitando nele".

− Augustus, você está bem? – As palavras de Graziela cortaram o transe dele. O menino estava com o rosto molhado quando a melhor amiga apareceu no quarto para visitá-lo. Ele ainda não sabia como Petrus estava, mas sabia que não corria o risco de vida. Augustus precisava urgentemente ir para casa, mas não podia antes de conversar com o rapaz pelo qual se apaixonara.

− Estou. Só estou um pouco sentimental. – Augustus era péssimo mentiroso, mas não queria contar toda a verdade para a amiga. – Preciso conversar com Petrus e depois ir para casa. Você pode ficar com ele? Não quero que ele fique sozinho.

− Posso... – O que Graziela poderia fazer vendo o melhor amigo naquele estado? Não era como se ela tivesse a opção de dizer não. Ela queria o bem de Augustus e se para ele ficar bem significaria que ela teria que aguentar Petrus por uma noite, então ela se sacrificaria por ele. Augustus sabia que podia contar com a melhor amiga para o que precisasse. Ele não queria abusar da boa vontade dela, mas realmente precisava acabar com aquele pesadelo, antes que algo pior pudesse acontecer, não só com eles, mas com o próprio Rafael.

Assim que Petrus acordou, ele correu para o quarto do rapaz. Ele só precisava ter certeza de que o ex-jogador de futebol estava realmente bem.

− Petrus, eu preciso ir para casa. Aconteceu algo e meus pais precisam de mim. Eu não quero te deixar sozinho, você se importa se a Graziela ficar com você?

− Claro que não. Você precisa do meu carro? – perguntou Petrus, como se estivesse lendo a mente do rapaz.

− Sim! Agora, preciso ir! – Augustus se despediu do rapaz com um beijo na testa e saiu correndo do quarto.

− Posso entrar? – Graziela estava na porta encarando o menino na cama.

− É claro! – Petrus abriu um sorriso amigável. Então, pode ser que o rapaz realmente tinha mudado e não era mais aquele valentão do colégio que costumava bater em Augustus. "As coisas realmente mudam", pensou Graziela.

− Eu sinto que te devo um pedido de desculpas. Eu tive medo de que você pudesse machucar Augustus novamente e não dei muita atenção para ele quando conversamos sobre você. Talvez se ele tivesse me falado mais sobre o encontro de vocês, nada disto aconteceria...

− Nada disto foi culpa sua. Você não precisa me pedir desculpas de nada. Só de você estar aqui já me sinto bem... – Petrus não sentia raiva nenhuma de Graziela. Se a garota tinha medo de que ele pudesse machucar Augustus, ela tinha todo o direito.

− Você não entende? Eu estava tentando arranjar Rafael para Augustus. Ele foi atrás dele por causa de mim. Se eu não tivesse apresentado eles...

− Para de se culpar. Você não sabe o que poderia ter acontecido. Ele estava meio estranho, pode ser que tenha bebido ou usado alguma droga. Tenho certeza de que você não arranjaria alguém que pudesse fazer algum perigo para o seu melhor amigo.

− Você está certo. Mesmo assim... Fico feliz de que você esteja bem. – Graziela soltou as palavras sinceramente que não esperava dizer antes para Petrus.

− Obrigado. Se você não tivesse aparecido, batido nele e me trazido para cá, quem sabe o que teria acontecido. – As palavras fizeram Graziela ficar sem graça e emocionada. No quarto do hospital, uma amizade tímida e sincera começou a surgir entre os dois.

EnfeitiçadoOnde histórias criam vida. Descubra agora