Capítulo 12

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Augustus entrou no carro de Petrus e tentou se lembrar das lições da autoescola. Apesar de possuir uma carteira de motorista, ele nunca dirigia, exceto quando acontecia alguma emergência em casa. Foi como andar de bicicleta depois de muito tempo. Nas primeiras quadras, o carro parecia estar sendo dirigido por um adolescente em suas primeiras aulas de habilitação. Depois de alguns minutos, Augustus reconquistara sua habilidade de dirigir e acelerou para que pudesse chegar em casa o mais rápido possível. O jovem estacionou o carro em frente de casa e a cena chamou a atenção dos seus pais.

− O que você está fazendo com esse carro? – perguntou o pai, quando viu o filho entrando em casa com pressa.

− Que curativos são esses? Você está bem? – A mãe quase chorou quando viu o filho machucado.

− Eu estou bem. Preciso de um minuto a sós.

− Nós não vamos deixar você sozinho até você contar o que aconteceu. Você está sangrando ainda – resmungou a mãe.

− Eu fui apunhalado.

− Por quem?

− Um rapaz da universidade.

− Ele estava tentando te roubar? Por que você não deixou ele levar o seu celular, suas coisas? Você sabe que são só coisas materiais – disse o pai, procurando uma resposta nos olhos de Augustus.

− Não. Ele estava com raiva de mim. Parecia que ele estava possuído por algum tipo de espírito. Eu conversei com a vovó e ela disse para eu procurar algum ritual no livro... – os pais olharam para ele e as palavras caíram como mágica.

− Você precisa de nós para alguma coisa?

− Se vocês puderem ajudar... Preciso desfazer um feitiço o mais rápido possível e depois fazer um ritual.

− Que feitiço? Você andou praticando algum feitiço proibido do livro?

− Não. Quer dizer, mais ou menos. Fiz um feitiço de amor... – admitiu Augustus, envergonhado. – Agora não tenho tempo para conversar. Se vocês forem me ajudar, eu aceito.

− Tudo bem.

Augustus abriu o livro de feitiços da família e procurou um ritual para afastar os espíritos do mal. O feitiço não era tão complicado quanto ele esperava. O rapaz precisava de muito sal e dizer algumas palavras em latim.

"Hoc maligni spiritus habitant, relinquere ipsum.

Spirituum retro unde venerunt.

Spiritus lumine quaeram.

Spiritibus liberabit te".

Antes de realizar o ritual, ele precisava fazer o que tinha começado. Por sorte, o escritório onde ficava o livro de feitiços quase nunca era limpo. Augustus revirou o lixo até encontrar os papéis que ele tinha realizado o feitiço. A folha que costumava ser branca, mal tinha um espaço onde não estava escrito o nome de Petrus e de Augustus. O menino sabia o que fazer para quebrar o feitiço, não tinha nenhum segredo, tudo o que ele precisava fazer era queimar os papéis e mentalizar todo o desejo do feitiço sendo desfeito. Augustus tinha medo de que aquilo pudesse afetar sua relação com Petrus, mas ele devia seguir as orientações de sua avó e fazer exatamente o que ela tinha pedido para que nada pior pudesse acontecer. Enquanto o fogo consumia o papel, Augustus mentalizava as energias consumindo tudo o que tinha idealizado com Petrus. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Augustus quando ele finalmente tinha terminado. Os seus pais assistiam a cena e não conseguiram deixar de se emocionar com o filho.

− Preciso ir até a casa de Rafael.

− Quem é Rafael? – perguntou a mãe.

− O rapaz que me apunhalou. Eu preciso fazer este ritual e liberar ele dos espíritos do mal.

− Eu te levo. Quero garantir de que nada de mal vá acontecer a você – disse o pai.

Pai e filho entraram no carro de Petrus. Augustus pediu para que o pai dirigisse, enquanto ele se concentrava no que deveria fazer. O rapaz não quis levar junto o livro de feitiços, era muito arriscado e ia contra as regras de muitas famílias de bruxo, inclusive as suas escritas pelo seu tio de séculos atrás que adicionou os primeiros rituais e feitiços. Ele anotou em um papel as palavras em latim que precisaria dizer e carregou consigo todo o sal que tinha encontrado na sua casa. Augustus pegou o endereço de Rafael com a sua melhor amiga. O apartamento ficava muito próximo à universidade e não foi muito difícil achar.  

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