Conversa franca com o pai

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Depois de seis meses de trabalho, eu tinha dinheiro para dar uma pequena entrada em um apartamento, e sai à procura e acabei achando um sobrado caindo aos pedaços e precisando de uma boa reforma, o preço estava ótimo e consegui junto ao proprietário que arrumasse apenas o telhado, o restante eu me viraria, meu pai veio me ajudar a escolher os móveis e passar o natal comigo, fiquei feliz com sua presença, passar uma semana com ele era a melhor coisa que podia acontecer na minha vida, mesmo assim ia trabalhar durante a noite.

Na manhã seguinte eu achei meu pai fazendo o café, me encostei na pia.

"Bom dia!".

"Bom dia minha filha!", meu pai sorriu ao me ver, "Você parece cansada!".

"Noite difícil na emergência!", disse puxando uma caneca da prateleira.

"Como tem sido trabalhar todas as noites!?".

"Divertido, mas não trabalho todas as noites, essa eu fico em casa, mas amanhã eu trabalho!".

"Alguém em vista?", meu pai arregalou os olhos.

Sacudi a cabeça e torci a boca, ele encheu minha caneca de café e a dele, " ainda não se esqueceu de Rômulo?".

"Já!... Faz tempo!... Eu só vou esperar a pessoa certa!", o olhei e sorri, "Eu sabia que não iria durar muito o meu namoro com ele pai!", bati os dedos na caneca, "A mãe dele me odiava!... E ela mostrou isso no dia que dormi pela primeira vez na casa deles!".

Meu pai desfez o sorriso e ficou me encarando, sacudi a cabeça.

"Ela achou que estava com ele por dinheiro!... Nos chamou de pobre!".

Soltei um longo suspiro, meu pai olhou o café na xícara, "Bem que eu desconfiava daquela pose toda!... Ela era muito calada e muito observadora!".

Ele me puxou para nos sentar no sofá, nos acomodamos, ele respirou fundo e me olhou por um tempo, percebi que tinha um monte de coisas para dizer e perguntar.

"Não fui um pai muito presente na sua vida, mas eu tentei dar uma vida tranquila para você e sua mãe, mas eu não esperava que sua mãe viesse adoecer justamente quando estava para se formar, hoje você poderia estar feliz na profissão que escolheu!".

Levei a mão aos ombros do meu pai e sorri, "Eu gosto do meu trabalho pai!".

"Eu sei!... Mas não é 100% feliz!", ele torceu a boca. "Me conta uma coisa!?".

Ele me olhou, e eu esperei que me fizesse a pergunta.

"O que sua mãe falou sobre você e Nigel é verdade!?".

"depende do que ela falou!?", arregalei os olhos, mas meu coração disparou.

"Que você e Nigel... Tinham um caso!".

Comecei a rir, levei a cabeça para traz, minha vida passou como relâmpago na minha cabeça, o olhei.

"Cansada de pessoas preconceituosas!", respirei fundo e descansei minha xícara vazia na mesinha, "Eu e Nigel nos amávamos!... Ele e eu íamos nos mudar para Nova York, ele e eu faríamos a faculdade e íamos viver juntos como um casal, mas para vocês seriamos apenas amigos, mas mamãe descobriu e"...

Me senti cansada de repente, meu pai me olhava, eu me senti constrangida, ele torceu a boca e fez a mesma coisa que eu, descansou a xícara na mesinha.

"Por que nunca conversou comigo sobre suas escolhas e suas vontades?".

Eu o encarei, como eu podia falar algo? eu achava que ele faria igual a minha mãe, me fazer sentir uma aberração, "Por que não sabia se podia contar com o senhor!".

Ele passou a mão pelo rosto, "Vocês dois chegaram a"..., ele arregalou os olhos, mas não olhou para mim, mas eu sabia o que ele queria dizer.

"Sim!"

"Uau!", meu pai bufou, "ele está tão diferente agora!... Parece tão sério, meticuloso, não se abre com ninguém... Chega e se senta e fala o necessário e vai embora!".

"Imagino!... O dinheiro muda as pessoas!".

"É!... Muda mesmo!... Mas eu percebo que ele é magoado com alguma coisa que aconteceu ali!", meu pai me olhou e tocou no meu ombro, "O que foi?".

"Ele foi em casa um dia antes de ir embora!... E me disse que iria estar me esperando na rodoviária!", chacoalhei a cabeça, "Eu não fui!... Mamãe disse que se eu saísse daquela casa, eu nunca mais poderia voltar!".

Meu pai suspirou chateado, "Nunca achei que sua mãe e sua tia fossem tão preconceituosas assim!... Eu mesmo tenho primos que são casados e tem três filhos!".

Franzi o cenho, "mamãe nunca contou isso para mim!".

"E nunca falaria mesmo!", ele sorriu triste, "Ela detestava as pessoas da minha família!".

"Então se eu tivesse ido, seguido meu coração!... Eu estaria perdoada agora!?".

Papai balançou a cabeça que sim, "Teria meu apoio se soubesse de tudo e acho que de Oliver também!".

 Respirei fundo, mas por outro lado foi melhor assim, estava tendo a oportunidade de curtir a minha vida e trabalhar e ganhar meu dinheiro e fazer tudo aquilo que gostava, respirei fundo e sorri, apertei sua mão e dei a conversa por encerrada, já bastava o sofrimento que vivi na época e não valia a pena voltar no tempo, eu precisava parar de viver no passado e viver o presente.

O natal foi uma delicia, Becky, Alan e Dora vieram passar a ceia com a gente, meu pai amou meus amigos de trabalho e foi uma diversão completa, meu pai estava mais solto e mais interagido na minha vida, ele tinha interesse em saber como eu estava, como me sentia e o que eu queria para o futuro, foi uma semana produtiva e que colocamos questões pendentes do passado a limpo, e foi uma surpresa ao saber que Rômulo estava de volta a Martinsville, machucou o joelho e ficaria seis meses de molho em casa, e me procurou neste tempo, mas agora estava casado com a tal modelo, mas pelo que entendi, vivia uma vida de inferno e queria um ombro amigo para conversar, fiquei triste por ele, tinha tudo para ter uma vida tranquila e passiva, mas eu era a pobre desclassificada, e por um lado gostei de ser essa pessoa, eu era feliz.

No dia 28 nos despedimos na rodoviária e ele seguiu para Matinsville/Axton e eu fui trabalhar, estava triste e feliz ao mesmo tempo, mas aquela agora era minha rotina e minha família e eu os amava e iria passar o reveion trabalhando com meus amigos de plantão, e seria divertido e corrido ao mesmo tempo, ficar na emergência em dia de festas não era nada fácil, mas também nos divertíamos e muito, mesmo sendo a primeira vez que iria viver isso naquele hospital.

Amor de Primo (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora