CAPÍTULO 15

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Cheguei dois minutos atrasado do combinado. Thiago estava sentado na calçada, ao lado da bicicleta, no mesmo lugar onde ele me atropelou.

"Foi mal a demora. Meus pais ficaram me segurando", disse sentando ao lado dele.

"Tudo bem, eu cheguei agora", nem preciso dizer como ele estava lindo. Usava uma camisa preta com símbolos japoneses (Que eu ameiiiii), uma calça jeans escura e botas de couro preta.

"O que você queria falar comigo?".

"Não pense mal de mim Serena, mas vai fazer um mês desde que você chegou. E durante todo esse tempo desde que te encontrei nesse lugar", ele apontou para onde estávamos sentados, "Minha curiosidade fica maior. Me dá uma vontade de saber mais de você, da sua vida, como era morar na sua antiga cidade, e...", ele parou no meio da frase.

Ele não precisava terminar. Já sabia o que ele queria.

"Minhas cicatrizes. Você quer saber como conseguir as minhas cicatrizes", falei encarando-o.

Ele começou a coçar a nuca de vergonha. Eu acertei no alvo o que ele queria saber.

"Pois é, mas como você ficou assustada quando eu perguntei naquele dia, eu decidi não perguntar de novo. Mas como eu acabei de dizer...".

"A sua curiosidade fica maior", o interrompi, "Você não teve culpa. Qualquer um iria perguntar".

Ficamos um tempo sem falar. Enquanto ninguém tomara a iniciativa, eu contava os carros que passavam na rua. Quando cheguei no carro 48, ele falou:

"Se você não quiser me dizer podemos conversar sobre outra coisa".

"O que você quer saber?", não sei por que, mas só com ele eu conseguia contar a verdade. Quer dizer, depois que ele viu as minhas cicatrizes, ele não ficou estranho comigo, ele continuou sendo o meu amigo.

"Eu quero saber se você já tinha essas cicatrizes quando nasceu ou foi depois?".

"Foi depois", respondi olhando para a rua, "Tinha 13 anos quando aconteceu".

"Isso foi algum acidente?".

Eu não quis responder, porque se eu falar, vou começar a chorar.

"Olha, não precisa falar".

"Não é isso, eu quero te contar, mas todas as vezes que eu tento contar para alguem...", eu fiquei muda. As palavras não saiam como eu queria. Mas eu tinha que falar alguma coisa. "Eu só consigo contar se estivéssemos lá".

"Então vamos para lá".

Como? Eu devo ter escutado errado. Ele quer ir aonde tudo aconteceu?

"Você quer que eu leve você onde tudo começou?"

"Sim, já que não consegue contar para mim".

"Mas é em outra cidade. E mesmo se eu quisesse te levar não tem como os meus pais deixarem".

"Vamos enquanto eles estão viajando".

"Você pirou? Se meus pais descobrirem que eu fiz isso eles vão me botar de castigo para sempre."

"A qual é, não custa nada", ele disse juntando as mãos implorando, "Além disse, você disse que adora aprontar".

"Mas não desse jeito".

"Tudo bem então, já que você não vai comigo, nunca irei saber da verdade", ele abaixou os ombros e fez cara de cachorrinho sem dono.

Ai não, não faz essa cara. E sempre assim, quando alguém faz essas carinhas de triste eu não aguento e faço o que pedem.

"Ok, eu vou pensar".

De repente, a cara de tristeza sumiu, e apareceu aquele sorriso. Quando é que eu vou para de perder o ar todas as vezes que ele sorrir?

"Tudo bem, você me diz...", ele parou para pensar um pouco, "Amanhã e sábado, você pode ir para a minha casa a tarde para me responder".

"Tudo bem, pra mim será ótimo".

"Que bom, agora vamos tomar alguma coisa que esse sol está torrando a minha nuca. Nossa que calor."

Fomos até a lanchonete e compramos dois refrigerantes e dois sanduíches. Eu só percebi que estava com muita fome quando a comida chegou na mesa. Eu ataquei meu lanche na hora. O Thiago não ficou para traz. Quando percebi, ele tinha terminado o seu sanduíche em 2 minutos.

"Nossa, você come bem rápido", falei depois de um gole do refrigerante, "Parece o meu pai".

"Ele deve ser uma boa pessoa", ele respondeu olhando para o meu ombro esquerdo, "Qualquer dia desses, vou querer ver as suas cicatrizes".

"Vai por mim, você não vai querer ver", falei com o olhar distante.

Marcas de SerenaOnde histórias criam vida. Descubra agora