CAPÍTULO 28

50 2 5
                                    

P.O.V THIAGO.

Andamos na floresta por alguns segundos e já fiquei com medo. Aqui na cidade da Serena só tinha florestas assustadoras. Eu sabia que era uma cidade histórica, mas não sabia que também era uma cidade fantasma.

"Quanto mais nós teremos que andar?", perguntei não aguentando mais andar por entre florestas escuras.

"Chegamos", ela falou enquanto parávamos.

Olhei em volta e nós estávamos em um espaço do tamanho de um pequeno quarto, com grama seca cobrindo tudo. Serena andou até o meio e sentou na grama. Eu nunca tinha visto ela tão calada. Ela nem olhou para mim, apenas bateu no chão ao seu lado para eu sentar.

"Quer mesmo que eu conte para você a verdade?", ela se virou para mim e me encarou até eu responder.

"Quero", respondi rápido. "Você ainda acha que eu não quero saber?".

"Só queria ter certeza", ela endireitou as pernas para que as folhas não tocassem em seus joelhos. "Preste atenção porque eu vou falar só uma vez. E não me interrompa também".

Acenti ansioso para saber logo.

"Eu tinha acabado de fazer 12 anos", ela começou falando devagar e baixinho. "É as férias de julho tinham acabado de começar. Sempre quando as férias chegavam, a minha turma da escola sempre se reunia nesse parque para comemorar e se divertir".

"Naquela época, eu tinha muitos amigos. Todos da sala de aula gostavam de mim e eu gostava deles. Eu não era muito falante, então a maior parte eu ficava com a Biatriz, o Cláudio e o...", nessa hora a voz dela sumiu. Olhei para ela e vi que estava quase chorando. Mas como prometi que não ia interromper, fiquei calado.

"E o Diego", ela disse o nome dele como se fosse um tipo de doença contagiosa. Sua fisionomia endureceu na hora. "Eu e ele éramos muito amigos. Ele cuidava de mim como se eu fosse a sua irmã mais nova. Nos conhecíamos desde o segundo ano. Ele me protegia de todos que tentavam me amedrontar ou me bater. Ele era a pessoa que a gente podia contar para o que der e vier".

"No dia da festa daqui do parque, eu fiquei meio indecisa e insegura se eu vinha ou não. Era como se eu sentisse que alguma coisa iria acontecer. Mas a Biatriz insistiu tanto para eu ir, que eu fui mesmo com uma sensação estranha no peito".

"Quando chegamos, estavam todos dançando e se divertindo. Nós chegamos as 13:00, e a festa acabou umas 17:00. Quando estava quase todo mundo indo embora, eu já estava me sentindo cansada e com dor de cabeça de tanto doce e refrigerante. Já era hora de eu voltar para casa. Mas o Diego pediu para eu ficar um pouco para ele ir comigo e não ir sozinha", ela olhou para o chão e começou a arrancar a grama do chão. "Era para eu ter ido embora. Não era para eu ter esperado ele. Eu devia ter ido embora", ela falou baixinho se culpando.

"Quando apenas nós quatro e mais dois garotos ficamos, a Bia e o Cláudio foram embora falando que estavam cansados. Eu devia ter ido com eles", ela balançou a cabeça com raiva.

"Quando eu já estava quase querendo me levantar para ir para casa, o Diego se levantou do chão e pediu para que entrássemos aqui nesse bosque, pois ele tinha que levar umas sacolas que tinha na festa. Claro que eu entrei com ele", seus olhos ficavam mais escuros a cada minuto. "Eu não desconfiei do que iria acontecer no final".

"Quando chegamos, percebi que não tinha sacolas em lugar nenhum. Perguntei para o Diego onde estava as sacolas, quando alguém bateu na minha cabeça e eu desmaiei".

"COMO É?? BATERAM EM VOCÊ PARA TE FAZER DESMAIAR?", gritei tão alto que acho que escutaram do outro lado do parque.

"Quando eu acordei, eu estava bem ali", ela apontou para frente, onde tinha um local perto das raízes das árvores. "Eu estava com os braços e os pés amarrados. Olhei em volta e vi que o Diego estava com outros dois garotos da nossa escola rindo da minha cara".

"Perguntei para eles por que estavam fazendo aquilo. E o Diego respondeu que estava fazendo aquilo porque ele sempre me amou e eu nunca quis saber dele. Só queria ser amiga dele. E por causa disso, eu iria pagar".

"Mas ele é um doido. Um psicopata. Será que ele não entende quando alguém não quer ficar, não quer mesmo?", perguntei com vontade de dar na cara desse desgraçado.

"Ele sempre foi assim. Quando queria alguma coisa, ele fazia de tudo para ter o que queria. Mas eu não sabia que ele gostava de mim".

"Comecei a pedir para que eles não fizessem nada comigo. Mas eles não me escutaram. O Diego mandou que os amigos dele fossem para fora para que ninguém visse o que ele ia fazer. Quando eles sumiram de vista, Diego veio até a minha direção e parou bem na minha frente. Eu fiquei pedindo para que ele não fizesse nada comigo. Mas ele tampou minha boca com força. E me estuprou".

Depois que ouvi aquilo, eu entrei em choque. Como é que existem pessoas tão malignas e mostruosas desse jeito no mundo?

"Foi a pior sensação que senti na vida. Eu não sabia o que doía mais. O meu corpo ou meu coração por ele tá fazendo aquilo comigo. Enquanto ele me machucava ele falava: 'Você vai ser minha para sempre, você não vai pertencer a ninguém'. Quanto mais o tempo passava, mais eu queria está morta".

"Eu achei que ele iria parar por ali. Mas o pior foi depois", ela olhou para mim com os olhos marejados de lágrimas. Eu estava me segurando para não abraçar lá. "Ele chamou os amigos dele, e quando eles voltaram, estavam segurando uma garrafa com um líquido dentro. Quando abriram a tampa da garrafa, senti cheiro de óleo quente".

"E foi aí que você teve as cicatrizes?", perguntei mesmo já sabendo a resposta.

"Foi, assim que consegui as minhas marcas", ela falou enquanto olhava para o nada.

******************************
Gente vou continuar no próximo capítulo, porque muito grande.
Então até a próxima.
BJS.

Marcas de SerenaOnde histórias criam vida. Descubra agora