A primeira impressão

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  Capítulo 1
   Nunca pensei que eu fosse largar a minha vidinha pacata lá em Hartford, Connecticut. Não era a melhor, mas eu já estava acostumado àquela rotina, sabe? Acordar cedo, ser zoado pelo pessoal da escola, ser elogiado pelos professores, ser zoado ainda mais por aqueles idiotas e voltar para casa após o treino de futebol. Era uma vida normal, até minha mãe ser transferida.
   Logo eu, Ned Foster, tive que ir para Lincoln, Nebraska. Além de me mudar para um lugar tão distante e, para mim, tão desconhecido, fui obrigado a estudar na Lincoln High School. Não que eu tenha algo contra esse colégio, mas as histórias que eu escutei de lá são insanas. Aparentemente, a LHS é uma escola de adolescentes descolados e extrovertidos que topam qualquer aventura atrás de adrenalina.
   Justamente o garoto mais sem graça da América foi para a escola mais desejada pelos estudantes. Qualquer filho ficaria feliz vendo a mãe trabalhando em uma ótima empresa e fazendo o que ela gosta, mas eu não fico tão alegre assim. É claro que fico feliz vendo ela realizada, mas odeio a empresa onde ela trabalha. A todo momento surge uma nova filial e é ela que é transferida.
   A cada ano, nós nos mudávamos. O único lugar que fiquei por mais tempo foi Hartford, por isso achei que nunca mais sairia de lá. Eu amo minha mãe, mas gostaria de passar mais de dois anos em um lugar, pelo menos uma vez na vida. Chegando em Lincoln, tive tempo para conhecer a cidade antes de as aulas começarem. Admito que minha primeira impressão foi boa, muito boa aliás. Até chegar o primeiro dia de aula do terceiro ano do ensino médio.
   Antes de a aula começar, precisei ir na diretoria pegar a ficha de transferência e por isso me atrasei para a aula do Sr. Morrison, professor de História.
Entreguei a ficha a ele:
- Prazer, Ned Foster.
- Prazer, me chamo Alex Morrison como você já sabe. Bom, Sr. Foster, você se importa de se apresentar para a classe?
- Claro que não.
- Silêncio, turma. Diga seu nome, sua idade e de qual escola você veio.
- Me chamo Ned Foster, tenho dezessete anos e vim da Darthmouth High School de Hartford, Connecticut.
Um murmurinho tomou conta da sala.
- Silêncio, silêncio. Alguém tem alguma pergunta para o Sr. Foster?
Neste momento, uma menina loira que estava sentada no fundo da sala levantou a mão.
- Pode falar, Chloe.
- Oi Ned, me chamo Chloe Martin e só queria saber por que você se mudou para um lugar tão distante de Connecticut?
- Bom, minha mãe foi transferida para uma filial dessa cidade e eu vim acompanha-lá.
- Ah, que bom.
  Todos riram, o que me levou a crer que ela tinha sido sarcástica. E confirmei isso quando o Sr. Morrison disse:
- Chega de gracinhas, Sra. Martin.
No intervalo entre as aulas, um garoto veio até mim e começou a conversar comigo:
- E aí Fred?
Não olhei para ele.
- Ted?
Continuei sem olhar para ele.
- AH! Ned! E aí, Ned?
- Olá.
- Tudo beleza? Me chamo John Underwood.
- Está tudo bem. Muito prazer.
- Vamos ao que interessa então. Olha, eu não sei como funcionava lá na sua escola de maricas, mas aqui temos uma escala muito simples.
- Que tipo de escala?
- De popularidade, cabeção. Aqui nós temos no topo: a elite, onde eu estou aliás. Abaixo aparecem os medianos, que não incomodam a elite, mas também não se envolvem com pessoas como você. E, por fim, a porcaria, onde você está. Agora que você já sabe como funciona, vou te mostrar onde cada um dessa sala está.
Ele começou a apontar para as pessoas e classificá-las de acordo com aquela escala. Para resumir, os garotos mais descolados e fortes junto com as meninas mais bonitas faziam parte da elite. Os que não chegavam a ser tão bonitos ou atraentes eram os medianos. Já a porcaria era formada por, basicamente, nerds, geeks, pessoas acima do peso e estranhas. No fim, John mencionou a Chloe.
- Sabe aquele menina que te fez uma pergunta no início da aula?
- Sei, a Chloe.
- Isso mesmo. Preciso te avisar que ela é, simplesmente, a menina mais popular desse colégio. As meninas querem imitá-la e os garotos querem ficar com ela, mas você não terá chance alguma.
- Isso eu que decido, Underwood. – disse Chloe enquanto empurrava John para o lado.
- Oi, Ned. Lembra de mim?
- Lembro sim. Foi você que debochou da minha transferência para essa escola.
- Na verdade é sobre isso que eu queria falar com você.
- Olha, se for mais alguma piadinha,  eu nem quero saber.
- Não, não é nada disso. Eu realmente achei legal você vir para cá com sua mãe. Eu não percebi que soava como deboche, mas juro que falei com a melhor das intenções.
- Tudo bem.
- Podemos começar de novo?
- Claro. Prazer, sou Ned Foster.
- O prazer é todo meu, Ned. Aliás, me chamo Chloe Martin.
E nós fomos conversando até o final da aula...
- Bem, aparentemente, você não liga para essa escala, não é?
- É. Essa escala é para idiotas, feito o John, acharem que são superiores aos outros.
- Concordo, porém parece que todos aqui seguem essa escala como se fosse uma regra. Preciso me preocupar com o fato de eu estar falando com alguém da elite?
- Claro que não. Eu sei que o John falou aquelas besteiras para você, mas não esquenta com isso.
O sinal tocou e nós fomos embora. Fui até o estacionamento para pegar uma carona com minha mãe e acabei dando de cara com o John e outros dois caras que reconheci por serem da elite. Eles me cercaram.
- Algum problema? - perguntei, como se não fosse óbvio que tivesse um problema ali.
- Qual é, marica? Tá brincando com a gente? Você não prestou atenção em nada do que eu disse?
- Eu prestei atenção sim, mas não significa que eu vá seguir essas sua regras idiotas.
- Como é que é? - perguntou um dos amigos de John, acho que seu nome era Jack. É, com certeza era o Jack. E aí, outro da elite se meteu na conversa:
- Esse aí perdeu a noção do perigo, galera.
Nesse momento, John pegou a gola da minha camisa, bufou e disse:
- Olha aqui, seu moleque, eu não quero saber de onde você veio e nem o que você era na sua escola, mas aqui você obedece a mim e qualquer outro da elite, como o Jack e o Joe. Você não pode falar com alguém da elite. Fale com pessoas do seu nível, a porcaria. Se afaste da Chloe e dos outros populares ou terá confusão conosco.
Depois de seu discurso, ele, Jack e Joe foram embora. Minha mãe chegou quando eles estavam saindo e me perguntou se eram meus amigos. Eu só consegui dizer:
- Claro que sim.

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