Capítulo 1

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Travis e Madison decidiram se esconder em uma das casas perto da Colônia para passar a noite. Alicia apenas concordou. Não tinha forças para discordar da mãe e do padrasto. Quando anoiteceu e os dois foram para um quarto, ela sentou-se na varanda da casinha e observou as estrelas.

Pensava em Andrés. Ela enfiara uma faca no peito do único médico que o hotel possuía. Ele possivelmente estava morto, assim como seu irmão. Alicia não gostava de jogar a culpa em ninguém, mas ela sabia qual era a razão daquilo tudo.

Travis.

Sentiu as lágrimas virem e as permitiu cair. Ela gostava muito do padrasto e sabia que Travis também gostava dela. Embora a relação dos dois nunca tenha se aprofundado, eles tinham interesses em comum. Ambos queriam proteger sua família. Travis tinha obrigação para com Chris, e era por isso que ele assassinara tão violentamente aqueles dois garotos barulhentos. Alicia, apesar de tudo, queria sua mãe a salvo e sabia que Travis queria o mesmo.

Com um objetivo em comum, os dois iriam longe. Se não mencionassem o ocorrido no hotel, poderiam chegar à fronteira e encontrar Nick. Voltar a ser uma família. Esquecer o que aconteceu no México e entrar de novo nos EUA. Alicia via oportunidades nisso, embora não quisesse. Não queria ficar com tudo entalado na garganta antes de seguir em frente.

Alicia dera a ideia de fugirem com Travis porque sabia que nem ela nem a mãe sobreviveriam com outros por muito tempo — não enquanto não achassem seu irmão. Madison iria longe para encontrar o filho mesmo que as consequências fossem desastrosas. Mesmo que matasse sua única filha.

— Não pense assim. — Alicia enxugou as lágrimas com a manga da blusa. Precisava se repreender. Depois da conversa franca que ela e a mãe tiveram no cais do hotel, não conseguia olhá-la da mesma maneira que antes. — Ela não faria isso.

— Quem não faria o que?

Uma voz surgiu das sombras, assustando Alicia. Ela engoliu em seco e sua mão foi direto na faquinha borboleta guardada em seu bolso direito. Não era nem Travis ou sua mãe. De fato, não parecia vir de dentro da casa e sim da rua. Uma lanterna iluminou o rosto de Alicia e a garota ficou cega por alguns instantes.

— Olha, se essa é a sua casa, nós podemos sair e... — Alicia disse assim que conseguiu visualizar quem lhe dirigia a palavra. Era uma garota, talvez um pouco mais velha que ela própria, que usava uma jaqueta de couro desgastada. Para sua surpresa, ela tinha um sorriso preguiçoso no rosto.

— Calma lá, criança — riu a garota. Alicia se irritou com o apelido. — Venho em paz. Estou numa casa a poucos metros daqui. Vi vocês chegarem. Está com os seus pais? Eles parecem gente boa. Não conversam muito.

— Deveria ter nos cumprimentado enquanto era dia — retrucou Alicia, mal-humorada. — Qual o seu nome?

A garota ergueu os braços em modo de rendição, mas sem tirar seu sorriso idiota do rosto. Ela deixou a lanterna na varanda da casa, tirou uma escopeta das costas e sentou-se ao lado de Alicia.

— Elyza. — Ela estendeu a mão para Alicia, que aceitou meio estupefata. — Elyza Lex. Você é....?

— Alicia Clark — respondeu a outra, finalmente percebendo alguns traços do rosto da estranha.

Elyza tinha os cabelos longos e dourados, que refletiam a luz da lanterna. Seus olhos azuis possuíam um brilho voraz, como se ela estivesse pronta para sair em uma aventura. Havia alguns machucados e cicatrizes em seu rosto, mas nada que comprometesse sua beleza. Na verdade, se era possível, deixavam ela com um encanto selvagem.

— Você não é daqui — disse Alicia depois de alguns minutos. Ela percebeu que estava encarando Elyza e desviou o olhar.

A outra garota deu uma risadinha.

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