Capítulo 5

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Como se esperasse Alicia, Elyza estava na varanda da casa que ocupara. Não havia nada que a separasse dos infectados, mas mesmo assim a garota parecia relaxada. Alicia não deixou de sentir um pouco de inveja. Queria se manter tranquila assim enquanto o mundo acabava ao seu redor.

— Boa noite. — O sotaque de Elyza se intensificou durante a saudação. Ela deitara no sofá da varanda e colocara novamente a jaqueta de couro.

— Olá — Alicia cumprimentou de volta e parou timidamente no portão. — Se importa se eu passar um tempo aqui?

— Cansou dos dramas familiares? — Elyza não deixou que ela respondesse: — Claro que pode. Se quiser, podemos ir para dentro.

— Não... não precisa. A noite está bonita demais para desperdiçá-la.

Elyza abriu um sorriso. A garota sentou-se no sofá e chamou Alicia para se juntar a ela. Alicia não negou a oferta. As duas ficaram lado a lado, cada uma com uma postura diferente: Alicia estava envergonhada demais para dizer algo e Elyza mantinha sua atitude desbocada e atrevida.

Elas permaneceram em silêncio. Alicia não conseguia sequer olhar para a companheira sem sentir a vermelhidão em seu rosto. Por algum motivo, sabia que Elyza estava aproveitando cada minuto daquela falta de interação.

A noite estava bonita. Alicia pensou novamente nas noites de Los Angeles, sempre tão barulhentas e poluídas. Tijuana possivelmente teria noites do mesmo estilo, mas agora tudo estava acabado. Não tinha mais carros, vozes felizes, gente caminhando por aí... não tinha mais sociedade. Era só ela, o silêncio e a noite.

E Elyza.

— Há quanto tempo está nessa casa? — Alicia resolveu quebrar o silêncio. Não adiantaria de nada ficar ali sem nenhuma palavra ser dita.

— Desde o começo de tudo — respondeu Elyza. — Eu morava aqui. Sempre morei, desde que vim da Austrália.

— Achei que...

— Não, a Universidade de Tijuana não oferece alojamento para todos. Tive que alugar minha casa na cidade. Aqui era o aluguel mais barato.

— Ainda tem água quente? — Alicia lembrou que Elyza aparecera durante a tarde com roupas limpas. — Cara, nem sei qual foi a última vez que tomei banho.

— Dá para perceber que faz um tempinho — alfinetou Elyza. Alicia lançou um olhar irritado para a garota. — Água quente vai e vem. Se quiser, pode banhar aqui.

— Isso não é uma cantada, né?

Elyza gargalhou gostosamente.

— Se você quiser, pode ser. Eu não tinha essa intenção. Não agora. Enfim, você pode banhar. Eu te empresto uma roupa.

Alicia ficou agradecida quando Elyza se levantou e pediu para que seguisse ela para dentro. A casa era muito espaçosa e bem organizada. Havia uma televisão grande na sala e um videogame. A cozinha guardava uma coleção considerável de alimentos enlatados, algo que, de acordo com Elyza, levou menos de uma semana para garantir. Sem segundo andar, a casa tinha apenas um quarto com banheiro e uma porta que levava até a garagem.

— Durmo em um colchonete na garagem hoje em dia — confessou Elyza ao terminar a tour com Alicia. — Sempre tenho uma mochila comigo, além de estar ao lado da minha moto. Precaução sempre.

Alicia assentiu. De repente, sentiu falta de seu quarto em Los Angeles. Não era mais seguro com os militares, mas tinha suas coisas favoritas e era sua casa. Desejou não ter saído de lá. De novo, sentiu uma pontada de inveja de Elyza. Tudo no fim do mundo parecia ter sido adequado para que Elyza continuasse a ter uma vida confortável.

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