Capítulo 3

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— Deveríamos ter pensado em um plano mais detalhado — comentou Alicia.

— Ou alguém devia ter ficado quieta quando eu mandei ficar quieta, porra! — Elyza sibilou.

Alicia deu de ombros e educadamente ignorou a alfinetada.

— Estamos dentro, não estamos? É melhor que nada.

— Não foi exatamente assim que planejei nossa entrada.

— É, as algemas são um contratempo.

— Um contra...? — Elyza suspirou, lívida de raiva. Levou alguns segundos para que ela pudesse encontrar sua voz. — Somos reféns dos mercenários, Alicia! Estamos num cômodo menor que um banheiro, sem nenhuma ideia real de onde seu irmão está ou se sobreviveremos a esses merdas! Algemas são os menores de nossos problemas, caralho!

Seu comentário tinha um tom sarcástico, mas Alicia imaginou que o estresse de Elyza não a permitisse escutá-la direito. Depois de passarem pela fronteira dos EUA, as duas andaram pouco. Três caras enormes toparam com elas no deserto mexicano e logo as renderam.

Elyza não aceitou bem a derrota ou ter suas armas roubadas pelos homens. Foi murmurando palavrões o caminho inteiro até o acampamento dos bandidos e só não chutou um deles porque Alicia percebeu o que ela faria e pulou na frente. Sua perna esquerda agora tinha um roxo abaixo do joelho.

Alicia, bem menos esquentada que Elyza, raciocinou o caminho todo. Elas andaram por cerca de uma hora e meia para o noroeste. Os mercenários levaram as duas em uma camionete por vinte minutos ao norte. Os homens não tiveram o trabalho de vendá-las, por isso Alicia estudou o que via assim que se aproximaram de uma construção mais parecida com um forte da Guerra Civil.

Não tinha como os mercenários terem construído aquela edificação depois dos infectados, ela pensou. Ao passarem pelo portão de madeira, Alicia percebeu que os muros haviam sido reforçados recentemente. Não havia muita gente para recebê-los. Os homens que haviam sequestrado as garotas as tiraram rudemente da camionete e as empurraram até uma minúscula casa.

E ali estavam, horas depois, ainda discutindo sobre o assunto. A madeira impedia que grande parte da luz das lanternas e lampiões que iluminavam o pátio do forte entrasse no casebre. Elyza e Alicia estavam uma de costas para a outra e mal dava para que cada uma pudesse esticar as pernas. Ao tentar deitar sobre as mãos algemadas, Alicia teve que ficar em posição fetal.

Foi quando um clique no chão de terra a fez acordar por completo. Alicia se ajeitou novamente e viu o que caíra de seu bolso: a faca borboleta! Como que pudera se esquecer dela? Com cuidado, ela puxou a faca para a sua mão e cortou a algema que a prendia. Elyza, virada para o outro lado e emburrada demais para dizer algo, sequer percebeu que estava livre das amarras.

— Elyza! — sussurrou Alicia para que a garota notasse a recente liberdade.

— Como...? — Elyza se assustou e movimentou os pulsos, duros depois de tanto tempo presos. Alicia mostrou a faca borboleta com um sorriso. — Eu deveria arranjar um canivete.

— O que fazemos para sair daqui?

— Não sei... — Elyza se levantou e forçou a porta de madeira. — Trancada por fora. Óbvio. Sabe-se lá quantos caras eles têm aqui. Sem minhas armas, é um tiro no escuro.

— Está amanhecendo — observou Alicia, notando as luzes entrarem cada vez mais pelas frestas do casebre. Então, lembrou-se de Madison, provavelmente ainda dormindo na casa próxima à Colônia. — Merda. Minha mãe vai ficar louca quando descobrir que não estou lá.

we were right on the borderOnde histórias criam vida. Descubra agora