Capítulo 1

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- Majú, você não vai comer?
- Não, tia Helena. Tô sem fome,valeu.
- Majú, você não comeu nada desde ontem à noite.- Diana disse.
Peguei uma maçã e dei uma mordida, antes de devolvê-la para a fruteira.
- Já comi sim.- Eu disse.
Minha prima fez cara de nojo e jogou a maçã no lixo.
Subi para me trocar. Coloquei meus jeans rasgados, minha camiseta do Nirvana e o All Star sujo.
Peguei a minha mochila e o meu skate e fui para a praça. A praça de todos os lugares, era o meu favorito. Eu só... Sentava embaixo da árvore e escutava música.
Eu coloquei meus fones e o meu caderno de desenhos e assim que a música tocou- Iron Man, do Black Sabath- comecei a rabiscar.
Alguém sentou ao meu lado e assim que vi quem era, o abracei.
Leo disse algo que não pude escutar, então perguntei o que ele tinha falado e ele tirou meus fones.
- Você sabe que eu odeio quando fazem isso.- Eu disse, fingindo estar brava.
- Se eu não fizesse isso, a vizinhança inteira escutaria você gritando "O quê?!"- Ele disse imitando minha voz.
Ri.
- Eu não falo como uma velha surda.
- Eu disse que tá bonito.- Ele disse apontando para meu desenho.
- Valeu, cabeção.- Brinquei.
Olhei para a caveira com uma flor na cabeça que eu havia desenhado. Tinha ficado legal. Mas acho que eu conseguiria melhorar. Desenhei um buraco no crânio dela na parte em que a flor estava, então a cabeça da caveira virou um tipo de vaso.
- Desse jeito ficou melhor.- Leo disse sorrindo.- Ei! Aposto que daqui a pouco acontece algo entre mim e a Amanda.
Ri.
- Ah é? Por quê?
- Ontem encontrei ela no shopping e trombei com ela. Ela tava a maior gata, e depois que eu ajudei ela a pegar as compras, ela me beijou.
Arregalei os olhos, e comecei a rir.
- Ela te beijou onde?
Ele corou um pouco.
- Na bochecha... Mas faltou um centímetro para ela beijar minha boca.
Ri. Essa garota era a maior patricinha. Os únicos lugares que vimos ela foi em um desfile de moda que minha prima participou e no shopping.
Olhei para o  relógio. Já eram sete horas.
- Vamos, estamos atrasados.
Pegamos os skates e apostamos uma corrida até a escola. Eu estava ganhando, e se um idiota não tivesse aparecido na frente do skate, eu teria esfregado na cara do Leo que ele era um perdedor.
Enfim, o cara apareceu na minha frente e eu caí no chão, e meus livros e desenhos também.
- Ai!- Eu praticamente gritei.
- Desculpa!- Ele disse.- Eu tô um pouco atrasado e não vi você passando.- Ele estendeu a mão para me ajudar, mas eu me levantei sozinha.
Comecei a pegar as minhas coisas e ele fez o mesmo.
- São muito bons.- Ele disse olhando para alguns desenhos meus.
- Para.- Eu disse.
- Eu te ajudo.
- Eu não quero sua ajuda.
- Tá bom. Mas são muitos.
- Eu já falei que eu não quero a sua ajuda.
- Okay... Bom, tchau. Me desculpa mais uma vez.
Ele pegou a mochila e saiu andando. Eu peguei tudo e corri para a escola.
Quando eu cheguei, corri até a sala, mas a professora disse que eu tinha me atrasado e que teria que pegar uma autorização de entrada na secretaria.
Eu a peguei e entreguei para a professora, que disse para eu me sentar no fundo da sala. Eu coloquei o fone de ouvido e aumentei o volume ao máximo.
A professora me fez uma pergunta que eu não escutei. Eu fiz o mesmo que o Leo disse que eu fazia na praça, e gritei "O quê?!". Todos riram, e a professora então, pegou meus fones e meu iPod e disse que só os devolveria no dia seguinte.
Ela repetiu a pergunta, que eu não entendi.
- Se prestasse atenção na aula, ao invés de ficar escutando músicas repugnantes, saberia me responder.
- Rock não é repugnante. Sua aula é.
Ela ia falar algo, mas eu a cortei.
- Se eu não sei, me ensine, afinal, esse é o seu trabalho.
Ela foi até a mesa e acho que ia escrever uma ocorrência, mas Leo me salvou. Ele jogou um avião de papel, que parou no cabelo da professora.
Ela começou a brigar com os alunos perguntando quem havia feito aquilo, e os ameaçando, deu um discurso, o que fez com que ela esquecesse da minha ocorrência.
- Foi você, senhorita Mariote?
Franzi a testa.
- Por que justo eu?- Perguntei.
- Porque já no primeiro dia de aula, aprontou mais vezes do que posso contar em meus dedos.
- Qual é! Primeiro: Me atrasei porque trombei com um idiota. Segundo: Eu estava ouvindo música porque o Leo me explica a matéria bem melhor que você.- Nessa hora, Leo abaixou um pouco, pois todos olharam para ele.- Terceiro: Eu não disse nada que não fosse verdade.
- Olhe aqui, senhorita Mariote, eu só não mando um bilhete para sua família hoje, porque é o primeiro dia de aula.- Ela disse me fuzilando com os olhos.
- Obrigada, senhora Vasconcelos. É muito gentil da sua parte.- Zombei. Ela me ignorou e voltou a dar aula.
Me virei e sussurrei um "Valeu" para o Leo, que me falou que eu estava devendo essa pra ele.
Fiquei azucrinando os outros alunos com bolinhas de papel a aula inteira, o que me fez ir para a diretoria. Aquela diretora tinha um coração de manteiga, então foi só eu pedir desculpas que ela me liberou.
Quando eu voltei para a sala de aula, a professora estava formando duplas.
- O que tá acontecendo?-Perguntei para a professora.
- Estou formando duplas para um trabalho.
- Ótimo, eu vou com o Leo.
- Eu estou escolhendo, senhorita Mariote.
Bufei.
- Você vai com o Lucas.
- Quem é Lucas?- Perguntei.
- O aluno novo.- Ela disse apontando para alguém.
Quando segui o dedo dela quis me jogar pela janela.
- Sério?

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