Capítulo 15

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 Comecei a suar. Eu estava muito nervosa para aquilo. Eu não ia conseguir.

 - Ei.- Ouvi o Lucas me chamando. Me virei.- Tá tudo bem?

 - Não. Eu estou muito nervosa. 

 - Ei, por quê? Você não liga para o que os outros pensam de você, né?

 - Não. Mas se eu me der mal, a banda vai por água a baixo.

 Ele sorriu.

 - Relaxa. Você vai se sair bem. Quando eu apresentar a gente você entra, okay?

 Concordei com a cabeça. Ele bagunçou meu cabelo e foi se arrumar. Coloquei uma calça preta rasgada e uma camiseta cinza na qual estava escrito: " I speak fluent sarcasm ".

 Olhei para as pessoas na festa. Era muita gente. De repente o Lucas entrou no palco e disse:

 - Eai pessoal! Eu sou o Lucas, e todos nós formamos a Stupid Mind!

 Todos começaram a bater palmas e eu corri até ele. Antes de a nossa vez chegar, ele se virou para mim e disse:

 - Só não olhe pra eles. Olhe pra mim.

 E ele começou a cantar. A voz dele me tranquilizou um pouco. Na minha vez, eu fingi que estava em um dos ensaios e comecei a cantar. No começo eu estava meio tímida, as depois que soltei a voz todos bateram palmas. Quando a última música acabou, eu disse:

 - Oi pra todo mundo, eu sou a Majú. Nós vamos dar um tempo, mas daqui a pouco voltamos. Queremos agradecer a todos os organizadores da festa por nos fornecer o palco para que realizássemos a nossa primeira apresentação!

 Todos bateram palmas e então saímos do palco. Começamos a pular e a comemorar. Tudo tinha dado certo, mas ainda tinha a última parte da festa. Fomos todos comer alguma coisa, pois com toda aquela agitação não comemos nada desde o café da manhã.  Pedimos pizza e bebida. A bebida não chegou mesmo depois de pedirmos novamente, então eu fui no barzinho que tinha perto da mesa. Assim que eu peguei as bebidas, um cara chegou e pegou algumas da minha mão. Eu ia começar a xingá-lo, mas ele perguntou se eu não queria ajuda. Geralmente eu não aceitaria, mas eu com certeza derrubaria tudo no chão se levasse sozinha.

 - Você mandou muito bem, Majú.- O cara disse.

 Franzi a testa, me perguntando como ele sabia meu nome. Como se tivesse lido meus pensamentos ele disse:

 - Você... Disse que era a Majú lá no palco. 

 - Ah! É verdade.

 Ele riu e colocou as bebidas em uma mesa vazia que estava perto. Ele se virou e começou a se aproximar de mim. 

 - Já te disseram que você é muito gata?

 Fiz uma careta. Ele se aproximou mais, mas eu desviei.

 - Cai fora, babaca.

 - Tá se fazendo de difícil, gatinha?

 Vi o Lucas e o Caio se aproximando de longe. Eu não queria começar com uma ceninha, então chutei a canela do garoto, que por sinal eu nem sabia o nome, peguei as bebidas e fui até a mesa. Ao passar pelos garotos, que estavam parados no meio do caminho, olhando para o cara se contorcendo de dor, meio confusos, eu perguntei se eles iam me ajudar ou não. Eles pegaram algumas bebidas que estavam na minha mão e começaram a rir. Quando o Cajú viu a cena, ele subiu no palco e começou a dizer:

 - Se eu fosse vocês, eu não daria em cima da Majú como aquele cara fez.- Ele apontou para o garoto, que estava sentado com a mão na perna com a cara fechada.- Ela vai nocautear vocês antes que vocês consigam alguma coisa.

 Todos riram do comentário e o cara saiu mancando. Apoiei a cabeça nas minhas mãos. Não é que eu não estava gostando, mas eu preferiria mil vezes ficar em casa escutando música em paz. 

 - Tá entediada, Ruivinha?

 - Eu não entendo como as pessoas gostam de festas. São lugares lotados, onde todos estão sempre bêbados. 

 Ele riu, se levantou e apontou para a pista de dança. 

 - Vamos dançar.

 Foi a minha vez de rir.

 - Eu não danço.

 Ele me puxou. 

 - Qual é, Ruivinha. Vamos dançar.

 Continuei negando e me sentei na cadeira novamente. Ele me puxou mais uma vez, e desta vez eu não consegui escapar. Antes que eu conseguisse, eu já estava na pista. O Lucas fez uns passos toscos de robô, me fazendo rir. 

 - Olha que música ruim está tocando. É música de balada. É horrível. Meu cérebro vai explodir.- Eu disse tapando os ouvidos.

 Ele riu.

 - Que tal se você dançasse só hoje? Só agora? 

 - Eu não vou dançar. Eu já disse que não danço.

 De repente começou a tocar música lenta.

 - O que é isso?- Eu disse rindo um pouco.- Eles tocam música lenta aqui?

 - Sim...- Ele pegou minhas mãos e enlaçou elas no pescoço dele, e colocou as dele na minha cintura.

 - Ah! Não!- Eu disse rindo.- Sério?

 Ele riu. 

 - Sério.

 Eu tentei me afastar, mas ele não deixou.

 - Lucas!

 - Qual é! Só essa música!

 Olhei para os olhos verdes dele e revirei os meus.

 - Só essa.

 Fiquei inquieta. Aquela música era infinita? Quando ela ia acabar? 

 O Lucas me puxou para mais perto. Ele encostou o queixo na minha cabeça.

 - Ei! Não faz isso! Eu me sinto baixinha!

 Ele dobrou os joelhos, ficando da minha altura. Ri. 

 - Ficou melhor assim? Vou dançar deste jeito, agora.

 - Levanta.

 Ele voltou a posição normal.

 - Essa música vai acabar quando?

 - É tão ruim assim dançar comigo?

 - Você tá pisando nos meus pés a cada dois segundos. Vou ter que amputar eles.

 Ele riu.

 - Pra quem não dança você está se saindo muito bem.  

 - Melhor que você, eu sei que eu sou.

 Ele riu um pouco.

 - A música já acabou. Quero dizer, a duas músicas atrás.

 Arregalei os olhos.

 - Ei! Por que não me disse antes?- Disse, fingindo cara de brava.

 - Porque eu gosto de pisar no seu pé.- Ele disse.

 Ri um pouco e voltei para a mesa.

 A banda tocou pela segunda vez e eu voltei para casa antes do meu tio. Pelo visto um cara tinha gostado de nós e estava oferecendo um lugar para o nosso primeiro show. O Lucas me acompanhou, já que estava cansado e não aguentava mais ficar ouvindo música de balada.

 - Odiou a noite, hein, Ruivinha? 

 - Antes eu disse que odiei a festa, mas isso não quis dizer eu odiei a noite.

 Ele sorriu e me deu um beijo na bochecha.

 - Que intimidade toda é essa, senhor?- Brinquei.

 Ele achou que eu estava falando sério e ficou gaguejando, todo envergonhado. Quando eu ri ele percebeu que eu estava tirando uma com a cara dele.

 - Boa noite, Ruivinha.

 - Até mais, bobão.

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