Capítulo 2

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- Sente-se ao lado da sua dupla, Mariote.
Fui lentamente para lá.
- Um idiota trombou com você, né?- Ele riu.
- Sim, idiota até demais.
Ele estendendeu a mão para mim.
- Vai apertar desta vez?
O ignorei e peguei meu caderno de desenhos.
Ele deu de ombros e pegou o iPod dele. Não pude deixar de sentir inveja. Assim que percebeu que eu estava encarando, Lucas estendeu o aparelho.
- Quer escutar?
- Você só deve ter músicas ruins.
- Vê se aprova.
Olhei para os olhos verdes dele e peguei o iPod.
- Black Sabath?! Nirvana?! Foo Fighters?! Jimi Hendrix?! E Red Hot Chilli Peppers!- Não pude deixar de sorrir um pouco.
Ele riu.
Fiquei séria imediatamente.
- Qual é a graça?
- Não é impossível fazer você sorrir.
- Você não me fez sorrir. Suas músicas fizeram.- Disse jogando o iPod na mão dele.
- Não vai querer escutar?- Ele perguntou.
Olhei para o fone. Eu não ia fazer isso. Ia ferir o meu orgulho. O ignorei e voltei a desenhar. Ele colocou o fone no ouvido e começou a marcar o ritmo. Ok. Aquilo era tortura. Olhei para ele e ri da simulação de guitarra que ele estava fazendo. Ele deve ter ouvido porque olhou para mim com um sorriso e coçou a cabeça, envergonhado.
- Continue com o seu showzinho. - Zombei.
- Só se você participar dele.- Ele disse com um sorriso enorme no rosto.
Meu sorriso desapareceu. Eu não tinha feito ninguém que não fosse o Leo ou da minha família sorrir antes. Percebi que meu orgulho já tinha ido embora.
- Pare de ser anti-social e pega logo o fone.- Ele disse.
Peguei o fone e comecei a cantarolar baixinho Monkey Wrench do Foo Fighters.
Lucas me olhou sorrindo, o que me fez parar.
Ele fez mais um show com a sua guitarra imaginária e tirou o fone para copiar a matéria.
- Não vai copiar?- Ele me perguntou.
- Não sou certinha igual a você. Sem falar que é só escrevermos algo que a professora goste e como mágica tiramos dez.
Ele riu.
- Temos que fazer uma maquete.
Franzi a testa e olhei para a lousa. Tínhamos que ler o livro que a professora nos daria para lermos e fazer uma maquete de um dos espaços citados no livro.
- Droga... Isso vai demorar.
- É tão ruim assim ficar comigo?
Fiz uma careta.
- Só de olhar para a sua cara de babaca me faz querer vomitar, então, sim. É ruim assim ficar com você.
Ele riu.
- Não vou copiar. Estamos fazendo dupla, certo? Então eu vejo o que temos que fazer no SEU caderno depois.
Afastei a cadeira e coloquei os pés na mesa.
Ele riu, e eu roubei o fone de ouvido que ele estava usando, ficando com os dois.
- Ei!- Ele gritou, fazendo a professora se virar, ver minha posição e tirar o iPod do Lucas de mim.
- Já chega! Peguem as suas mochilas e vão para a diretoria! Os dois!
Enquanto Lucas ia para a diretoria, eu ia na direção oposta.
- Onde você vai?- Ele perguntou.
- Vou sair da escola. Tchau, otário.
E corri para fora daquele inferno.

Eu fui para a praça e fiquei observando as pessoas passando. Quando fiquei entediada, e percebi que já era para eu ter saído da escola, fui para casa. Assisti um filme e fui pro meu quarto. Liguei Nirvana e aumentei o volume.
- Desliga essa música, Maria Júlia!!!- Diana gritou.
- Pode deixar!!!
Eu aumentei o volume e esperei que ela viesse até mim. Quando ela abriu a porta violentamente, pulei em cima da cama e comecei a dançar. Fiz uns passos de dança toscos, o que a animou e a fez dançar comigo.
Ouvimos a música baixar o volume e olhamos na direção do aparelho de som.
- Ei!- Gritei para minha tia.
- A música está muita alta.- Ela disse.
Bufei e me joguei na cama.
- Majú! Ligaram da sua escola e disseram que você saiu de lá porque estava passando mal.
Quê? Eu não tinha dito para ninguém que estava passando mal. O Leo deve ter me ajudado e mentido para a professora...
- Pois é... Sabe tia Helena? Eu não tava me sentindo muito bem hoje... Tava com dor de cabeça, enjoo... Tanto que eu acabei vomitando...- Disse fazendo uma careta.
Ela ficou preocupada na hora, foi fazer chá, pegou cobertas e um termômetro,  e começou a brincar de enfermeira.
Ela colocou o termômetro dentro da minha boca e me trouxe o chá.
- Quando o termômetro apitar você me chama, querida.
Assim que ela saiu eu comecei a pensar. Isso seria bom... Quero dizer, eu faltaria da escola por uns dias e o idiota do Lucas faria o trabalho sozinho. Era brilhante!
Peguei o termômentro e mergulhei no chá. Pouco tempo depois, ele apitou e antes que eu chamasse, minha tia veio correndo. Juro que achei que ela fosse desmaiar. Ela ficou branca quando viu "minha temperatura".
Enfim, o plano deu certo.
- Você ficará uma semana sem ir para a escola, mocinha.
- Mas eu adoro a escola...- Disse.
Ela levantou uma sobrancelha.
- Conta outra.
Ri.
- Posso receber visitas?- Perguntei.
- Pode.
Imediatamente peguei o telefone e disquei o número do Leo.
- Leo...- Fingi voz de doente.- Eu não estou me sentindo nada bem... Minha tia disse que eu tô muito doente, pode vir aqui em casa?
Pouco tempo depois ele apareceu na janela.
Quando eu abri para ele, ele pulou para dentro do quarto e começou a passar a mão na minha testa e no meu pescoço, como se visse se eu estava com febre.
- Há-há muito engraçado, você é um ótimo ator, Leo. Como se não soubesse que não estou doente, e como se não tivesse inventado isso.- Disse com um sorriso.
- O quê? Você não está doente?
Fiquei séria imediatamente.
- Ué! Você sabia, você que disse isso para me ajudar, né?
Ele franziu a testa.
- Não fui eu que disse para a professora que você estava doente.
- Então quem foi?
- Foi o garoto novo... O tal de... Lucas. O que estava indo com você para a diretoria.
Fiz uma careta.
Por que ele me ajudaria?
Expliquei tudo para o Leo. O que eu planejava fazer por uma semana, o meu plano de deixar o Lucas fazendo o trabalho sozinho...
- Espera! Você não pode fazer isso. O cara te ajudou a escapar, Majú.
- E eu com isso? Ele me ajudou porque ele quis, eu não pedi nada.
Leo revirou os olhos.
- Você tá me devendo uma. Então, você vai ajudar ele.
- Não! Eu tô te devendo, eu não devo nada a ele!
- Tecnicamente, você deve.
Bufei. Eu estava brava com ele, como sempre ficava quando sabia que ele tinha razão.

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