Capítulo 25

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 - Majú, você tem certeza de que você não quer ficar em casa?

- Tenho, tia Helena. Eu não vou faltar por causa de um garoto idiota.

Parei na praça, no caminho. Quando vi os lírios, uma lágrima correu no meu rosto. Eu a enxuguei rapidamente. Não ia ficar chorando por causa dele. Chegando na escola, me sentei no meu lugar, e o Lucas se virou imediatamente.

- Eu realmente preciso falar com você... Majú, foi tudo um mal-entendido, você tem que me escutar!

Coloquei os fones de ouvido e comecei a desenhar. Ele segurou a minha mão, e depois de olhar fixamente para as nossas mãos dadas eu a puxei de volta.

Pedi para que a professora me mudasse de lugar, mas ela não permitiu, já que os lugares em que nos sentamos no primeiro dia seria o mesmo até o fim do ano.

- Pode ficar tranquila, eu vou te respeitar... Não vou tentar falar com você mais.- Ele disse e se virou.

Senti um aperto no coração quando ele disse aquilo. O Lucas era todo participativo nas aulas, mas naquela ele não falou nada. No intervalo o Leo foi atrás de mim.

- Fiquei sabendo sobre o que o Lucas fez... Você tá bem?

- Claro, tô até vomitando arco-íris.

- Majú... Por que você não escuta o que ele tem para te falar? Às vezes você entendeu errado, ou...

- Eu não entendi errado!- O interrompi.- Você nem estava lá para ver, afinal, onde você estava para não ir? Você sabia que era importante para mim!

- Eu... Saí com a Amy...

Dei uma risada sarcástica e andei na direção oposta.

- Majú! Qual é, desculpa.

- Vou te falar uma coisa. Eu queria que ontem tivesse sido um dos melhores dias da minha vida. E sabe o que aconteceu? Foi um dos piores. E você nem estava lá para me apoiar. Porque você me trocou pela sua namoradinha. Você não precisa das minhas desculpas. Você pode ficar com a Amanda, agora que você pode sair com ela, porque não vai mais sair comigo.

Eu fingi uma dor de cabeça e fui para casa mais cedo. Quando eu cheguei, minha tia apareceu na minha frente de braços cruzados, e disse que tinha chegado uma encomenda para mim logo depois que eu saí. Ela deixou no meu quarto, e como eu ia me trancar lá o dia todo, fui ver o que era. Quando eu cheguei lá vi uma caixa grande. Ouvi latidos vindo dela, e percebi que ela tinha alguns buracos. Olhei por um deles e vi um filhote de rottweiler. Abri a caixa para ele, que já deveria estar cansado de ficar naquela caixa desde cedo. Eu o segurei no colo, e ele me animou, lambendo minha cara inteira. Percebi um envelope grande na caixa. Fiquei me perguntando como eu não havia percebido ele ali antes. Eu abri e a primeira coisa que vi foi uma carta. Reconheci a caligrafia do Lucas.

" Não é um rottweiler grande e bravo, mas espero que goste. Consegui convencer os seus tios, e ia te dá-lo depois do show, mas os planos tiveram que mudar... Eu não espero que esse cachorrinho ou que essa carta faça mudar de ideia sobre mim porque eu sei que errei feio, mas houve um mal-entendido e eu espero que você aceite falar comigo e me deixar contar o meu lado da história.

Eu não pude te dizer de volta já que você saiu correndo, mas eu também te amo, Ruivinha. Eu sempre te amei.

Lucas. "

Eu comecei a soluçar. O cachorrinho começou a lamber meu rosto, e eu fiz carinho na barriguinha dele. Ele tinha revelado as fotos que ele tirou no nosso piquenique e me mandado também. As três fotos... Tinha mais alguma coisa dentro do envelope. Um lírio branco. O volume das lágrimas aumentaram. Tinha um bilhete nele.

" Espero que desta vez você não esmague o lírio... É algo que eu quero que você olhe e pense em todos os momentos bons que passamos. E que eles foram reais para mim. Sem nenhum pingo de mentira. "

Eu pensei em jogar o lírio pela janela. Eu realmente pensei nisso. Mas ao olhar para ele eu me lembrei da primeira vez que ele me deu um. Do piquenique surpresa que ele fez para mim. Do dia em que nadamos na casa dele. Da guerra de tinta. Do nosso beijo no final do show. Do nosso primeiro beijo. Eu não queria acreditar nele. Depois do que ele fez, eu não queria nem ao menos me lembrar que um dia eu o conheci. Mas eu sabia que não iria funcionar. Porque todos esses momentos nos quais eu citei me importavam muito.

Enxuguei minhas lágrima e pegeui o cahorrinho no colo.

- Que nome eu posso te dar, garoto?

Fiquei pensando em todos os nomes possíveis, mas não consegui pensar em nada. E então me lembrei do Lucas. Me lembrei que Led Zeppelin era a banda favorita dele.

- Vou te chamar de Zeppelin.

Eu podia negar, mas eu ainda amava o Lucas. Sempre achei 'amar' uma palavra muito forte para demonstrar os meus sentimentos por alguém, mas era essa a verdade. Ele me mudou.

Eu fui com o Zeppelin para uma loja de animais. Coloquei ele dentro da cestinha de compras da loja e comecei a colocar as coisas em outra cesta separada. Eu peguei uma bolinha e mostrei para ele. Ele não pareceu ter gostado. Não mostrou ânimo nenhum. Peguei um osso de borracha e fiz ele fazer barulho. Ele começou a balançar o rabinho e tentar pegar da minha mão. Quando fui pegar uma coleira, vi um rosto conhecido. Tentei dar meia volta, mas o Zeppelin começou a latir.

Eu voltei e comecei a olhar as coleiras ignorando ele. Ele começou a andar em minha direção, mas desistiu e deu meia volta. Me virei.

- Obrigada pelo cachorrinho...- Eu disse com um pouco de agressividade na voz.

Ele parou e se virou. Estava com uma expressão triste.

- Ele já tem um nome?

Concordei com a cabeça.

- É Zeppelin.

Ele sorriu um pouco. Eu permaneci séria.

- Pensei que sua banda favorita fosse Foo Fighters.

- Mas a sua é Led Zeppelin.- Eu disse olhando para o chão.

Ele sorriu.

- Majú, eu...

Quando eu percebi que ele ia tentar se justificar eu saí andando antes que dissesse alguma coisa. O Zeppelin ficou latindo para o Lucas enquanto eu saía. Eu paguei tudo e fui para casa. As minhas fotos com o Lucas estavam no criado mudo. Fiquei olhando para elas por um tempo. Eu peguei as três fotos, o lírio e a carta. Fui até o quintal e acendi a churrasqueira. Eu fiquei olhando para tudo. Eu podia jogar tudo. Eu podia tentar me esquecer que o Lucas existia. Eu podia. Mas eu não ia fazer aquilo. Apaguei o fogo e fui para o meu quarto. Coloquei tudo de volta no meu criado mudo e me deitei. Coloquei o Zeppelin na cama comigo. Quando ele me viu chorando, ficou lambendo meu rosto. Eu fiz carinho na barriga dele e o abracei. Ele ficou mordendo minha mão levemente. 

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