A NOVA HERDEIRA ↳ PJO

03 | Agora a parada tá séria

O cheiro de vinhas me fez cair no sono. Sempre é estranho dormir em um lugar que nunca esteve, mas hoje foi diferente. Já Mike, não parava quieto. Queria ir ao chalé do deus do sono e jogá-lo lá dentro.

O sonho foi muito estranho. O lugar era escuro, com luzes vermelhas e um cheiro desagradável:

— Me solte! — uma garota loira, um pouco mais velha que eu, gritou, ao ser atirada no chão. Pude vê-la como se estivesse na minha frente. Ela olhou para outro garoto atrás dela, ele tinha pele escura e seu cabelo estava coberto por um boné. — Você não vai sair ileso dessa!

— E você acha que isso é brincadeira? — a voz de um garoto ecoa, mas não posso vê-lo. Ele não parecia zangado, mas sim estressado e cansado de conversar ou estar ali. — Já mandei vocês se calarem. Tenham paciência!

— Você sabe quem é meu pai? — ela repreende tirando as mechas loiras, cobertas de terra, da frente do rosto apenas assoprando. — E meu avô? Eu sou descendente de Ares, paciência não tá no meu vocabulário. Sabe quem é ele? — ela aponta com a cabeça para o garoto. — Ele é descendente de Tique. Nossos poderes são maiores do que você pensa!

— Exatamente! — a voz fala, o menino permanece calado. — Vocês são descendentes e em breve vou ter vários de vocês, prontos para fazer o que planejei por anos.

—Você ficou maluco? — o moreno se manifesta pela primeira vez. — Queridinho, a gente vai sair daqui ou alguém vai nos tirar dessa merda. Não sei o que quer da gente, mas o que vai fazer é loucura.

A garota ri, mas não de alegria. É mais uma risada tenebrosa. Uma mecha loira cai por cima de seus olhos e ela assopra mais uma vez.

— Os descendentes dos deuses e deusas são a chave para uma nova era! — diz a voz em tom sombrio. — Principalmente os Raros... Ou até mesmo de semideuses. Imaginem ter aqui um filho de Hécate. Oh, espere... Eu tenho! Todos vocês, descendentes, podem ter poderes maiores ou não. Alguns são honrados e outros desprezados, sem sangue puro! Só quero terminar de uma vez com o sofrimento das pessoas.

— Quem vai acabar sofrendo é você, cara — o garoto disse com um olhar triste.

— A única coisa de que tenho certeza... — a garota continua lentamente, falando irônica e com raiva — é de que eu estou com a maior vontade de me levantar e socar essa sua cara linda.

. . .

Acordei e olhei para o teto por alguns segundos, ouvindo o barulho externo, para ter certeza de que estava realmente acordada. Quando levantei, olhei ao redor e Aimee estava me observando atentamente da cama ao lado, já arrumada. A luz que entrava pela janela dizia ainda estar cedo.

— O que foi? — pergunto assustada e ela me olha do jeito "Essa garota não é normal".

— Nada. Eu já ia te chamar porque o café da manhã vai começar. Na verdade acho que já começou. Pegue — ela joga um conjunto de roupas de camiseta laranja e calça jeans. Vi os outros campistas saírem do chalé e conversarem ou terminando de se arrumar. — Acho melhor usar. Vejo vocês dois em dez minutos no refeitório.

Como sou um pouco lerda assim que acordo, entendi apenas as palavras o básico que ela disse. Ainda estava meio atormentada e intrigada com o sonho.

— Mike? — pergunto com certo medo na voz e ele sai do banheiro. A camiseta ficou bem na medida certa.

— Ah, você acordou, garota! Pensei que ia dormir até mais tarde.

— Óbvio! Você não parava de reclamar a noite inteira! Qualquer um perde o sono — zombei e o empurrei de leve com o ombro, então entrei no banheiro.