Sobrevivemos. Ainda bem, porque se fosse para eu ser morta em uma viagem de ônibus enquanto dormisse nem queria.
Ficamos bem na fronteira de Carolina do Norte e Geórgia. Paramos na rodoviária e achamos a estrada mais próxima. Caminhamos a tarde toda até o Sol se pôr.
Na mata, havia um lago próximo, então nós instalamos. Mike simplesmente capotou e dormiu feito uma pedra.
A água do lago me fascinava. Olhei para a mesma enquanto Aimee bebia outra caixinha de suco.
— Mas isso aí não é suco de verdade, é? — perguntei e a morena riu. Sentamos lado a lado no colchão improvisado e olhamos o lago.
— 98% são, mas a gente finge que não — riu e rolei os olhos. — Quer um pouco? Só não deixa o Mike beber, senão ele surta.
Aceitei a caixinha e bebi. Nem era tão forte assim. Só era suco de uva bem doce.
— Falando sério agora, ruivinha, você tá caidinha pela Charlotte não tá? — Aimee me fitou enquanto mordia o canudinho. Fiquei vermelha. Ela ergueu uma sobrancelha para mim ironicamente.
— Eu pensei que você tava brincando com aquelas piadas!
— Eu sempre falo sério, Daph. Não tem problema você ser...
— Eu não sou! Eu já gostei de uns meninos da minha escola, mas a Charlotte é diferente — falei enquanto mexia com o cabelo e olhava para baixo. — Eu só tenho uma grande afeição por ela porque ela é linda, gentil comigo, forte e talvez, só talvez eu queira a companhia dela o tempo todo...
Aimee queria gargalhar, mas se conteve para não interromper o ronco de Mike. A empurrei de leve com o ombro.
É, talvez eu realmente tivesse uma queda pela Charlie, admito. Ela me tratava de um jeito diferente dos outros. Em todos os dias que passei treinando no acampamento ela me ajudou com estratégias e lições, mas não só isso. Eu me sentia segura e acolhida perto dela enquanto toda essa mudança de vida estava uma loucura.
Aimee tossiu se engasgando com o suco. A menina me analisou. Por um momento vi Aimee como ela realmente era por dentro. Debaixo de todo aquele sarcasmo e raiva havia uma adolescente que também sofreu por muito tempo e queria me ouvir, ajudar.
— Como é sua família, Daph?
— Normal, eu acho — disse meio confusa pela mudança de assunto. — Somos eu, minha mãe, meu pai e minha avó.
— A sua mãe é legal contigo? — assenti. Aimee abraçou os joelhos e mexeu no canudinho. — É que... Eu sinto falta da Helena, lá do acampamento.
Não a forcei a falar. Ela continuou mesmo assim. As duas tinham alguma ligação que nunca soube o que era realmente.
— Sinto que a magoei quando disse uma coisa antes de fugirmos. Não foi nada legal. Essa conversa pode parecer chata, mas eu queria te contar, sabe? Então, Dionísio uma vez me disse que minha mãe me teve por acidente. Ela me abandonou quando nasci; ele me achou e me levou ao acampamento. Não tinha ninguém capaz de cuidar de mim, até que Helena fez isso. Fui um tempo pra escola, ela trocou minhas fraldas e coisas do tipo. Aí fiz seis anos e comecei a morar no acampamento definitivo.
Arregalei os olhos.
— Ela te criou? Com a minha tia também? — perguntei ao lembrar de Helena e Beatriz. Aimee assentiu.
— Me virei sozinha depois. Alguns filhos de Atena me ajudaram no estudo e anos depois Helena voltou. Foi quando eu conheci a Charlotte. Viramos melhores amigas, fomos na missão e o resto você já sabe.
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A NOVA HERDEIRA ↳ PJO
FanficDaphne duvidava que seu destino fosse apenas aquela vida sem objetivos. O passado de seus pais ainda era suspeito, mas a menina seguiu adiante. Agora, ela mais seus dois amigos terão que encarar os próprios demônios e salvar os tão raros descendente...