Aimee me acordou no meio da noite quando paramos no carro. Se fosse alguma coisa tentando me matar ou o André batendo o carro, já era.
Resmunguei enquanto abria os olhos e via o rosto da menina.
— Ei, está na hora — ela me sacudiu. — Vamos logo.
Saí do carro e agradeci André. Mike me entregou a mochila e percebi o quanto estava frio. Deviam ser pouco mais de quatro da manhã.
— Onde estamos? — perguntei olhando os dois lados da rodovia: estrada e estrada.
— A duas horas da Pensilvânia — Mike disse. — Agora caminhamos até Maryland, depois pegamos um ônibus até a Carolina do Norte e problema resolvido.
— Fácil fácil — Aimee disse o mais sarcástica possível mesmo tendo acabado de acordar. Dava para notar o quanto o rosto dela estava inchado e rosado mais que o normal.
André deu meia volta com o carro e o observamos partir. Lancei um olhar para os meus amigos dizendo "vocês precisam dormir pra tirar essa cara de cu". Concordamos e entramos na mata.
Armamos três barracas sem muita dificuldade. Aimee fez uma fogueira e nos sentamos, observando o Sol se levantar.
Estalei os dedos e uma pequena faísca dourada surgiu. Fiz isso repetidas vezes até que o brilho fosse virando algo mais sólido e grudento, tão brilhante quanto às chamas.
— Cara, o que é isso com você? — Aimee disse nada discreta. Balancei a cabeça.
— Está... Transbordando. Tipo quando você se corta e começa a sangrar — falei baixo. Respirei fundo e o mesmo voltou preenchendo minhas veias. — Não sei como acontece.
— Você devia ter treinado mais. Mas acho que agora depende de você... — ela excitou falar, mas seguiu em frente. — Aconteceu comigo também — disse remexendo na terra, pequenos brotos cresceram. — Mas não essa coisa aí. Helena me ajudou com meus poderes na época, depois eu só deixei fluir, sabe? Não contê-los.
— Mas vem acontecendo todos os dias, aumentando.
— Olha você só pode ter a ajuda de três pessoas — Mike começou. — O Doutor Estranho, Cronos e sua mãe. As duas primeiras opções estão descartadas, então...
Por que todos agem como se Cronos estivesse morto? Quer dizer, ele está morto lá no fundo do Tártaro, mas não totalmente morto, pensei com frustração.
— Tenho que falar com a minha mãe — falei. — Como?
— Mensagem de Íris — Aimee disse procurando algo no bolso. Jogou alguns dracmas na minha direção e explicou como funcionava. Basicamente um Skype versão arco-íris.
— Podem dormir, eu perdi o sono — falei me levantando. — Fico de guarda, aí falo com a minha mãe.
Os dois assentiram e entraram nas barracas sem hesitar. Andei alguns passos testando a umidade do ar. Ainda conseguia ver o acampamento improvisado, então tudo certo.
Em um ponto da floresta, havia uma poça d'água, as folhas da árvore brilhavam em orvalho enquanto um pequenos raios de luz as atravessavam. Uma coisa que não era tecnicamente arco-íris brilhava na poça, era suficiente.
Fiz tudo o que Aimee ensinou. Aos poucos aquela poça ergueu uma imagem na minha frente, tremulada. Eu reconhecia o lugar. Era escuro e quieto: o quartos dos meus pais.
— Mãe? — sussurrei. A mesma se levantou num susto. Não é todo dia que você recebe uma mensagem do Skype mágico às quatro da manhã. — Mãe, sou eu!
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A NOVA HERDEIRA ↳ PJO
FanfictionDaphne duvidava que seu destino fosse apenas aquela vida sem objetivos. O passado de seus pais ainda era suspeito, mas a menina seguiu adiante. Agora, ela mais seus dois amigos terão que encarar os próprios demônios e salvar os tão raros descendente...