11 | Alguém chama um médico

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— Você é ele, não é? — perguntei. Aimee e Mike andavam juntos na frente. Já tínhamos viajado um dia inteiro dentro do ônibus sem perigo algum. Acho que depois de um unicórnio assassino, os monstros não querem se aproximar. — Cronos?

Por quê?

— Eu preciso te chamar de alguma coisa. Conhece Venom? Pensei que você seria ele e eu o Eddie Brock, mas pelo visto não. Você sabe mais sobre mim do que eu mesma. Já me viu tossir sangue, viu a minha mãe... Foi uma suposição simples.

E se eu for ele, o que você vai fazer?

— Eu sei lá. Te deixo aí. Já tá aí então pra que tirar né? — dei de ombros. Aimee deu um tapa na nuca de Mike e ele retribuiu com um empurrão. Os dois deviam estar brigando sobre algo mas logo deveriam esquecer.

Lydia me chamava de Kevin na época em que fiquei na cabeça dela.

— Uau, que criatividade — falei irônica. — Ah, então é passado de pai pra filho, saquei. Você não desiste nunca de tentar dominar o mundo? Quer dizer, é cansativo.

Dezoito anos sem despertar. Você nasceu e foi um bom começo... Vai tentar me matar?

— Eu não mato nem barata, imagina você — falei rindo e pensei em Boris. Lá no fundo, eu queria me livrar do unicórnio de uma vez. — E eu não me incomodo tanto assim com você. Tem uma sensação estranha aqui no fundo, mas... Não sei o que quer comigo, só pare de tentar influenciar nas minhas decisões! É irritante.

— Daph! — Mike me chamou lá na frente. Aimee se virou. — Você está bem? — assenti com a cabeça e corri até eles. — Estamos quase lá.

Caminhamos mais até chegarmos a uma estrada pouco movimentada. Do outro lado, havia uma loja do tipo "mini supermercado", de conveniência antiga. Era bem velha.

Haviam placas dizendo "ESTAMOS ABERTOS", "BEM-VINDOS À CAROLINA" e "BÚZIOS E TARÔS DA ANABEL". À direita estava um posto de gasolina, também vazio. Devia ser um ótimo lugar para se esconder.

Arregalei os olhos quando vi as montanhas altas mais distantes. Não tinha reparado naquilo. O cheiro do ambiente era estranho, mas pelo menos sabia que estávamos no lugar certo.

— Vamos entrar — Aimee disse e atravessamos. A porta rangeu ao se abrir e um soninho tocou. Além de comida pelos corredores, tinham pequenas esculturas, chaveiros, chapéus e coisas manuais de sempre.

Aimee foi direto para o caixa. Mike pegou mais comida para comprar e avistei um globo de neve com a base prateada. A figura de dentro era uma montanha e pequenos lenhadores na neve. Eu não conhecia o estado de Carolina para dizer, mas era tão bonito e brilhante que o peguei.

E enfiei dentro da mochila.

Não tinha ninguém olhando, não havia câmeras e devia ser meio caro. Não sei, foi o instinto. Mas eu queria aquele globo. Não, eu não sou mimada. Isso já aconteceu algumas vezes na escola e no shopping... Não me culpem por isso.

— Ei, Daphne! — Aimee acenou para que fosse até lá. Mike guardou as compras. O homem do caixa tinha uma touca verde, era meio amarelado e se vestia como um hippie. Não consegui ver seus olhos. — Queremos ver Anabel, Luka.

— Ela tá lá atrás esperando. Podem passar — fez um gesto com a mão em sinal de "pare". — Mas antes esvazie os bolsos, filha de Hermes.

Aimee me olhou incrédula e interessada, tirando o cabelo de trás da orelha e revelando o piercing. Mike não parecia tão surpreso. Droga, o vendedor devia ser algum semideus, vidente ou só atento demais.

A NOVA HERDEIRA ↳ PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora