Capítulo 2

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                        Narrado por Nicole:

Cá estava eu, frente a frente com meu futuro patrão, que me lançava um olhar afiado, capaz de cortar qualquer um. Eu sabia que responder àquele tom não era uma boa ideia, mas ele quem começou. E eu não aceito que ninguém me trate assim. Não sou obrigada.

— Então, senhora Bitencourt — ele disse, e ao ouvir meu sobrenome saindo daquela voz grossa, senti um arrepio percorrer meu corpo. — O que a trouxe a minha humilde residência?

Isso aqui mais parece um castelo assombrado do que uma residência. Mas, enfim...

— Preciso de dinheiro. Na verdade, não me candidatei diretamente. Pedi à faculdade que me encaminhasse e eles me mandaram para cá.

— Quantos anos você tem? Parece nova demais para esse trabalho.

— Tenho 21. Posso ser nova, mas garanto que farei um ótimo serviço.

— Faz faculdade de Medicina, certo? — ele pergunta, me estudando. Apenas assinto. — E seus pais?

Minhas lágrimas ameaçam cair, mas não posso e não vou chorar na frente dele.

— Se o senhor não se importa, prefiro não falar sobre isso.

— Mas eu me importo. Para trabalhar na minha casa, preciso saber de tudo. E, por isso, quero saber.

— Sendo assim, acho que não sou a pessoa certa para este trabalho — digo, levantando-me.

Sei que preciso de um emprego, mas não quero falar da minha família. Pode parecer uma besteira para muitos, mas não é. Desde a morte do meu pai, minha mãe voltou a se relacionar com um homem que alegava ser meu padrasto. No início, ele parecia um bom homem. Mas depois... Depois daquele dia, comecei a ter pesadelos. Não são frequentes, mas, quando ocorrem, não consigo dormir novamente.

— Espere. — A voz dele me interrompe. — Vou abrir uma exceção para você, mas posso garantir que não durará uma semana aqui.

— E por que não? — pergunto, olhando diretamente nos olhos dele. Ele desvia o olhar, como se estivesse incomodado.

— Porque você é respondona. E eu também sou, e não gosto de ser desrespeitado. Tenho regras nesta casa e gosto que sejam cumpridas.

— Quer dizer que estou contratada?

— Se passar de três dias, considere-se contratada.

— Só uma coisa: o senhor sabe que Medicina toma praticamente o dia inteiro, certo?

— Sim, não sou burro.

Alguém trocou a ferradura hoje.

— Já pensou em como vou trabalhar para vossa realeza?

— À noite, lógico. Vou te poupar e dar pouco trabalho, já que não faltam empregados nesta casa. Agora, vamos às regras.

— Regras? — pergunto, boquiaberta.

— Claro. Ou acha que quem manda são os empregados?

— Certo, quais são?

— 1ª: Jamais, em hipótese alguma, entre no meu quarto. Apenas Sônia, a governanta, tem essa permissão.
2ª: Não traga ninguém para fazer tarefas aqui; vá para a casa deles ou faça na faculdade.
3ª: As janelas nunca devem ser abertas, assim como as cortinas.
4ª: Televisão apenas até as 22h.
5ª: Quando eu peço algo, quero que seja feito rapidamente.

— Isso não é uma regra.

— 6ª: Jamais me interrompa enquanto eu estiver falando.
7ª: Problemas devem ser tratados com Sônia, não comigo.
8ª: Pode escolher apenas um dia de folga.

— Isso é tudo? Alguma pergunta?

— Isso aqui é uma casa ou um internato?

— Muito engraçada você. — Ele faz um gesto para que eu vá. — Agora pode ir. Vou pedir a Jhonatas que a leve para buscar suas coisas.

— Tudo bem. E quanto ao meu salário?

— Não seja tão apressada; nem sabemos se você vai durar uma semana aqui.

— Posso garantir que sim.

— Posso apostar que não — diz, me desafiando.

— Então podemos apostar, senhor Carter — provoquei, e vi que ele gostou da ideia.

— Ótimo. O que deseja apostar?

— Ainda não sei. Terei uma resposta até a tarde.

— Ótimo. E se eu ganhar, o que você quer?

— Quero que me conte sobre sua família. Sobre o seu verdadeiro passado.

— E por que isso lhe interessa tanto? — pergunto, alterando o tom.

Ele podia escolher qualquer coisa, exceto isso.

— Isso não é do seu interesse. Cada um escolhe o que quer em troca. — Ele me encara. — Falta você decidir.

— Ótimo. Preciso ir agora — digo, saindo da biblioteca e indo para a sala, onde havia um homem que parecia ter uns 50 anos.

Como ele avisou esse homem sem sequer pegar o telefone? Não poderia ter chegado tão rápido... Ou será que sim?
 
                                           🥀

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