Havia chutado a bola e ela rolou até o meio da rua de pedras.
Fui pega-lá e vi um carro indo em disparada na minha direção.
Depois senti mãos me carregando e me salvando.
Era um homem alto... bem, para mim era alto já que eu era apenas uma garotinha de cinco anos, seus cabelos negros com talvez um pouco de grisalho escondia pouco de seu rosto, mas o que ficava bem evidente, eram seus olhos, olhos vermelhos que me engoliam.
Acordei sobressaltada como sempre de quando tinha esse sonho, eram sempre tão reais, no final aqueles olhos intensos e vermelhos sempre me hipnotizavam e logo depois quando menos esperava me engoliam me levando a um buraco negro sem fim.
Meu corpo não estava suado como o de costume, talvez porque agora não morava mais em um lugar tropical, mas sim numa geladeira.
Sobre o sonho, minha madrinha Lucy certa vez contou que quando eu era mais nova eu sempre dizia ter um anjo da guarda de olhos vermelhos brilhantes, que me salvava do perigo, o que era bobagem e pura imaginação de criança, talvez fosse apenas meu amigo imaginário.
Agora passaria a noite em claro como sempre acontecia quando eu tinha esse sonho sem sentido, afinal quem tem olhos vermelhos?
Talvez meu "anjo da guarda", "amigo imaginário" ou qualquer outra coisa em que provavelmente a psicóloga me ajudaria a conectar com meus "problemas emocionais".E como sempre fazia em noites assim eu pegava um livro da estante e começava a ler, no começo era difícil prestar atenção na leitura porque meu cérebro estava ainda preso ao sonho, mas com tempo e esforço eu conseguia afastar minha mente desse sonho que talvez fosse algo simples e pequeno, talvez nada prejudicial, mas ainda sim de certa forma mexia comigo.
- Mell, acorda! - disse Lucy apenas batendo na porta, e acordei de cara com o livro em cima da minha cama, passei a noite lendo e sem perceber havia pegado no sono.
- Acordei - avisei, assim ela não precisaria enfiar a cabeça quarto adentro.
Me levantei desleixada de sono e vesti uma roupa de inverno comum para ir para a escola, blusa de gola preta que foi escondida por um moletom grosso, luvas e botas, por fim uma touca vermelha que chamava bastante atenção dando contraste nos meus cabelos e olhos escuros, não era feio, mas para quem não queria chamar atenção na primeira semana de aula era demais, porém não tinha roupa de inverno o bastante para escolher. Desci para a cozinha sem a menor vontade de viver um dia de aula.
- Bom dia! - disse Harry com suas torradas e geleia de morango.
Ele estava animado para um ser humano que acordou cedo demais e no frio. Frio pode combinar com muitas coisas, menos sair da companhia da cama e dos cobertores!
- Não vejo algo bom em morar com os pinguins, Harry.
- Logo se acostuma com o frio - falou.
- Nós morávamos numa torradeira. É difícil de um dia para o outro me mudar para uma geladeira. Eu gosto muito de você Harry, mas não gosto de morar como um picolé.
Eles riram, não via graça e os ignorei indo até a porta.
- Já estou pronta, vamos! - disse por fim.
- Mas nem tomou um café! - falou Lucy minha madrinha.
- Eu tomo na lanchonete da escola.
- Tudo bem então! Hoje meu turno vai ser a noite, então vou estar quando chegar da aula e com um lanche servido, tenha um ótimo dia de aula!
- Duvido muito, mas obrigada assim mesmo.
- Só tente. - suplicou ela.
- Tudo bem...
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Coração de Gelo (Em Revisão)
Roman d'amourA vingança e o sofrimento são os únicos sentimentos destruidores, transformando o coração quente, num coração frio como gelo, apenas a chama do amor pode derrete-lo. Mas será que exista um interior quente o suficiente para derrete-lo? Ou ele estar...