Capítulo 4

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Me senti mal pelo o que disse ao Chris e Brit, eles só estavam tentando me ajudar...

Mas o estrago já estava feito.

E de qualquer forma o que me ajudava agora era ficar sozinha...

Órfã.

Eu era isso.
Mas não porque fui abandonada. Simplesmente meus pais não tiveram escolha quando me deixaram. Quando seus corpos queimaram. Quando eu sobrevivi como um "milagre". Uma maldição.

E poucas pessoas sabiam disso. E com certeza meus amigos não falariam esse meu ponto fraco a ninguém.
Mas o William, com certeza sim. O que ele fez ontem foi um joguinho. Ele brincou comigo. Fingiu que estávamos nos dando bem. Buscou meu ponto fraco com aquelas perguntas, arrancou o que queria de mim e quando teve chance, simplesmente espalhou.

Ele me enganou.
Eu devia ter percebido que ele não era uma pessoa confiável. Ele mesmo disse isso, disse para eu ficar longe.

Sou tão tola.

Devia ter escutado ele.

Então talvez a culpa não era totalmente dele, mas minha. Minha por ser ingênua. Por ter confiado.

Só queria me enfiar dentro do quarto e não sair de lá nunca mais.

Órfã.

Isso me traz péssimas lembranças. Péssimos pesadelos.

Aumentei os passos e quando estava passando pela ponte que levava até minha casa, vi um passarinho cair e se chocar no lago congelado. Era um filhote que provavelmente caiu do ninho.

Ele estava sozinho e continuaria se ninguém o colocasse no ninho. Junto de sua mãe que logo voltaria para o aquecer por debaixo de suas asas.

Fui até o lago, primeiro pisei na borda checando se o gelo estava firme, porque pelo o que escutei, Seattle nem sempre congela bem os lagos, por isso as pistas de patinação são os lugares mais seguros para quem quer pisar no gelo.

Vi que estava firme então caminhei até o meio que era onde ele estava, quando tentei o pegar ele correu - escorregou - de perto de mim. Fui atrás dele até conseguir pegar. Mas então ele simplesmente virou fumaça nas minhas mãos e sumiu, simplesmente sumiu, olhei minhas mãos vazias. Impossível!
Boquiaberta continuei olhando minhas mãos vazias que em um minuto o passarinho estava e no seguinte minuto... nada. Ele simplesmente desapareceu como se tivesse feito mágica.

Então tirei a atenção das minhas mãos quando escutei um barulho horrível do gelo debaixo de mim. Olhei para abaixo dos meus pés, o gelo rachando!

Em um minuto eu estava em cima do gelo, e no outro caindo quando o gelo de baixo de mim quebrou.

Com o corpo congelando estava abaixo da superfície. Meus olhos ardiam com a água gelada.
Tentei voltar a superfície, mas minhas mãos se depararam com gelo. Eu estava de baixo do gelo, sem saída.

Precisava achar o buraco por onde eu caí, ou eu morreria afogada e congelada!

Não, hoje não morreria!

Tentei me acalmar para pensar melhor, para raciocinar.

Tentei me lembrar em qual sentido ficava a abertura. Mas nem lembrava para onde eu estava virada quando caí! Norte, sul, leste, oeste. Não fazia ideia, dentro da água é um mundo sem direção.

Ok, tinha que começar por um lugar. Esquerdo.

Tateei o gelo. Gelo. Gelo. Gelo e mais gelo. Nada da saída.

Comecei a me desesperar quando senti que logo precisaria de ar. Tentei quebrar o gelo acima de mim. Com socos, cotoveladas. Mas a água fazia meus movimentos serem lentos, sem velocidade o suficiente para dar pressão aos socos.

Coração de Gelo (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora