- Pensei que você fosse meu amigo. - Nós estávamos em minha casa, tia Alessandra pediu que eu olhasse Caíque pois ela precisava resolver algumas coisas fora da cidade, e como ele estava de férias, e Maria Eduarda trabalhando, ela não poderia olhá-lo integralmente. Pedi que ele ficasse em minha casa pois assim eu não teria que encarar a sonsa da sua irmã.
- Mas eu sou seu amigo. - Insisti, segurando-me para não rir. Caíque estava emburrado comigo porque eu iria acampar e não poderia levá-lo.
- Você vai levar minha irmã e o idiota do namorado dela, Gustavo. - É, Caleu é irmão da Maya, e ao saber que ela estava programando um acampamento com amigos, ele se autoconvidou com a sonsa. Assim como eu, Maya não achou uma boa, mas ela não podia dizer "não" ao irmão. - Eu te chamaria de filho da puta caso não conhecesse sua mãe.
- Olha a boca! - O repreendi, rindo. - Você é uma criança, Caíque. Quando você ficar mais velho a gente acampa. - Ele revirou os olhos, me olhando com desdém.
- Aí será eu que não irei querer sair com você. - Forçou um sorriso, debochando. Estávamos no sofá, me aproximei dele, pegando-o no colo e começando a fazer-lhe cócegas. - Pa-pa-PARAAA! Hahaha. P-pa Hahaha. PARA PELO AMOR DE DEUS HAHAHA.
- Você vai implorar pra sair comigo, moleque. - Falei, soltando-o.
- Talvez. - Deu de ombros. - Você é o mais próximo que eu tenho de um irmão. - A inocência em sua voz alargou meu sorriso e eu o abracei, bagunçando seus cabelos. - Para de viadagem, Gustavo! - Reclamou, se soltando. - Tô com fome, faz algo para comer.Eu também estava com fome, e apesar de gostar de cozinhar, eu estava com preguiça. Fomos para cozinha, e depois de revirar os armários e a geladeira, decidimos fazer macarrão ao molho branco com almôndegas. Obviamente, Caíque não sabia cozinhar, mas ele tinha vontade de aprender. Ele me ajudou com o tempero da carne e a fazer as bolinhas. O bom de estar com uma criança é que tudo fica mais leve. Todas minhas preocupações foram embora enquanto discutíamos sobre desenhos animados. Minha mãe chegou quando botávamos a mesa. Ela era fã do Caíque, e como sabia que o mesmo estaria lá em casa, ela trouxera uma sacola com muitas balas e chocolate.
- Eu que sou filho dela não sou mimado assim. - Reclamei para o Caíque e esse me olhava triunfante.
- Larga de ser bobo, Gustavo. - Minha mãe disse, abraçando meu "irmãozinho". Jantamos e deixamos um prato feito para o meu pai.No dia seguinte, pela noite, Maria Eduarda fora buscar Caíque. Eu ainda não tinha coragem de encará-la, então quando ela chegou, inventei uma dor de barriga, me despedi do moleque e corri para o lavabo. Da porta eu podia ouvir minha mãe insistindo para que Madu entrasse, se ofereceu até para bater-lhe um bolo. Mas a sonsa teve o bom senso de recusar, e após 10 minutos de uma conversa tediosa, eles partiram.
- Nossa, filho. Você ficou esse tempo todo no banheiro? Vou fazer um chá pra você. - Ela estava preocupada, de fato, mas minha mãe tinha um sério problema, onde ela achava que a cura pra qualquer coisa estava numa xícara de chá.
- Eu tô legal, mãe. Relaxa. - Aproximei-me dela, depositando um beijo no topo da sua cabeça. Peguei minhas chaves e fui em direção da porta.
- Já vai sair?
- Vou encontrar com a Maya. - Minha mãe nunca interveio em minha relação. Quando eu apareci namorando, ela até achou legal (ou talvez se aliviou ao constatar que seu único filho não era gay), mas foi só isso. Ela não tratava Maya mal. Por educação, ela era simpática e receptiva, mas eu sabia que Maya era indiferente para ela.(...)
- Qual a graça de acamparmos assim? Porra. - Giovanni estava frustrado com o local que Maya escolhera para acamparmos. Segundo ele, o legal de acampar é curtir a vibe da natureza e enfrentar os perigos que ela pode oferecer.
- Bem melhor assim! - Pedro interveio. - Aqui temos banheiro e cozinha.
- E qual a lógica de sair pra acampar e usar um fogão?
- Para, Gio! - Erick dissera, revirando os olhos. - Se tu quer participar de um "largados e pelados" é só se inscrever no Discovery. - Giovanni ofereceu-lhe o dedo do meio e continuou armando sua barraca. Eu até tentei montar a minha, mas não obtive sucesso, assim, quando Giovanni terminou de armar a sua, ele me ofereceu ajuda.
- Valeu. - Disse me sentando na grama. Peguei duas latas de cerveja em um dos isopores que levamos e estendi uma à ele, que pegou e sentou-se ao meu lado.
- E o namoro? Tá de boa? Pedro desencanou quando viu que ela te ama. - Giovanni era um cara legal, desses que tu se sente à vontade para desabafar. Mesmo sentindo a necessidade, eu não poderia dizer-lhe que não amava Maya, e que mesmo tendo a certeza que eu sentiria sua falta, eu ficaria muito aliviado se ela passasse no vestibular.
- Ela é incrível, não tenho do que reclamar.
- Tu deu sorte. - Antes que eu pudesse responder, Maya juntou-se à nós, com uma vasilha cheia de sanduíches.
- Estão com fome? - Perguntou sorrindo.
- Muita. - Pedro disse, se juntando à nós, olhando Maya com admiração.
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Inconfesso desejo
Romance"Queria ter coragem, para falar deste segredo. ... Você é minha vontade, meu maior desejo. ... Queria falar dos sonhos, dizer os meus secretos desejos. Que é largar tudo para viver com você este inconfesso desejo". - Carlos Drummond de Andrade S...