Meus últimos dias de férias fizeram valer pelo mês inteiro. Passei a sair com o grupo do Giovanni, e como na maioria das vezes as festas eram universitárias -cujos alunos eram estudantes de medicina, filhinhos de papai e mamãe-, não gastei sequer um centavo.
- Tu pode tentar passar na federal daqui de São Paulo, se não me engano, psicologia é no mesmo campus que o de medicina. - Giovanni comentou. Estávamos na casa do Pedro, sentados no sofá, assistindo à uma partida de futebol, enquanto comíamos alguns petiscos e tomávamos uma breja.
- Giovanni apaixonou mesmo pelo Gustavo. - Erick debochou.
- Vai se foder. - Disse ao mesmo que mostrava-lhe o dedo do meio. - Sei não... Não estudei pro vestibular, pelo menos não como deveria.
- Tu consegue, irmãozinho. - Pedro disse. - Eu também não mantive uma rotina de estudos. Meu plano era terminar o colégio e entrar num cursinho, mas daí consegui passar só com o conteúdo do colégio.
- Ainda mais o Enem, Gustavo. Você só precisa responder as questões fáceis, não sair chutando e fazer uma boa redação. Eu não estudava porra nenhuma na escola, passei só por um milagre. Em compensação estudo pra caralho agora.
- E mesmo assim ainda pega D.P., Erick. - Giovanni brincou; passamos a tarde conversando sobre o colégio, a faculdade e o vestibular. Erick conseguia ser insuportável na maior parte do tempo, mas no fundo ele era gente boa.Segunda-feira chegou, e junto com ela: o fim das férias. Por mais que ir ao colégio fosse uma merda, era uma fase da qual eu sentiria falta mais tarde. Quando somos crianças não vemos a hora de nos tornarmos adultos, e em nossa ingenuidade, não sabemos o quanto as responsabilidades podem ser chatas. Faltando pouco pro meu aniversário de 18 anos, eu queria voltar a ser criança.
- PORRA, MANO. QUE SAUDADE, CARALHO!!! - Ricardo gritou enquanto me sufocava num abraço bem apertado. - Você é minha vida, Gugu. - Ele disse enfim me soltando e passando a mão em meus cabelos.
- Caralho, Ricardo! - Disse me ajeitando. - Que foi que te deu? - Antes que ele pudesse responder, Manuella jogou-se em mim, e logo Ricardo se juntou, formando um abraço triplo.
- Viados, que saudade! - Manu disse livrando-se do abraço, Ricardo continuou abraçado à mim.
- Me solta, Ricardo!
- Não dá, Gustavo. Você tá muito gostoso. - Ele percorreu as mãos em meus braços, fazendo-me revirar os olhos.
- Trocou de time nessas férias? - Perguntei em tom de brincadeira.
- Na verdade nós temos uma novidade pra você, Gustavo. - Manuella disse. Ricardo enfim me soltou e foi até ela, envolvendo o braço em sua cintura. - Não falamos pelo celular porque concordamos que você, como nosso melhor amigo, deveria receber essa tão especial notícia pessoalmente. - Manu dizia calmamente enquanto que Ricardo ficava cada vez mais envergonhado com a situação.
- Não vai me dizer que enfim o bonitão tomou coragem? - Manuella me olhou sem entender e Ricardo sorriu de lado.
- É que... - Ele tentou dizer algo sem sucesso.
- Então você sabia? - Manu perguntou.
- Ele nunca falou sobre... Mas sempre percebi o modo que ele te olhava. Então estão ficando, transando ou namorando?
- Gustavo! - Manu me repreendeu. - Estamos namorando.
- Nunca pensei que fosse te ver envergonhado, Ricardo. - Me aproximei dele, deitando sua cabeça em meu ombro, ao mesmo que meus dedos brincavam com seu cabelo. - Parece uma mocinha.
- K.O.! - Ele ergueu a cabeça, beijando minha bochecha. - Só estava fazendo charme pra Manu achar que, pelo menos fora da cama, ela é o homem da relação.Com o namoro dos dois, algumas coisas mudaram. Não que fosse a intenção deles, mas eu não queria ficar de vela e sabia que eles precisavam de um espaço. Com isso, acabei me aproximando de Maya e seu grupo. Manuella não gostou, é claro, mas acabou entendendo.
- Meu facebook mostrou que seu aniversário está próximo. - Maya disse sentando-se ao meu lado. - Vai comemorar como?
- Sei lá. - Dei de ombros.
- Que desânimo. - Virei a cabeça, olhando-a sorrir.
- Não tô muito a fim de festa... Digo, festas são legais, mas quando eu sou convidado.
- Podemos dar um jeito nisso.
- Podemos?
- Se você quiser...
- E o que pretende, senhorita?
- Algo que envolva sexo. - Olhei surpreso pra ela que sorria ainda mais. - Estou com saudades daquele dia na praia. - Sua voz saiu carregada de malícia, o que fez meu corpo inteiro arrepiar, e levando em conta que eu já estava há quase um mês sem transar, aquilo era como música para meus ouvidos; levei meus lábios até seu pescoço, onde beijei-a rapidamente.
- Querida, podemos matar essa saudade antes mesmo do meu aniversário. - Sussurrei. Maya virou o rosto, levando os lábios até os meus. Puxei-a pela cintura, deixando-nos bem próximos e então a beijei. - Estávamos no intervalo do colégio, por mais que quiséssemos, o beijo não se prolongou, mas foi o suficiente para atrair olhares. Como Maya era popular, a notícia que circulava nos corredores do colégio era sobre meu possível romance com ela.
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Inconfesso desejo
Romansa"Queria ter coragem, para falar deste segredo. ... Você é minha vontade, meu maior desejo. ... Queria falar dos sonhos, dizer os meus secretos desejos. Que é largar tudo para viver com você este inconfesso desejo". - Carlos Drummond de Andrade S...