Dezessete

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- E AÍ CUZÃO! - Ricardo apareceu do além, com sua alegria rotineira de todas as manhãs. Ele era a única pessoa naquele colégio que chegava todos os dias sorrindo. - Qual é a do teu status com a Maya? Tão de zoação ou pegaram pra foder mesmo? - É namoro, cara. - Ele deu um tapinha em minhas costas.
- Esse é meu garoto! - Manuella se juntou a nós, deu um selinho em Ricardo e quando foi me cumprimentar, beliscou-me o braço.
- Ai! - Reclamei.
- Logo a Maya? - Perguntou. Ela estava parada na minha frente, com uma cara de poucos amigos, braços cruzados e dentes cerrados. Convenhamos que fora uma cena engraçada. Manuella é tão pequena que não consegue impor medo nem em uma formiga. - Para de rir! Escroto.
- Afinal, por que tu não gosta dela? - Pertuntei, fazendo-a revirar os olhos.
- É ciúmes, Gugu. - Ricardo provocou. Manuella sempre foi ciumenta, isso explica o fato dela ser minha única amizade feminina por um bom tempo. Mas com Maya a coisa ia além, Manu parecia nutrir ódio pela mesma.
- Não gosto de gente metida que se acha a popular por ser oferecida. Você merecia coisa melhor.
- Não fale assim dela! Maya não é fútil. - E não era mesmo. De certo essa era a imagem que ela causava, mas as aparências enganam. E Maria Eduarda é outro exemplo disso. - Ela é tão gente boa como você, ao invés de tirar conclusões precipitadas, conheça ela primeiro. - Manu se limitou à dizer "hm" e em seguida saiu andando, Ricardo para não contrariá-la, seguiu atrás.

Você não sabe como é namorar, até fazê-lo de fato. Você pode ter ideias, claro, todas as pessoas têm. O primeiro pensamento é o sexo garantido. O segundo é que teremos alguém para nos esquentar em dias frios, e que esse mesmo alguém estará presente quando precisarmos desabafar. O terceiro, e não menos clichê, é que planejamos um futuro ao lado dessa pessoa, mesmo você não amando-a.
Maya não me decepcionou. Ela fez meus devaneios tornarem-se realidade.  A garota me surpreendeu de todas as formas possíveis. Tornou-se uma amiga e tanto. E o melhor: não negava fogo - afinal ela era o próprio incêndio.

- Estou muito feliz contigo. - Ela estava deitada com a cabeça em meu peito, comíamos pipoca e assistiamos sua série favorita: Skins.
- Eu também estou, Maya. - Beijei seus cabelos; ela não usava perfume por causa da sua rinite, mas usava cremes que se tornaram sua identidade. O cabelo possuía um aroma gostoso de frutas vermelhas; sua pele macia cheirava a avelã e romã. Nada doce, mas um cheiro feminino, que me fez viciar.
- Tantos anos estudando juntos e só nos aproximamos agora. - Suspirou. - É injusto.
- Maya... - Segurei em seu rosto, puxando-o para mim, a fim de encará-lo; Nós já havíamos tido essa conversa. Maya prestaria vestibular em uma federal de Santa Catarina. Era seu sonho e eu a incentivava, mesmo sabendo que assim seria o término do nosso namoro. - Nós continuaremos a ser amigos, não iremos nos afastar.
- Mas eu posso prestar vestibular aqui em São Paulo... - Sua voz vacilava e seus olhos brilhavam, segurando o choro. Maya era do tipo durona, mas comigo ela se tornava uma menina que não escondia seus sentimentos. Isso me deixava péssimo, pois eu não conseguia retribuir o amor que ela nutria por mim.
- Eu sei que pode, amor. - Eu tentava falar de modo que minhas palavras lhe transmitissem segurança. - Mas você também não pode deixar seu sonho de lado.
- Eu te amo, Gustavo. - Em resposta, selei nossos lábios, iniciando um beijo, mas logo fomos interrompidos, por gritos e um barulho de coisas caindo ao chão. - Esses dois ainda irão se matar! - Ela revirou os olhos e em seguida saltou da cama. Apesar de contrariado, segui atrás, já prevendo alguma discussão de Maria Eduarda com Caleu. - Filhos da puta! - Eles estavam na cozinha, e chão estava repleto de louças quebradas.
- SEU IRMÃO É LOUCO, MAYA! - Madu gritou, pegando um caco no chão e indo para cima de Caleu. Apressei-me para segurá-la a tempo de não cometer uma besteira.
- MAIS LOUCA É VOCÊ, PORRA! - Gritei; ela parecia uma criança em meu colo, se debatendo para sair dos meus braços. Caleu estava sentado ao lado do fogão, com o rosto escorrendo sangue. Maya ajoelhou-se ao lado do irmão, tentando acalmá-lo, já que esse chorava compulsivamente.
- Me solta que eu vou matar esse filho da puta. - Ela continuava a se debater, com uma força que eu jamais pensei que ela tivesse.
- Leva ela embora daqui, Gustavo. - Maya pediu. Com muito esforço, consegui arrastar Madu para fora da casa e a contragosto, consegui fazê-la entrar em seu carro.
- Onde tá a chave? - Ela pegou a mesma em sua bolsa e me entregou. Eu não possuía carta, só tinha algumas noções de direção. Mas no estado que ela estava, seria arriscado demais deixá-la dirigir. Dei a partida e como Deus é bom, chegamos vivos em sua casa em menos de 5 minutos.
- Vai embora. - Ignorei seu pedido e entrei com ela. A casa estava toda fechada e as luzes apagadas, indicando que estávamos sozinhos.
- Você precisa de um banho. - Falei assim que reparei seu estado desprezível. Ela me lançou um olhar de fúria e seguiu para o quarto. Liguei para Maya e ela informou que estava a caminho do pronto socorro, já que o sangramento do irmão não cessava. Fiquei de encontrá-la assim que eu me certificasse que Madu não fosse cometer alguma loucura; bati na porta repetidas vezes, mas não obtive resposta, então entrei sem sua permissão. Ela estava nua e de bruços na cama. - Vai me contar o que houve?
- Por que você está aqui? - Ela virou, sentando-se. A emoção sempre fala mais alto do que a razão, logo, eu não pude ficar sem reparar em seus belos seios.
- Porque me preocupo com você.
- Pff... Não se dê ao trabalho. - Segurei a vontade de mandá-la tomar no cu e me direcionei até a cama, onde tomei Madu em meus braços e entre tapas, mordidas e beliscões, levei-a até o chuveiro. - Te odeio, Gustavo.
- Queria poder dizer o mesmo. - Pisquei. - Tô te esperando no quarto. - Meia hora depois ela apareceu, trajada num roupão. - Tá mais calma?
- Sim, pode ir. Estou bem. - Sua voz estava mais calma e seus sinais também. Ela só parecia cansada, além de amargurada.
- Não quer conversar?
- Com você? Dispenso! - Meu sangue ferveu e não pude segurar minha ira. Ela não tinha o direito de me esnobar, de me humilhar e de me provocar! Saí praguejando e batendo a porta, porque se eu continuasse ali, com certeza eu não responderia pelos meus atos.

Inconfesso desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora