Não consegui pregar os olhos. O relógio marcava 3h, e eu tinha de levantar às 5h para o colégio. Eu não queria admitir, mas ela ainda mexia comigo.
Maria Eduarda nunca entendeu o porquê de eu ter dado tanto trabalho. A verdade é que mesmo criança, eu tinha certeza sobre meus sentimentos, e sabia que era apaixonado por ela. O motivo da minha revolta era simples: eu odiava o modo que ela me tratava. Não queria ser seu "pequeno", como ela dizia. Queria ser seu namorado! Então eu fazia de tudo para chamar-lhe à atenção. Fui uma criança levada e desobediente. O que rendeu uma relação de brigas com Madu. Ela só insistiu em continuar sendo minha babá porque seus pais não a deixavam trabalhar, e ela gostava dos trocados que minha mãe lhe dava.
Com 18 anos ela passou na federal da Bahia, e então partiu. No início foi difícil, senti muito sua falta, até começar a odiá-la, e passar a ignorar meus sentimentos.Como não se apaixonar? Madu era dona de uma beleza incrível. Foi com 8 anos que me vi apaixonado. Com seus 14 anos, ela era mais evoluída do que as meninas de sua idade, mas eu era inocente, e só passei a enxergar o quão ela era gostosa, a partir dos 10 anos.
Morena, pele clara com algumas sardas, olhos negros e marcantes. Seus lábios lembravam morangos: bem vermelhos, e apetitosos. Um belo corpo, repleto de curvas, com seios e bunda na medida certa. É... Era de se entender o porquê dela não ter olhos para uma criança.Quis negar meus sentimentos, mas foi sentir sua presença que tudo voltou. Quando nossos olhares se cruzaram, meu coração acelerou. Eu quis tê-la pra mim. Prender seu corpo em meus braços e nunca mais soltá-la. Provar que a criança cresceu, e agora deseja ser seu homem.
Acontece que nada nessa vida é como planejamos. A filha da puta me tratou como um moleque. Como se eu ainda fosse o pirralho e ela a babá, o que fez meu ódio voltar à tona. Quase mandei-a tomar no cu, pelo modo que falava comigo.
- Desgraçada! - Liguei a tv, desistindo de dormir. Com os olhos na tela, e a mente nela, fiquei na cama até às 5h.
(...)
- Você está com olheiras. - Manuella disse enquanto comia. Dei de ombros e ela não insistiu no assunto, estava mais preocupada com seu lanche. - O que acha de irmos no boliche hoje? Tem uma galera da escola que vai.
- Tenho que olhar o Caíque.
- Mas você não disse que a irmã dele voltou? - Perguntou dando sua ultima mordida no lanche.
- Sim, mas eu ainda olho o moleque.
- É engraçado te imaginar de babá! Haha. - Comecei a olhar o Caíque há 3 anos, quando minha mãe sugeriu à tia Alessandra que eu o fizesse, assim como Madu fez comigo. A ideia me pareceu ótima, pois eu não teria muito o que fazer, e me renderia uns cascalhos. O ruim sempre era às sextas feiras, quando a galera marcava algo, e eu nunca podia ir.
- Engraçado é tu ser pequenina e comer igual uma orca! - Manuella era minha melhor amiga, ao lado do Ricardo. Éramos como os três mosqueteiros.(...)
- Caíque você fala demais! - Reclamei enquanto ele tagalerava à caminho de casa. Nossa relação sempre foi agradável, ele parecia meu irmão mais novo.
- O que acha de chamarmos a Madu para irmos ao cinema?
- Acho que sua irmã deve ter coisa melhor a fazer. - Respondi lembrando do dia anterior.
- Ela vai adorar a ideia! - Dito e feito. Maria Eduarda concordou em sairmos. E teria sido um passeio agradável, caso ela não quisesse bancar a mamãe de nós dois.
- Você é um porre! - Disse a ela quando chegamos em sua casa. - Não é a toa que brigavámos tanto.
- Você que era terrível, Gustavo. Pode ir embora, eu olho o Caíque. - Disse abrindo o portão, ignorei seu comentário entrando na garagem.
- Não obedeço você, sigo as ordens de sua mãe!
- Blá, blá, blá.Sexta-feira tia Alessandra sempre demorava a voltar, o que rendia horas a mais com Caíque. Madu trancou-se em seu quarto, e eu passei o resto dia jogando com o moleque.
- Mamãe ligou dizendo que não volta hoje. - Eu já estava acostumado com aquilo. Tia Alessandra se separou do marido um pouco depois que Madu se mudou. Desde então passou a viver sua vida como solteira, mas sem faltar o compromisso com os filhos. Ela estava na razão, tinha mais é que aproveitar a vida! E isso era bom pra mim, pois como eu tinha que dormir em sua casa, assim que o garoto dormia, eu chamava alguma menina para passar a noite comigo, coisa que eu não podia fazer estando em minha casa. - Se quiser pode ir.
- Vou ficar. - Disse mais por pirraça mesmo, afinal eu sabia que com ela ali, eu não precisaria ficar.
- Ótimo! Vem, me ajuda com o jantar. - Disse animada, o que me fez revirar os olhos.
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Inconfesso desejo
Romantizm"Queria ter coragem, para falar deste segredo. ... Você é minha vontade, meu maior desejo. ... Queria falar dos sonhos, dizer os meus secretos desejos. Que é largar tudo para viver com você este inconfesso desejo". - Carlos Drummond de Andrade S...