Inconfesso desejo

Vinte e três

MAYA NARRANDO:

Sempre achei Gustavo um rapaz atraente. Diferente dos demais garotos do colégio, Gustavo não se gabava por sua beleza, talvez ele nem se dava conta do quão era lindo e atraía olhares. Quando pude enfim conhecê-lo de fato, constatei que ele ia muito além de apenas um rosto bonito. Dentre suas qualidades está a positividade. Gustavo transmite uma energia muito boa, só em abraçá-lo você sente que tudo ficará bem. Não sou ligada em espiritualidade, mas sei que ele é uma pessoa de luz, e foi nele que encontrei o amor. Logo eu, que me julgava fria em relação à relacionamentos. Nunca me prendi à ninguém, a liberdade sempre me foi auspiciosa. Cheguei a me apaixonar, mas eram paixões efêmeras, relações vazias, onde sexo era apenas uma troca de favores: um corpo procurando prazer em outro. Com Gustavo foi diferente desde a primeira entrega. Senti um prazer infinito, me senti realizada de uma forma que eu nunca me sentira antes. Cada toque, cada beijo, cada provocação... Gustavo fez tudo de uma forma única, onde a paixão deu caminho para o amor.

Amor.

No dicionário Aurélio você encontra mais de dez definições para o amor, dentre elas: sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; ligação afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual; ser que é amado.

Eu amava Gustavo, mas sabia que não se tratava de um sentimento recíproco. Ou melhor, com tantos meses de convivência, Gustavo aprendeu a me amar, mas como uma amiga. A amizade é um ponto forte em uma relação, de nada adianta você se relacionar com um estranho. Eu e Gustavo nos tornamos muito amigos, e creio que foi por isso que ele deixou nossa relação seguir à diante.

Egoísmo.

Segundo o Aurélio, egoísta é aquele que trata só dos seus interesses. Saber que Gustavo não correspondia minha forma de amar, e mesmo assim, insistir em uma relação só para o meu prazer, me define uma pessoa egoísta.

Bukowski definiu o amor como uma espécie de preconceito. Nós amamos o que precisamos, o que nos faz bem, o que nos é conveniente. Apesar de relutante, concordei com Bukowski: Como posso dizer que amo uma pessoa, se há dez mil outras no mundo que eu amaria mais se conhecesse?! Santa Catarina é um sonho de criança, um sonho que eu deixaria de lado para ficar com Gustavo, mas seria cruel demais ser egoísta com meus sentimentos, me privando de conhecer novas pessoas e no final ficar sozinha, pois Gustavo não seguiria com esse namoro.

Na terceira temporada de Grey's Anatomy, a doutora Callie tem a certeza que Izzie ama o melhor amigo George, seu esposo. Callie comenta isso com George que diz ser impossível, pois a doutora linda, loura, peituda e modelo nunca teria olhos para ele, sem perceber o menosprezo pela esposa. Eles brigam e George corre para os braços da melhor amiga, onde é amparado com uma noite de sexo que significou para ambos. Após isso, os melhores amigos tentam fingir que nada aconteceu, deixando Callie de lado.

Também na terceira temporada, o lider do conselho do hospital Seattle Grace chega ao hospital sofrendo com seu aparelho reprodutor. Sua secretária pede para ser examinada pois seja lá qual for a doença, ela também pode ter contraído, confessando que eles tinham um caso há 5 anos. Nisso, a mulher do líder chega ao hospital e em uma conversa com George, ela lhe diz que sempre soube que a secretária do marido também era sua amante.

A intuição da mulher é uma arma poderosa, nós sempre sabemos o que está acontecendo. Eu sabia que Gustavo não me amava, mas não sabia que ele amava outrem. Até chegarmos naquele maldito acampamento e eu ver seus olhos brilharem pela minha querida cunhada: Maria Eduarda.

Gustavo não poderia ter me traído! Que não existe um ser perfeito, eu sei. Mas ele não seria tão sujo à esse ponto. Poderia ser algo platônico, eles não tinham tempo de se ver, e Madu amava meu irmão, enquanto que Gustavo sempre evitava frequentar o mesmo espaço que ela frequentava.