Trinta e seis

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MARIA EDUARDA NARRANDO:

- Para onde nós vamos? - Perguntei, assim que adentramos o carro.
- Para um lugar onde possamos nos curtir, amor. - Respondeu, sorrindo, passando o cano da arma em minhas coxas.
- Guarda essa arma, Caleu. - Pedi, amedrontada, fazendo-o rir. - Por favor... - Insisti.
- Ela é inofensiva, amor. - Debochou, ainda com a arma roçando em minhas coxas; ele estava surtado e encher-lhe de perguntas só o irritaria. Eu não podia transparecer o medo que eu estava sentindo, então esforcei-me para poder parar de chorar, focalizando meus pensamentos em Caíque e Gustavo. - Senti sua falta.
- Nós terminamos, Caleu. - Respondi, com a voz baixa, lembrando da nossa última briga.
- Por causa de uma briga? - Fiquei em silêncio para não desafiá-lo. Não havia sido uma simples briga e ele sabia disso... Caleu ultrapassou todos os limites quando passou a roubar para poder comprar pó! Manuella foi quem me encorajou à terminar, pois diante aos fatos, do quê adiantaria meu esforço? Caleu poderia não suicidar-se, mas poderia morrer tendo uma overdose. - Selecionei as músicas que você gosta, para termos uma viagem agradável. - Disse, dando de ombros e dando play no rádio. Madness começou a tocar... Era minha música predileta. Foi ali que eu finalmente percebi que era o fim. Nunca fora um amor verdadeiro... Tudo baseou-se numa loucura. Ele sempre precisou do meu amor e eu estive disposta a lhe dar. Mas eu errei quando decidi ser sua mulher, pois assim eu optei por camuflar o amor fraterno que eu sentia. 
- Minha cabeça está doendo, Caleu. Desliga isso... - Pedi, massageando minhas têmporas, mas Caleu contrariou-me, soltando um riso alto e cantarolando em seguida. Senti minhas pálpebras pesarem, anunciando um novo choro. Dessa vez, não me reprimi, deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto. - Você se tornou um monstro... - Sussurrei, mas ele ouviu, lançando-me um sorriso pra lá de audacioso.
- Não, Maria Eduarda. - Meneou a cabeça negativamente. - Eu não me tornei... Eu sou um monstro. - Disse, convicto. - Acontece que por eu te amar, permiti-me ser alguém melhor para você.
- Alguém melhor? - Perguntei, incrédula, mas ele me ignorou.
- Mas você terminou comigo, benzinho... Fodeu a porra toda! Estou fragilizado. - Disse, fazendo-se de vítima, olhando-me com sarcasmo. - Você pisou nos meus sentimentos, amor. E é por isso que soltei minhas garras! - Completou, rindo em seguida; Já estávamos na estrada à cerca de meia hora e em nenhum momento Caleu tirou a arma da minha coxa. - Mas eu perdoo você... Só me dê mais uns minutos que tudo volta a ser como era antes. - Fechei os olhos, desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo e que logo eu acordaria nos braços do Gustavo. Mas o som da sua risada era perturbador, impedindo-me de cair em devaneios. Eu olhava para o monstro em minha frente, condenando o dia em que fomos apresentados.
- Para onde estamos indo?
- Para de ser curiosa, bebê! - Disse, revirando os olhos. - Não seja uma estraga prazer... Já disse! Você irá gostar do local!

Iam fazer quase duas horas que estávamos na estrada, quando o sono me venceu e eu acabei dormindo. Acordei horas depois com Caleu me cutucando para descer do carro. Eu não fazia ideia de onde estávamos, mas preferi não perguntar, tendo em vista que ele não responderia.

- Você está bem? - Perguntei, notando sua suadeira. Ele apenas assentiu, colocando a arma em minha cintura, assim que descemos do carro. - Eu não vou fugir, Caleu.
- CALA A BOCA! - Vociferou, empurrando-me com força para a frente; Apesar de ter crescido na igreja católica, confesso nunca ter sido íntima de Deus. Eu sempre fui do tipo "ver para crer", e com isso, não conseguia acreditar na existência de uma intervenção divina. Mas ali eu estava amedrontada e rezar, foi o que pude fazer de melhor. - Entra! - Ordenou, apontando para uma porta. Era um banheiro e assim que entrei, Caleu me trancou dentro do mesmo. - Descanse bem, querida. Amanhã será um novo dia.
- ME TIRA DAQUI! - Gritei, socando a porta. - SEU DESGRAÇADO!
- Amor, fica xiu. - Disse, sarcástico, rindo em seguida. - Eu dirigi por quase sete horas... Estou exausto!
- Abre essa porta, Caleu.
- Eu recomendo que você durma também, amor. - Aconselhou, me ignorando. - Eu te deixaria dormir em um dos quartos, mas estou chateado com você... Boa noite, querida.

Inconfesso desejoOnde histórias criam vida. Descubra agora