Uma Noite no Terminal

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Esse caso não foi uma aventura das mais bem sucedidas, foi mais, uma desventura, logo no início da tecnologia GSM, uma operadora de telefonia móvel, lançou uma promoção onde você adquiria um chip da operadora e poderia ligar de graça o fim de semana inteiro, pra qualquer outro número da mesma operadora, eu adquiri um, era o máximo, conversar horas e horas com as gatinhas pelo telefone.

Nessa época eu trabalhava como porteiro de uma empresa no turno da noite, como passar noites acordado era o meu costume, eu me aproveitava do tal plano promocional e passava o fim de semana pendurado no aparelho celular, principalmente durante as madrugadas, conheci várias meninas interessantes, com quem eu passava a madrugada conversando, sobre assuntos diversos, farras, bebedeiras e claro, sexo.

Em uma dessas conversas pelo telefone, eu conheci uma moça de nome Waleska, amiga de uma outra menina que eu já havia ficado, nome diferente, legal, até aí tudo tranquilo, conversávamos muito por telefone, como eu sou meio ressabiado, com essas histórias de conhecer pelo telefone e tal, eu primeiro converso muito e nas conversas, vou aos poucos coletando informações e vou montando um espécie de perfil da pessoa, acho que se eu fosse investigador criminal, tipo CSI, eu teria futuro.

Pois bem, depois de algumas semanas de conversa, decidimos marcar de nos encontrar, foi então que começaram a surgir os presságios, na primeira data que marcamos, duas horas antes de eu sair de casa ela me liga, dizendo que não poderia ir, porque havia ficado menstruada, como nosso encontro era mais sexual do que romântico, desmarcamos e ficamos de ver outra data.

A tranquilizei, disse que estava tudo bem, iriamos marcar outro dia, uma semana depois, remarcado o encontro, mais uma vez, duas horas antes de sair, outra ligação, dessa vez a irmã, dizendo que ela não poderia ir, pois a mãe havia passado mal e a Waleska estava no hospital, acompanhando a mãe, tranquilo como sou, disse que tudo bem, vamos remarcar, passadas duas semanas, remarcamos novamente.

Meu camarada, antes eu não tivesse marcado, tivesse desistido na segunda tentativa, hoje eu sigo um provérbio árabe que li em um livro. "Se algo acontecer a primeira vez, não quer dizer que irá acontecer a segunda, mas, se acontecer a segunda, invariavelmente, irá acontecer a terceira". Pois bem, nessa terceira tentativa, deu certo, embora, hoje, eu prefiro que não tivesse dado.

Ela morava no bairro da Messejana, por esse motivo, marcamos de nos encontrar no terminal do bairro que leva o mesmo nome, eu nunca havia ido lá, não sabia nem como chegava, fiz uma travessia na cidade, primeiro peguei um ônibus no terminal da Parangaba, sentido terminal do Papicú, de lá peguei outro ônibus, seguindo para o terminal da Messejana, hoje eu sei, que poderia ter pego um ônibus direto da Parangaba para Messejana, bom fazer o que? O problema começou aí, mas, eu não percebi.

Cheguei no dito terminal, umas oito horas da noite, nós havíamos marcado nove horas, então comecei a esperar pela moça, deu nove horas, nada, nove e quinze nada, nove e meia, liguei pra ela, pra saber o que estava acontecendo, ela disse que estava se arrumando.

Fiquei ali esperando, rodando de um lado para o outro do terminal, mais meia hora e nada dela chegar, ligo novamente, ela diz que já pegou o ônibus, que vai chegar logo no terminal, fiquei mais tranquilo, aproveitei o momento pra me dirigir a um caixa rápido e sacar dinheiro, pra noitada que eu esperava que fosse.

Passados uns quinze minutos, meu telefone toca, número de telefone fixo, atendo, era ela, dizendo que já havia chegado no terminal e que já havia me visto, que me achou bonito.

Até aí, tudo tranquilo, mas, comecei a me perguntar porque ela não veio diretamente até a mim, comecei a ficar com receio da situação, mas, não desisti.

Como eu percebi que era um número fixo, ela só podia estar ligando dos orelhões que haviam no terminal, me dirigi para o local, onde eu já havia visto os aparelhos mais cedo

Chegando próximo, percebo que só um estava em uso, e que só poderia ser ela a pessoa que o estava usando, pois eu não havia desligado a ligação.

Quando me aproximo mais, o que vejo, me dá vontade de desligar o celular, correr e me jogar dentro do primeiro ônibus que passasse pra qualquer lugar que fosse.

Pelo contrário, tomei folego, respirei fundo e me encaminhei para o tal orelhão onde ela estava, afinal de contas, como diz o meu amigo cafajeste João Carlos, quem eu já citei antes, "Pra espetação de cassaco, qualquer uma serve, pois, nos momentos de seca, até as feias são capazes de saciar a vontade de um indivíduo".

Partindo desse princípio, me aproximei dela, não é que ela fosse feia, não, o problema é que na época eu não conseguia entender a beleza dela, mas, devo admitir que ainda hoje não consigo.

Cheguei, dei boa noite, apertei a mão, abracei, beijei no rosto e começaram as amenidades, papo vai, papo vem, a convido pra irmos a um lugar mais reservado, não sei de onde tirei tamanha coragem, acho que convidei por educação, querendo mesmo na verdade que ela rejeitasse minha proposta, o que, para minha alegria, foi o que aconteceu.

O papo continuou, mas, sem a intimidade que ela demonstrava antes, eu perguntei o motivo, ela disse que estava encabulada, eu olhei assim, encabulada? No telefone falava altas putarias, agora, pessoalmente estava encabulada? Mas, até aí tudo bem, porque se ela estivesse igual como conversávamos no telefone, a situação poderia estar até pior pra mim, nessas, papo vai, papo vem, dá meia noite, não tem mais ônibus e o terminal fecha.

E agora? O que fazer? Mais uma vez a convidei pra ir a outro lugar, ela sempre rejeitando, quando lá pelas três da madruga, ela liga pra irmã, menos de meia hora depois, chega a irmã dela de moto táxi, e começa a nos fazer companhia, a essa hora eu já estava igual o "Eduardo" da música "Eduardo e Monica" do Legião Urbana, eu só pensava em ir pra casa, indaguei um dos seguranças, que horas ia ter ônibus? Ele disse que as quatro e meia, começava a rodar ônibus novamente.

Pra minha sorte, não era época de greve. Aguentei o bate papo, ainda por mais uma hora, quando surgiu o primeiro ônibus pro Papicú, mais que depressa eu me despedi das duas e literalmente corri para o ônibus. Desde esse dia, quando conheço alguém por telefone que não é cliente, primeiro eu peço pra mandar uma foto por MMS, que é pra não correr riscos e nada de marcar encontros em terminais, acho que fiquei traumatizado.

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