VIRADA NO JOGO - CAPÍTULO 2

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Assim que o sinal bateu, e os alunos do lado de fora da escola entraram. Andamos em direção à sala de aula, ainda envergonhadas com o novo ambiente, afinal, mudamos de unidade e passamos a fazer parte de uma turma mais nova.

Entrávamos no prédio quando ouvimos a Gabi gritando do portão. Ela estava de mãos dadas com a Pri, e as duas sorriram e correram em nossa direção. A Pri deu um oi geral e disse que precisava ir ao banheiro. Quando ela saiu, a Gabi fez maior carão para gente.

-Ela está muito pentelha! Só fala do tal carinha agora.

-Ah, Gabi! Para de implicar - disse Juliana - Ela só está apaixonada.

A Priscila foi visitar a irmã na Suíça e, na última semana de viagem, ficou com um menino coreano que estava visitando a cidade, Yuri era o nome dele, o tal carinha que ela estava toda apaixonadinha.

-Mas ela tem que saber que tem limites né?- disse Gabi, colocando o dedo na boca fazendo sinal de vômito.

A Gabi é muito divertida e ama passar o tempo com a gente falando besteira, mas não tem paciência pra mimimi. Ela talvez seja a mais madura de nós e fica entediada se ficamos choramingando sobre algum assunto. Ela sempre diz que nossos problemas não são tão terríveis quanto parecem e logo arruma um jeito de solucioná-los, como a ideia da corrida, que realmente tem me ajudado bastante.

-E aí Carol?- ela me abraçou - Pronta para mudança?

Olhei para ela querendo pular no pescoço dela por tocar nesse assunto.

-Eu já disse que não quero falar sobre isso

-Ah, Carol...

-Alguma novidade?- perguntei, mudando de assunto.

-Seu padrasto vai nos dar aula nas quartas e nas quintas- disse ela me entregando o papel com os horários e eu quase dei um ataque do coração.

É impossível mesmo fugir desse assunto, mais cedo ou mais tarde eu teria que encará-lo. É claro que não ia fazer isso com calma, então explodi:

-TANTAS ESCOLAS NA CIDADE! PARECE PERSEGUIÇÃO. ELES SABEM MUITO BEM QUE EU NÃO ESTOU OK COM ISSO TUDO. ME FAZEM IR PARA SÃO PAULO CONHECER AQUELE OUTRO INFELIZ LÁ, QUE OBVIAMENTE , ARRUMOU UMA DESCULPA PARA NÃO APARECER NO JANTAR. QUEM NÃO FARIA ISSO? FORÇAM UMA MUDANÇA AS PRESSAS, UM CASAMENTO DESESPERADO. PRA QUÊ? ATÉ PARECEM QUE VÃO MORRER AMANHÃ! - falei tão rápido que quase me engasguei.

Por mais que eu não quisesse conversar sobre aquilo, colocar tudo para fora aliviou o nó que eu estava sentindo na garganta. Minha mãe estava me fazendo engolir esse casamento goela abaixo, sem nem perguntar se eu concordava. Ela já foi apresentando o cara e avisando que estava noiva. Isso mesmo produção! Ela ia C-A-S-A-R!

-É o amor -falou Gabi, piscando os olhos e quebrando a minha onda de alívio. Ela às vezes é tão incoerente que chega a ser irritante. Alguém que me deu forças para ficar em "paz comigo mesma", me incentivou a me exercitar para esquecer os problemas... Passar implicar comigo dessa forma? Ah pera lá né...

-Você está falando sério? Você tirou o dia para me encher, é isso?- brinquei com ela, mas no fundo estava falando sério- Eles podiam me dar um pouco de espaço. É só o que eu peço.

-É hoje?- Gabi perguntou e eu baixei a cabeça desejando que não fosse. Mas aquele era o dia da mudança para a casa nova. O casal de pombinhos comprou um apartamento no Bairro Peixoto, em Copacabana, e eu teria que me despedir da casa onde eu cresci e tive vários momentos com meu pai na minha infância, em Santa Teresa- Posso te fazer uma pergunta?- continuou ela.

As Confusões de uma AdolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora