Marcada pelas Chamas

PARTE I - FLORESTA

Sempre achei que minha vida era perfeita, que viveria um conto de fadas. Que um dia minha fada madrinha surgiria e iria me vestir em um lindo vestido, com sapatinhos de cristais e uma linda tiara para que eu pudesse encontrar meu príncipe. Acreditava que um dia o meu príncipe encantado chegaria em um lindo cavalo branco, galopando em meio a um campo florido,mas, ele chegou lutando contra todos para me salvar, veio bravamente me amar e lutar pelo meu amor. Veio salvar-me de mim mesma, de todos os meus demônios, de todos os meus medos. Mostrou-me que o amor não é mudar por alguém, mas é transformasse em alguém melhor por si mesma. Que o amor pode doer, arder, machucar. Mas ele também cura, sara, alivia.

Eu sempre ouvi que quando você se depara com a morte, quando você está a um passo de cair do precipício, lentamente tudo o que você já viveu, tudo o que você já fez, todos os seus pecados, todas as suas dores e lutas, iam surgir na sua frente, como um filme. Não haveria escapatória, a morte surgirá para todos. Mas, naquele dia ela apenas bateu em minha porta deixando um aviso. Mas não foi a morte que veio, foi a minha mãe.

Ela estava vestida em um dos seus vestidos rodados. Ele era de um tom azul bem claro, seus cabelos estavam soltos e havia um brilho em seus olhos que jamais havia visto. Ela era um anjo, o meu anjo da guarda. Ela tocou com a ponta dos dedos o meu rosto, fazendo uma leve caricia. Lagrimas começaram a cair pelo meu rosto. Eu senti tanta saudade dela, do seu carinho, do seu sorriso, do seu cheiro.

- Mãe..

Minha voz sai embargada. Abro os olhos e a vejo sorrindo pra mim.

- Mãezinha.

Jogo-me em seus braços, e aperto bem forte contra mim. Deus! Foram tantos anos desejando um abraço seu. Ela me aperta em seus braços e inspiro seu cheiro de rosas.

- Senti tantas saudades da senhora mãezinha. Por favor, mãe me ajude. Eu sinto tanta dor, tanto ódio. Ajude-me mãe, não me deixe.

- Não chore minha pequenina. – ela limpa minhas lágrimas e sorri. – Eu sempre estarei ao seu lado meu amor. Mesmo que não me veja, estou aqui segurando em sua mão.

Ela passa a mão por meus cabelos, e coloca a mão em cima do meu coração.

- Não se permita sentir ódio, nem dor, minha menina. Eu sei o quanto você sofreu, e não posso dizer que não sofrerá mais. As pessoas nunca carregam um dor maior do que podem suportar. Você pode achar que não dá mais conta de todo esse caos, mas, no fundo você ainda possui uma força inabalável. Sorria para a dor, pule para longe do sofrimento, corra do mal e principalmente deixe a porta do seu coração aberta para que Deus possa aliviar ele do caos que te persegue.

- Deus? Foi ele quem trouxe toda essa dor pra mim. Ele me tirou vocês, me tirou o Petr. Tirou-me a vontade de viver, a bondade, o amor, ele me tirou tudo, deixou apenas a dor. Cada dia que passa sinto meu peito rasgar cada vez mais. Sinto-me sufocar, afundar. Eu não consigo mais, mãe. Eu preciso de paz.

- Não culpe Deus, por todas essas coisas meu amor. Você está passando por tudo isso, porque se fechou para ele. Permita-se confiar novamente nele minha menina. Deus jamais desistiu de você, ele bate ai pedindo, gritando para que você o deixe te ajudar. Escute-o. Abrace-o. Ame-o. Perdoe-se. Você ainda tem mais uma chance de fazer as coisas certas, não a desperdice. E lembre-se: sempre estarei ao seu lado.

Aos poucos ela vai sumindo, e uma angustia toma de conta do meu corpo. Corro atrás dela, mas, quanto mais eu corro mais distante ela fica. Antes que sua imagem suma por completo ainda consigo ouvir o seu sussurro.