Capítulo 3 - Ouvindo e Aprendendo

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Algumas das minhas melhores recordações vêm das vezes em que me sentava no balcão da cozinha de Graceland, tomando café da manhã com tia Delta.

Muitas vezes éramos as primeiras a tomar o café da manhã; logo em seguida as outras empregadas também sentavam e comiam com ela, ou, se já tínhamos comido, tomavam uma xícara de café com ela enquanto ela comia um pouco mais.

Ela normalmente comia ovos, bacon, torradas, café com creme e açúcar. Comumente ela se levantava para tornar a encher sua xícara com café fresco.

Às vezes parecia que ela estava esperando por nós assim como frequentemente esperávamos por ela – como uma verdadeira família.

Em seguida, após a refeição matinal e várias xícaras de café, intercaladas com a programação da TV em cima do balcão do outro lado de onde estávamos sentadas (que ainda hoje pode ser vista nas excursões), tia Delta saía para cuidar das atividades diárias que visavam o bom funcionamento da casa.

Um pouco mais tarde, ainda de manhã (geralmente em torno das dez) Dodger entraria na cozinha, com ótima aparência. Sempre vestida impecavelmente, usando um dos seus lindos vestidos com um lenço combinando, usando também um avental de marca. Ela se orgulhava de estar sempre paramentada como uma típica e vaidosa senhora sulista.

A sua presença iniciava a segunda rodada do "clube do café da manhã". Deveríamos trazer para ela café, um prato com biscoitos e uma tigela de molho de carne, para ela derramar sobre os biscoitos. Poderíamos, então, sentar e beber mais café com ela. Muitas vezes pensei que éramos as principais mantenedoras da indústria do café e dos negócios de Memphis!

Foi durante aqueles tempos, sentadas ao redor do balcão branco e bebendo café, que Dodger compartilhou tantas lembranças da família Presley.

Ela me disse uma vez: "Foi um pecado o irmão gêmeo de Elvis não ter sobrevivido. Foi culpa do médico. Ele não teve competência suficiente para identificar a presença de dois bebês ao invés de um. Eu disse a Vernon que o médico não era bom, mas Vernon era jovem e não entendia dessas coisas. Eu pessoalmente teria corrido para buscar outro médico fora da cidade, mas Vernon não me deixou fazer isso".

Ela nos contou histórias do tempo em que Elvis crescia. Ele pode ter se tornado uma estrela quando adulto, mas o fato é que ele cresceu como qualquer outra criança pobre que nasceu durante a Grande Depressão em Tupelo, Mississippi.

Dodger nos contou como Vernon e Gladys não puderam pagar os remédios quando Elvis ficou doente. Quando ele tinha dores de estômago, por exemplo, davam a ele doces de hortelã com pimenta (embebidos durante a noite em aguardente) para acalmar-lhe o estômago. O médico provavelmente não teria aconselhado isso, mas aparentemente funcionava.

Dodger nos disse que quando Elvis era pequeno, ela morava bem ao lado deles em Tupelo. "Ele era tão bonitinho", contou. "Ele costumava ficar bravo com Gladys por qualquer motivo e ia a pé até à minha casa. Eu já sabia que ele estava chateado porque ele vinha com algumas de suas roupas enroladas num saco de papel. Contava-me que havia fugido".

"Quando Gladys descobria que ele estava comigo, eu pedia para deixá-lo sob meus cuidados; eu o levaria de volta depois que ele ficasse mais calmo".

"Eu lembro que quando Elvis era pequeno, ele brincava com algumas das crianças do lugar. Bem na frente da casa deles havia uma vala com água. Um dia, Elvis, em um "desafio," sentou-se na vala e ficou com a roupa toda encharcada. Eu estava cuidando dele naquele dia, e quando ele entrou eu bati nele com uma palmatória. Ele chorou e me prometeu que isso não aconteceria novamente. Ele pareceu tão triste [e arrependido] que acabei chorando também".

Dentro de Graceland (Nancy Rooks)Onde histórias criam vida. Descubra agora