De alguma forma, lentamente, nos dias subsequentes ao enterro de Elvis, as coisas começaram a voltar ao normal em Graceland.
Embora soubéssemos que nada seria como antes, a necessidade ditou que a vida na mansão retornaria, ao menos para alguma aparência de normalidade.
Afinal de contas, mesmo com a partida de Elvis, sua família continuou a residir ali. Sua avó, Minnie Mae, bem como sua tia Delta, ainda estavam bem vivas. E, apesar de Vernon ter sua própria casa, ele manteve o escritório nos fundos da casa e usou a mansão como sendo sua.
Mesmo após a morte de Elvis, o escritório tinha que ser mantido e os negócios realizados. Contas precisavam ser pagas, fãs ainda escreviam pedindo fotos, horários precisavam ser mantidos. E, claro, Lisa Marie continuaria a visitar [seus parentes em Graceland].
Além disso, Charlie Hodge ainda morava lá, assim como outros membros da comitiva de Elvis.
Ainda era nossa responsabilidade (como sabíamos ser a vontade de Elvis), que continuássemos a manter Graceland um lugar confortável para todos eles, como quando Elvis era vivo.
Ele certamente não consentiria em nenhuma alteração.
Não lembro quantos meses custaram para que as coisas voltassem ao que eu chamaria de "normal". Só sei que não aconteceu logo.
Um sentimento de perda permeava toda a casa, com uma sensação que eu jamais experimentara antes. Durante muito tempo eu me vi falando num tom abafado, como se Elvis tivesse acabado de falecer naquele dia.
Era difícil seguir em frente com nossa rotina, agindo como se as coisas continuassem as mesmas. Não eram as mesmas; mas, claro, ainda tínhamos as mesmas responsabilidades para assumir.
A única coisa que mudou foi que Elvis não estava mais fisicamente conosco. Digo "fisicamente", porque coisas estranhas começaram a acontecer depois que ele morreu.
Devo dizer que não sou daquele tipo que se assusta facilmente, ou acredita [piamente] no sobrenatural, mas admito que fiquei nervosa em mais de uma ocasião, devido a eventos ocorridos [na mansão] após a morte de Elvis.
Não fui a única pessoa que pensou ter ouvido e visto essas coisas; muitas outras ouviram e viram o mesmo tipo de coisas. Então isso não pode ser mera coincidência.
Quando comecei a trabalhar em Graceland, comentei com várias das outras empregadas que a casa ainda estava "habitada" pela mãe de Elvis, Gladys. Minnie Mae me contou que ela também tinha ouvido e visto coisas que a levaram à mesma conclusão, fazendo-a crer que era mesmo o espírito de Gladys habitando a mansão, como para certificar-se de que estavam cuidando bem de Elvis.
Sendo muito cética, eu não acreditava nisso.
Depois de vários meses, no entanto, eu já não tinha tanta certeza. Comecei a ouvir passos vindos do andar de cima, quando eu sabia que ninguém estava lá. Outras vezes ouvia uma voz fraca vinda de um quarto e, quando ia lá conferir, não havia ninguém.
Chegou a um ponto onde acabei "dizendo para ninguém": "Eu sei que você está aqui, sra. Gladys, e isso é bom".
Lembro de um dia ter dito algo nesse sentido em voz alta e, em seguida, percebendo o que fizera, olhei em volta para ter certeza de que ninguém tinha entrado na sala e me visto falando sozinha.
Felizmente, nunca senti medo do que estava acontecendo [ali]; no entanto, devo admitir que isso às vezes tornava-se irritante, especialmente se eu estivesse sozinha à noite.
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Dentro de Graceland (Nancy Rooks)
RandomNeste livro, Nancy Rooks recorda a época em que trabalhou como empregada doméstica de Elvis Presley (1935-1977) em sua mansão, Graceland. Um singelo relato de parte do cotidiano do rei do Rock.