Quarta-feira, 17 de agosto, foi o dia que todos em Graceland não queriam ter vivido. Acordamos com a fria realidade do dia anterior não ter sido apenas um sonho ruim. Tudo tinha sido muito real e uma realidade ainda mais dura viria em seguida. Elvis, na antiga tradição do sul que ele tanto tinha amado e respeitado, estava voltando ao lar – morto, num caixão, e pronto para ser sepultado no dia seguinte.
Neste dia todos nós ficamos cara a cara com a sua mortalidade; um pensamento que, até o dia anterior, nunca tinha sequer passado pelas nossas mentes. Era algo que não estava mesmo no domínios da possibilidade. Mas, no início daquela manhã, isso foi como um tapa no meu rosto, quando fui trabalhar.
Eu voltara tarde para casa, na noite anterior, e retornei para Graceland com o sol nascendo. Dormi pouco, e os que lá ficaram [em Graceland] estavam extremamente inquietos.
"Outro dia quente e úmido de verão," foi o que pensei, enquanto rodava pelas ruas lotadas em torno de Graceland, em direção aos portões da frente.
A multidão ao redor dos portões era considerável, mesmo àquela hora da manhã. Em contraste com a expectativa das pessoas no dia anterior, agora uma melancolia impregnava tudo. Era como se um sentimento de descrença tivesse tomado conta de todo aquele pessoal em frente da mansão. Elvis estava morto, mas seus fãs agora estavam determinados a mostrar ao mundo o quanto eles amavam seu ídolo.
Uma seção transversal da América poderia ser vista reunida em frente à casa de sua estrela, prestando silenciosa homenagem àquele que consideravam um deles. Não apenas mulheres, mas havia também homens, e muitos deles choravam abertamente. Apesar de não conhecê-los, pude sentir a sensação de dor e perda deles enquanto dirigia lentamente através da multidão.
Carros estavam estacionados em toda parte. Equipes de notícias e seus veículos com equipamentos podiam ser vistos estacionados em ambos os lados da "Elvis Presley Boulevard". Repórteres de jornal e televisão ansiosamente tentavam encontrar qualquer pessoa para entrevistar que tivesse conhecido Elvis.
Tive alguns microfones empurrados esperançosamente para mim enquanto fazia meu caminho até o portão da frente, pois tornou-se óbvio que eu ia entrar – um sinal de que eu era um dos "poucos escolhidos".
Me senti mal por não poder satisfazer os pedidos por qualquer indício de informação, mas a verdade é que não estava com disposição para falar com a imprensa naquelas circunstâncias. Só de pensar no fato de que Elvis estava morto, e eu ainda no padrão familiar que fora enraizado em mim desde o primeiro dia que eu fui trabalhar em Graceland - "Não conte a ninguém nada sobre Elvis!"
Na realidade, mesmo então, eu ainda me preocupava e procurava proteger Elvis. Naquele momento tão delicado, todos ainda sentíamos lealdade a ele.
Eu não tinha perdido apenas um patrão. Ele tinha, deveras, se tornado um amigo querido. Estar lá naquela manhã era como ser traspassada por uma espada de dois gumes. Por um lado, precisava lidar com a dor normal que ocorre em momentos como esse. Por outro, era esperado de todos nós, de Graceland, que "déssemos conta do recado", fazendo o que precisasse ser feito para organizar todo o funeral. A tarefa diante de nós seria nada menos que monumental.
Por mais que estivéssemos sofrendo, tínhamos de pensar prioritariamente na família, e em como confortá-la. Eles precisavam do apoio e da força de todos ao redor deles, e nós estávamos determinados a fazer da melhor forma possível.
Eu não sabia o que esperar quando cheguei. Mas percebi que todos contribuíam para que a quietude reinasse. Priscilla chegara por volta da meia noite, ficando acordada até tarde, ouvindo sobre o trágico acontecimento, e agora ela estava dormindo com Lisa num dos quartos do anexo. Mas não foi tudo o que eu esperava encontrar naquela manhã.
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Dentro de Graceland (Nancy Rooks)
RandomNeste livro, Nancy Rooks recorda a época em que trabalhou como empregada doméstica de Elvis Presley (1935-1977) em sua mansão, Graceland. Um singelo relato de parte do cotidiano do rei do Rock.