Memórias

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Quando a carroça entrou, Ten e Araden  observavam estrategicamente todos os detalhes, falhas nas muralhas, nas torres de vigia, mas focaram depois os seus olhos no batalhão de 300 soldados Igualitários que estava à sua frente, soldados habilidosos, tropas oficiais do Rei dos Homens, tinham a tarefa de manter a ordem nas terras do Norte, utilizando os meios que entendessem. À frente do batalhão,encontrava-se o seu capitão, um sujeito de Cabelos loiros e olhos cor de mel,como a maior parte dos Igualitários, ele tinha a barba aparada e uma armadura vermelha e dourada, digna de um capitão. Ele tinha também uma lista na mão. O capitão não apresentava um aspeto sádico nem sanguinário, apenas de quem fazia o seu trabalho, para garantir a paz. Tennzin não concordava nem conseguia entender a guerra entre os rebeldes e o Rei dos Homens, apenas sabia que, muitas vezes, os cidadãos e até mesmo os soldados não tinham escolha quanto aos seus atos. A morte de pessoas inocentes e os motivos de vingança não eram inexistentes em nenhum dos dois exércitos, tornando assim a situação de ambos os lados muito difícil.
Após uma observação da fila de criminosos,o capitão gritou:
-Jaendal Forendake, dê um passo em frente!
Um dos prisioneiros da carroça saiu para perto do capitão com um ar assustado e desesperado, aquele era o olhar de quem sabia que ia morrer. Ajoelhou-se perante uma tábua de madeira. Ao seu lado, estava um carrasco, com um helmo de aço na cabeça, uma armadura pouco ornamentada e segurava um machado sujo com as duas mãos.
-Comandante Andara...
Disse o capitão como se estivesse aguardando por ordens.
Aí, uma mulher de pele escura e cabelos negros, ostentado uma armadura dos Igualitários com muitas medalhas no peito deu um passo em frente e gritou:
-Condenado por difamar a causa dos Igualitários, atacar um grupo de soldados e roubar comida em várias plantações do Norte, Jaendal Forendake é considerado culpado! Morte!
Depois das ordens, o carrasco decapitou o prisioneiro que se encontrava já ajoelhado sobre a tábua de madeira. O chão deixara de ser branco, estava agora coberto de sangue.
Araden estava notavelmente incomodado, apesar de já ter tirado muitas vidas, sentia sempre pena, pelas vítimas e pelas famílias que as pediram.
Ten, por sua vez, tinha um olhar de desinteresse, ele já não tinha amor à vida nem se importava com a  vida dos outros. Ao ver a cara de alguém prestes a morrer, relembrava apenas as caras de horror dos vários orcs que havia matado sem piedade, ou de outros homens, seus conhecidos ou seus inimigos, que havia visto morrer durante o percurso da sua vida. Para ele, a morte não tinha qualquer significado, já que toda a sua família, amigos e conhecidos haviam morrido há vários anos. Ele não tinha qualquer motivo para temer a morte, pois não tinha ninguém por quem viver, apenas rezava, com toda a força existencial do seu interior, convocando todo o seu antigo "eu" , para que ,assim que morresse, pudesse rever aqueles que amava. Um  dos soldados do batalhão levou o corpo embora e outro levou a cabeça.
Quando o espaço estava novamente pronto, o capitão voltou a gritar:
-Araden Therendale! Dê um passo em frente!
Araden olhou com desprezo para o capitão, mas avançou para se ajoelhar sem resistir nem perder o orgulho, olhando-o de cima. O capitão encarava-o, com uma expressão curiosa, não de desprezo, mas com um certo alívio, apenas desejando que a morte do rebelde enfraquecesse os bárbaros o suficiente para acabar com aquela guerra. Ele colocou a sua mão sobre o ombro do líder rebelde e sussurrou, enquanto o colocava de joelhos:
- A tua causa já destruiu o suficiente, que a tua morte sirva para salvar a vida de outros milhares.- Araden, assim como a maior parte dos Guerreiros Cinzentos, guardava um ódio profundo aos Igualitários, mas reconhecia aquele momento como a hora da sua morte. Era inevitável.
A comandante voltou a recitar:
- Condenado por traição, assassinato e ir...- Mas o seu discurso foi interrompido por um barulho. Um barulho agressivo que cortava o vento, o rugido gutural e estridente , um barulho por muitos desconhecido, mas por Tennzin, agora relembrado. Era um barulho que havia ficado para sempre na sua memória, era o barulho de um Dragão.

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