O Desfecho

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Ao ouvir a porta de sua cabine ser aberta, o poderoso Corsário Negro virou o rosto para que, quem quer que fosse o seu visitante, não visse a situação de seus olhos vermelhos.

E mesmo depois de saber que quem adentrava o seu covil era Murray, ele ainda assim não permitiu que o homem visse a sua dor. Não sabia como fazer aquilo parar e sentia péssimo ao não ter uma solução para algo.

Era o maldito capitão de um navio famoso e temido. Como poderia se ver tão fraco por uma emoção? Como era possível que um adeus pudesse desfazer uma pessoa de maneira tão profunda.

De repente não era mais um capitão infame, não era mais o notório Corsário Negro, não era um dos piratas mais perigosos de toda a história da navegação britânica. Era apenas a metade de um homem, a pálida imagem do que um dia fora. E sabia exatamente porque não era mais o que costumava ser. Ele entregou tudo o que tinha para aquela mulher, dera não apenas uma parte de sua fortuna dentro daquela pequena arca. Ele havia dado mais do que isso, dera a sua alma à ela no momento em que enterrara o seu corpo dentro do dela, que permitira que ela desnudasse o seu corpo para ele, dera tudo o que era e sempre fora.

No entanto não estava preparado para aquela dor. Não imaginava que entregar o seu coração fosse algo tão dolorido e avassalador.

- Você pretende continuar aqui apiedando-se de si mesmo, Henry? – perguntou o imediato de seu local perto da porta, agora fechada.

- As velas já foram içadas para a nossa partida, conforme ordenei?

- Não cumprirei esta ordem e sabe porque.

- Deseja andar na prancha por insubordinação, Murray? Deposito toda a minha confiança em ti, mas não pensarei duas vezes antes de atirar você ao mar.

- Como permitiu que ela se atirasse? – a pergunta viera tão rápida e ardera tal qual uma tapa na face. E por isso Henry virou a cabeça de uma vez na direção do seu amigo mais querido. Ainda que não quisesse que ele visse o quão destruído estava, sabia que ele entendia mais do que qualquer outra pessoa, como era se apaixonar por alguém a quem não se podia ter.

- Ela jamais seria feliz ao meu lado e você sabe disso.

- Rosamund era outra quando entrou nesse navio pela primeira vez. A vida na sociedade era tudo o que ela conhecia, a sensação de liberdade que ela tinha era uma mentira, ela sempre fora cativa das regras e bons modos. Mas aqui nós demos mais do que a visão do horizonte a ela, nós lhe demos asas.

A mão do capitão tocou o próprio ombro onde uma das pontas de sua gigante tatuagem de asas começava e soube que, se pudesse, estenderia as suas asas na direção de Rosie para jamais permitir que ela se ferisse novamente. Que jamais tivesse que juntar joias falsas pela família, que se sujeitasse a regras falhas, que se entregasse a alguém sem amor.

Porque por mais nobre e virtuoso que qualquer nobre naquela corte pudesse ser, ele jamais estaria pronto para amá-la como Henry estava.

Jamais, em qualquer época ou em qualquer mar, haveria um homem tão apaixonado e entregue em uma mulher quanto Henry se encontrava. Era mais do que amor, era uma sensação de preenchimento que ele apenas sentira quando estava ao seu lado. Céus, até mesmo provocar a mulher para ver aquele vinco de raiva formar-se entre os seus olhos era prazeroso demais.

Como poderia lidar sem ela?

No entanto estava ciente da realidade e sabia que, por mais que desejasse o contrário, o lugar de Rosamund St. John não era ao seu lado. Era na corte, ao lado de um homem de alta estirpe e de título alto. Não ao seu, não sob suas asas.

A Sedução do CorsárioWhere stories live. Discover now