A Sedução do Corsário

O Resgate

O rosto do temível Corsário Negro estava pálido enquanto ele e todos os outros marujos do imponente navio se penduravam no cais, observando o mar lá embaixo, à espera de que a mulher voltasse à superfície.

Henry Basset estava tentando a todo custo esconder a sua raiva, mas não havia maneiras de disfarçar um sentimento tão latente. Como Rosamund fora tão imprudente àquele ponto? Não deixara claro que estava disposto a ser dela se a sua donzela assim o quisesse?

- Joguem a escada. – disse o capitão de má vontade, ao que os marujos pensaram.

Porém, apenas Murray sabia que o homem queria se afastar o mais rapidamente possível daquela prancha. Nem mesmo o próprio marujo podia compreender os motivos que levaram Rosamund St. John a se atirar no mar, mas se fosse questionado, ele teria de concordar que nenhuma mulher mostrara o brio e a coragem que aquela donzela havia demonstrado diante de todos aqueles homens.

Em silêncio, Henry afastou-se do convés, pronto para ir para o seu aposento, onde poderia dar vazão a todos os sentimentos que torturavam seu peito quando um dos seus homens anunciou.

- Ela ainda não veio à superfície, Capitão.

Os olhos verdes se arregalaram enquanto ele corria de volta para o convés, observando o mar abaixo de si, calmo e impassível, como se não tivesse acabado de dragar o maior tesouro que Henry Basset já usurpara.

Sem pensar duas vezes, o capitão tirou sua camisa negra e a bandana que protegia seus cabelos, permitindo que seus homens vissem as marcas negras em forma de asas que decoravam as costas do capitão, dando-lhe um ar ainda mais ameaçador. Henry não precisou de ajuda para inclinar-se contra a beirada de seu navio e se jogar no mar.

Como não havia percebido antes? Era evidente que Rosie não subiria à superfície. Ela não sabia nadar e suas roupas, mesmo sendo uma daquelas camisolas reveladoras que as damas da sociedade usavam, ainda era pesada e grande demais para ajudá-la a boiar. Uma dama de qualidade da alta sociedade não tomava participação em atividades como nado, ainda que vivesse em uma cidade litorânea como era o caso de Rosamund.

O medo fazia com que o coração de Henry batesse forte contra seus ouvidos. A sua respiração suspensa enquanto mergulhava vigorosamente, com os olhos abertos, sem medo de queimá-los com a água salgada. Tudo o que desejava era encontrar Rosie e levá-la viva para a cima. Não seria capaz de perdoar a si mesmo se não a encontrasse.

Uma leve movimentação na superfície deixou que ele soubesse que a chuva começara a cair forte contra o mar e o tornaria bravio com as rajadas de vento que a acompanhava. Ele teria ainda menos tempo para encontrar sua donzela.

Com o canto dos olhos, viu uma pequena onda formada por algo branco e a sua intuição lhe permitiu saber que a havia encontrado. Mergulhou com ainda mais afinco até estar diante dela. O corpo estava afundando-se lentamente e ele sabia que ela havia perdido a consciência em algum momento de sua luta contra o mar. Agarrando-a com força, deu tudo de si para movimentar suas pernas com mais força para poder levar a si mesmo e ela para cima. Os cabelos longos de Rosie flutuavam ao seu redor, mas Henry estava obstinado a salvá-la. Era seu dever, porém, mais do que isso.

Havia algo dentro de si, sem explicação até o momento, que o impelia a fazê-lo. Precisava salvá-la, como os piratas antes de si haviam mergulhado o mais profundamente que conseguiam para resgatar os tesouros mais preciosos.

Ela era preciosa para Henry.

Quando finalmente irromperam no topo do mar, Henry soltou o fôlego e finalmente pode respirar oxigênio para dentro de seu pulmão. A chuva estava forte, mas ainda conseguiu segurar a escada de cordas que oscilava para fora do navio e o corpo de Rosie. Murray desceu rapidamente, erguendo o braço para ajudar o seu capitão a segurar a donzela, ambos carregando o seu corpo escada acima, até que todos os marujos se juntaram para facilitar a tarefa de retornar Henry e Rosie para dentro do navio.