O Pedido

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Uma serviçal atravessou apressadamente o salão de baile e Rosamund suspirou baixinho, temendo que a mãe pudesse lhe dar alguma bronca por suspirar alto demais e demonstrar por completo o seu enfado em relação àquele evento em especial.

Porém, como poderia parecer ainda que remotamente interessada quando aquele baile não poderia ser descrito nem sequer como tedioso, já que isso o qualificaria como melhor do que realmente era.

Jamais pensara que daria razão ao Corsário Negro.

Rosamund mordeu o lábio imediatamente assim que a lembrança a atingiu.

Não deveria pensar em Henry Basset, não deveria dizer o seu nome, não deveria permitir que suas lembranças viessem à sua mente porque fora escolha dele que a sua partida os separasse. Fora ele quem olhara em seus olhos e permitira que atingisse o porto com um pequeno baú cheio de ouro, como se Rosie não fosse mais do que uma vagabunda barata que o tinha entretido no mar durante aqueles dias e, no primeiro porto, houvesse sido despachada como a um barril de rum barato.

Sabia que isso aconteceria, afinal, as criadas costumavam fazer comentários sobre as damas da noite e os homens do mar e a história era sempre a mesma, o mesmo conto do homem do mar que recolhia uma mulher em cada porto, um amor em cada baía e depois o devolvia, como se o seu coração só pudesse conter o mar e nada mais.

Agora Rosamund entendia. E bem demais.

O coração de Henry era capaz de conter apenas o mar e o dela, agora sabia, era capaz de conter mais dor do que já supusera ser capaz de conter.

No entanto, sua família insistia que haviam uma porção de motivos para sorrir. Haviam comprado a casa de volta do primo, alegando que o dinheiro que Rosamund conseguira era uma herança de uma tia distante em York. Também conseguiram vestidos novos e também convites para a alta roda. Os abutres nobres pareceram sentir o cheiro das moedas de ouro e com isso, os convites começaram a serem deixados em sua porta, cartões de visita começaram a serem entregues e a cada vez que esses eventos aconteciam, tudo o que Rosie conseguia pensar era no quanto o maldito Corsário Negro estava correto.

Até mesmo o dia mais calmo no mar, era mais interessante e agitado do que aqueles eventos exaustivamente ensaiados.

Tudo parecia vir de um roteiro do teatro grego. Não havia modificações. Todos os eventos se sucediam da mesma forma, todas as conversas abordavam os mesmos assuntos e todas as fofocas vinham das mesmas bocas ocultas por leques que abanavam tão rapidamente do que suas línguas ferinas pronunciavam os boatos.

E Rosie sabia quem era a protagonista deles.

Afinal, nenhuma mulher sumia por tanto tempo sem uma boa história por trás da razão que a levara ao desaparecimento da esfera social. Gravidez, um caso com um nobre casado e outras razões tão estapafúrdias quanto, sempre eram as razões comuns e foram cogitadas enquanto Rosamund estava distante. Sua mãe, ainda que abalada com sua partida, uma vez que seu desaparecimento fora repentino demais, inventou uma desculpa qualquer de que Rosamund saíra às pressas para acompanhar uma tia idosa em algum lugar do interior e o fato de Rosamund voltar com uma soma de ouro grande o bastante para uma duquesa viver confortavelmente, fizera com que os boatos, ao invés de arreferecem, ficassem ainda mais fortes.

"Quem poderia ser a tia idosa?", "Por que ela saíra no meio da noite sem falar para ninguém" "Quanto ela havia conseguido com a morte da tia?" "Agora que era rica, Rosamund St. John teria vários pretendentes, mas quem ela escolheria?"

E essa era a pergunta que movia, aos sussurros, a maior parte dos bailes. Quem Rosamund St. John elegeria como seu futuro esposo. Pretendentes não lhe faltavam, o que era deveras irônico se comparado há alguns meses quando nenhum deles queria lhe tirar para dançar, como se o fato de não possuir um dote fosse o pior dos defeitos que uma mulher poderia ter.

A Sedução do CorsárioWhere stories live. Discover now