Depois de alguns dias navegando, todos dentro do navio sabiam que estavam bem perto de encontrarem terra firme novamente. E até mesmo o mais desatento de todos os marujos sabia o que aquilo significava.
Era notável o quanto o Capitão estava satisfeito ao lado da dama, o quanto parecia mais calmo, mais risonho, mais disposto. E todos ali sabiam que estes eram predicados que apenas o grande amor era capaz de trazer à pessoas tão completamente opostas como Henry Bassett e Rosamund St. John.
Murray era o único que sabia que já haviam atravessado dois portos, sem parar em qualquer um deles, rumando de volta para algum lugar que o marujo não tinha ideia de onde poderia ser. Não era estúpido, sabia que o Capitão estava adiando o máximo que podia para não ter de abrir mão de sua dama tão cedo. Não agora quando finalmente conseguira fazê-la estar em seus braços, porém todos sabiam que era um erro.
O verdadeiro amor era um conceito maravilhoso, mas nem sempre ele podia ser vivido. Um peixe bem poderia se apaixonar por um pássaro e ser amado de volta, mas onde viveriam?
Rosamund era uma dama, era pertencente à sociedade e Henry era apenas um Corsário, alguém que jamais poderia pisar num salão de baile sem ser julgado e condenado, sem ser alvo de diversos comentários maldosos e ter estes estendidos à Rosamund. Como ele poderia deixar que alguém tão preciosa fosse alvo de chacotas e meias conversas?
E ainda que decidissem viver no mar, navegando, vivendo de porto em porto, aquele não era o lugar de Rosamund, ela era educada demais,refinada demais para acostumar-se à uma vida tão simples por tanto tempo. Murray conseguia ver que haviam dias em que ela se sentia completamente perdida diante dos outros marujos, não sabendo como se encaixar ali, junto aos piratas.
Ainda que o seu amor fosse o mais belo e o mais profundo do qual já tivessem ouvido falar, havia tantas coisas a se considerar, havia tanto a se pensar e nem por um instante pensaram que as promessas de Henry, por mais verdadeiras que pudessem ser fossem realmente ser cumpridas.
Ah, se fossem pessoas diferentes! Se ele fosse um nobre, ela poderia ser sua sem questionamentos, apenas seriam um do outro. Poderiam viver aquele amor da maneira como desejavam. Mas ele não era.
Se ela fosse uma camponesa, alguém simples, uma filha de um estalajadeiro. Quem dera, fosse! Tudo seria tão simples.
Mas não eram e haviam complicações demais. E por isso a tensão naquele navio estava cada dia maior. Todos sabiam que o porto de Brighton estava perto, a um dia ou menos de distância se continuassem navegando naquele ritmo e isso significava que o momento de dizer "Adeus" estava mais perto do que Rosie e Henry gostariam.
Enquanto tinha o leme preso em suas mãos, Henry pensava, acompanhado do mar, sobre o que viria a seguir. Não esquecera das palavras de Rosamund quando lhe conhecera, sobre as dificuldades que sua família enfrentava, sobre a importância das joias que possuía, ainda que não valessem mínimas coroas.
Como poderia mantê-la consigo quando sua família precisava dela? Quando via que ela jamais se adaptaria à vida no mar? Quando sabia que por mais profundo que aquele amor fosse, ele jamais poderia ser vivido.
A sua decisão estava tomada e por isso seu coração sangrava. Havia gritado com seus marujos e ordenado que lhe deixassem na casa do leme e que, sob nenhuma circunstância, deveriam perturbá-lo. Tinha muito em que pensar, muito a ponderar e tinha a pequena esperança de que havia algo a ser feito, alguma ideia lhe brilharia, que o mar sussurraria alguma alternativa, para que não precisasse deixá-la ir.
Porém, tudo o que podia escutar era a voz de Murray, seu fiel marujo, dizendo-lhe, naquele momento em que o próprio Murray sofria por amor, doente e terrivelmente perturbado por amar a quem jamais poderia possuir que, ainda que o amor doesse, ele ensinava lições valiosas, ele era capaz de mostrar a verdadeira coragem no coração de um amor. Se ele amava alguém e deixava que essa pessoa partisse para o seu bem, não mostrava apenas a coragem, a força de aceitar ser açoitado pelas amarras do amor perdido, mas a humildade e a generosidade em querer o bem para quem realmente amava.
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A Sedução do Corsário
Storie d'amoreNo início do século XVIII, a donzela Rosamund St.John se vê cara a cara com o maior pirata de todos os tempos: o temido Corsário Negro. Os feitos do corsário eram conhecidos por toda a Inglaterra e além mar, seus tesouros eram inestimáveis e a sua d...