O Saque

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A camareira fechou a porta suavemente atrás de si, atendendo o pedido da Srta. Rosamund St.John para ficar sozinha. A pobre debutante havia alegado uma terrível dor de cabeça, comum e até mesmo esperada, uma vez que os salões de baile estavam sempre abafados e ensurdecedores.

Porém, ninguém a não ser a própria Rose sabia que havia mais do que uma simples dor de cabeça pressionando-lhe as têmporas. Em poucos dias estariam seguindo para Londres, sua mãe e irmãs prontas para lhe apresentarem em mais uma temporada, à espera de que um cavalheiro de boa índole, com um título aprazível e aparência regular fosse cativado pela beleza de Rosamund. Na realidade, elas não apenas esperavam, como rezavam por isso.

Sem filhos do sexo masculino, o antigo barão de Reynard, pai de Rosamund, foi obrigado a passar o seu título a um primo distante, o próximo na linha de sucessão àquele título que, sovina e arrogante como só ele, fez o possível e o impossível para não atender o último e desesperado pedido do antigo barão: que assistisse suas meninas até seus casamentos.

O novo barão lhes dera uma temporada, apenas, para que uma delas conseguisse um marido e assim pudesse "escorar-se", segundo as palavras do barão, em outro nobre. Do contrário, as quatro mulheres seriam colocadas na rua.

Rosamund passou a mão pelo relevo dourado da segunda gaveta em sua penteadeira. Ali estava grande parte de sua chance de contrair um bom matrimônio. Não era tão inteligente como grande parte das garotas que se apresentariam em Londres, naquela temporada, bem como sabia que não era a mais bonita de todas as jovens flores a debutar. Apesar de bem nascida, a notícia da herança do novo barão já devia ser de conhecimento público nas mexeriqueiras ruas da capital. O seu dote, composto de várias moedas de ouro e joias pertencentes a várias gerações de sua família seriam a sua única salvação. Não era muito, mas teria que bastar.

Apesar do som contínuo de carruagens passando de um lado para o outro, retornando ou indo em busca de novos convidados que se ausentavam do grande baile na casa do Duque de Westham, a noite estava calma, permitindo que os leves e relaxantes sons noturnos entrassem pela janela aberta, junto com a brisa marinha que tornava o calor de julho mais suportável. Sua mãe e irmãs decidiram ficar no baile por mais algum tempo, carecidas de um pouco de diversão, uma vez que suas mentes estavam sempre corroídas com a preocupação do despejo iminente. Ali, diante da janela, Rosamund apenas aproveitava a brisa e pedia, em silêncio, por alguma saída que pudesse salvar a sua família e a si mesma da mais completa ruína.

Era uma noite como qualquer outra, até que pequenos ruídos completamente destoantes daqueles que a noite em comum fazia, a fizeram virar-se assustada.

Diante de si estava um homem.

Não um homem como qualquer outro. Não um criado, alguém que se esperava encontrar em uma casa como a sua, com roupas de qualidade inferior, modos calmos e cabeça sempre abaixada diante dela. Nem era, tampouco, um cavalheiro como era comum se encontrar pelas ruas de Brighton. Não usava chapéu, não tinha os cabelos cortados à moda e suas próprias vestimentas eram um indicativo, um cavalheiro jamais se permitiria vestir-se naqueles trajes.

Seus cabelos compridos e um tanto revoltos escapavam por baixo do lenço preto estampado em branco, sua postura era altiva, ameaçadora até, e uma vez combinada com seu físico atlético e alto, fazia com que ele parecesse ainda mais temível. Todas aquelas características já lhe conferiam um ar feroz, mas havia algo em seus olhos verdes e sorriso confiante e malicioso que, a ela, provocou ainda mais pavor.

Poderia alegar que não conhecia tal sujeito, mas haviam fotos dele em todos os jornais, impedindo que o desconhecesse. Fotografias acompanhados das palavras "procurado" e "perigoso".

A Sedução do CorsárioWhere stories live. Discover now