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Como professor, minha única obrigação é dar minhas aulas e orientar meus alunos em suas formações, apoiando seus sonhos individuais e esclarecendo quaisquer que sejam suas dúvidas à respeito da minha matéria — Matemática. Todavia, isso não significa que eu devo achar bonito ver a maioria da turma atenta à minha voz ao explicar um determinado assunto (por mais chato e complicado que seja) enquanto apenas uma, em especial, sonha com unicórnios e arco-íris, dormindo no meio da minha aula e é sempre a mesma, Jessica Wan Colder.

Observador como sou, mantive meu silêncio durante o mês inteiro e deixei-a livre de qualquer advertência, mesmo que os demais colegas já venham reclamando sobre sua postura dorminhoca em reuniões com os superiores da escola. Todas as manhãs, era a mesma coisa, assistia a primeira aula, adormecia na segunda e só se encontrava realmente desperta nas aulas da tarde, o que não era nada comum para uma jovem que acabou de entrar em sua adolescência, certo? O que estava acontecendo? Será que ela é uma aluna tão dedicada que passa a noite inteira estudando para dormir metade do seu período escolar durante o dia? Vinha me perguntando isso até que decidi descobrir sozinho...

...E eu descobri.

Como era de se esperar, mais uma aula de matemática na manhã de segunda-feira se encerra e ela acorda espantada, graças ao som estridente do sinal que fez todos organizarem seus materiais às pressas e saírem desesperados da sala onde estou. Encostei-me em minha mesa, com meus braços cruzados, vendo-a andar com seus livros e seu caderno nos braços, com os cabelos desgrenhados e rosto sonolento, tinha até as marcas que as suas pulseiras fizeram na bochecha, porém, antes que ela chegasse até a porta pintada de branco, a fiz parar ao chamar por seu sobrenome.

— Sim? — respondeu ao chamado, com a voz arrastada de quem acabara de despertar, virando-se para mim, agarrada aos seus livros e a porta da sala onde estamos se manteve fechada assim que o fez.

— Precisamos conversar. — fui direto ao falar e a vi andar até parar bem na minha frente, franzindo o cenho em preocupação e, em seguida, olhando para seus pés pequenos dentro dos seus sapatos de cor rosa claro.

— Me desculpe, Senhor. — o pedido foi quase inaudível, devido ao tom baixo de sua voz tão doce e calma. — Juro que não queria adormecer durante sua aula mais uma vez, não vai acontecer de novo e...

— Sei o que anda fazendo, Colder. — minhas palavras a fizeram olhar no fundo dos meus olhos novamente e, desta vez, sua expressão facial a entregou completamente.

— Do que está falando? — questionou, pondo seus livros e sua bolsa sobre a mesa larga onde estou encostado, quanto a mim, apenas descruzei meus braços, apoiando minhas mãos na madeira polida da mesma mesa.

— Não precisa mentir mais porque eu descobri o seu segredo e agora sei o porquê de tanta sonolência. — pude ver a aflição em seus olhos castanhos grandes e expressivos que cintilavam, pois as lágrimas ameaçavam vir à tona à qualquer momento. — Mas fique tranquila, eu não tenho a menor intenção de usar isso contra você ou te prejudicar.

— É uma vergonha, eu sei, mas é a forma mais efetiva de ajudar minha família por enquanto. — justificou-se, adentrando as unhas decoradas nas suas madeixas escuras e longas. — Por favor, não revele isso à ninguém ou minha vida estará arruinada... para sempre.

— Sua família é realmente muito conservadora, além de muito conhecida e saber de algo do tipo, seria um verdadeiro escândalo em Berlim. — digo, andando até parar bem atrás da jovem estudante que entregou-se ao seu pranto desesperado. — Só quero te ajudar, meu anjo.

⚜ SACRIFICE ⚜ [PT/BR] Onde histórias criam vida. Descubra agora