I: Campos de Morangos para Sempre

87 11 10
                                    

"Viver é fácil com os olhos fechados
Sem entender tudo o que você vê"
(Strawberry Fields Forever, de The Beatles)

Mabel estava deitada em sua cama, pensando na vida. Ou, mais especificamente, em Diego.
    Ele era um desgraçado, ela sabia. E também sabia que estava certa desde o início. Quer dizer, do início até o meio. No final, ela realmente estava acreditando naquela mentira que construíra.
    Mabel sabia que deveria ter ignorado seus hormônios à flor da pele, e ouvido sua mente dizendo-a para parar imediatamente de observar o cara do outro lado do salão, rindo e bebendo cerveja no salão do baile.
    Mas Mabel não ouviu a si mesma. Ela não desviou o olhar, não pegou o caderno e a caneta em sua bolsa e não deixou que a emoção do momento fosse embora, como deveria ter feito. Ao invés disso, Mabel aceitou os flertes ridículos de Diego e o beijou.
    No início... Bem, o início não tinha sido tão ruim. Flores e bilhetes, demonstrações de afeto públicas e flertes. Bregas, mas ainda eram flertes. Tudo no início parece melhor. Mas depois, quando ele viu que ela já estava em sua mão... bem, começou a não aparecer na escola várias vezes, sem dar explicações; parou de deixar bilhetes para ela. As pétalas da flor morta que já apodrecia caíam, dia após dia.
    Mabel encara as pétalas em sua cabeceira, e se lembra de que esse foi o motivo dela ter terminado com ele.
    A última flor que ele lhe dera já tinha morrido e apodrecido, e a última pétala, já tinha caído.
    Mabel tinha tido seu conto de fadas, sua versão de "A Bela e a Fera". Mas, dessa vez, Mabel sabia que ela permaneceria Fera para sempre. A última pétala caiu e ela não tinha recebido nenhum "eu te amo" verdadeiro. Nenhum amor verdadeiro em sua vida.
    Agora ela sabia que o amor verdadeiro que procurava só existia em seus livros.
    Mabel fecha os olhos, ouvindo a música em seus fones. Era boa a época em que ela ainda acreditava que as pétalas não cairiam. A época em que ela vivia de olhos fechados, ignorando o fato de que seu namorado, aquele que ela julgava amá-la mais que tudo, só estava com ela por pena.
    Que nunca a amou de verdade, que o máximo que podia ter sentido era uma mera atração momentânea.
    Uma lágrima escorre pelos olhos de Mabel, e ela decide. Ela nunca deixará que ninguém entre novamente. Ela trancará o seu coração e jogará a chave pela janela. Mabel sabe que não pode deixar alguém ter tanto efeito sobre ela daquele jeito. E ninguém mais a faria derrubar outra lágrima.
    Não por amor verdadeiro.
    Porque este não existia, e Mabel julgava já ter recebido provas suficientes disso.

Hey, JudeOnde histórias criam vida. Descubra agora