VII: Querida, Vestida em Preto

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"Oh, querida, o que posso fazer?
A menina está de preto e eu estou triste
Me diga, oh, o que posso fazer?"
(Baby's in Black, de The Beatles)

Jack estava deitado na cama, pensando em várias coisas, e todos os pensamentos já um destino definido: Mabel Rodrigues, a garota no bar.
    Tocando covers dos Beatles e olhando para o rosto dela. Ela olhando para ele durante todo o show, e ele... Bem, ele finalmente vendo o sentido por trás das músicas da banda. O sentido por trás que ele achava que conhecia, mas só conheceu realmente naquele show no bar.
     Ele se encontraria com ela de novo naquela noite. Ele já estava morrendo de saudades, e não fazia nem vinte e quatro horas desde a última vez que ele a vira - a última e a primeira vez! Como ele podia estar tão... maluco assim?! Ele sabia que soava desesperado, e talvez achasse até mais do que realmente era. Não sabia nem que era possível se apaixonar tão rápido.
    Jack apenas precisava saber mais sobre Mabel do que "uma garota brasileira que gosta dos Beatles e que chegou em Londres ontem".

~

Jack: "Me fale sobre você."

Jack: "Isso foi uma mensagem bastante vaga? Foi, e eu sei disso. Mas achei que seria interessante sabermos mais um sobre o outro."

Jack tentou fazer outra coisa, e até conseguiu, mas prestando zero de atenção e com o celular ligado ao seu lado. Quando sentiu o celular vibrar ao seu lado enquanto estava tentando (e falhando) começar a ler um livro de literatura russa que nem sabia o nome,  deu um salto da cadeira e começou a ler a mensagem de pé, pois não conseguia nem ficar de pé tamanha a ansiedade.

Mabel: "Bom, é realmente bem vago. Que tal cada um fazer algumas perguntas e outro responde?"

Mabel: "Adoro jogos ;)"

Jack: "Tudo bem. Quer começar?"

    Jack quer começar a perguntar, mas achou que ser gentil seria uma maneira de controlar sua ansiedade. Bem, não adiantou nada, já que ele não conseguiu parar de segurar o celular até ler a resposta de Mabel, apenas observando o eterno "digitando" abaixo do nome dela.

Mabel: "Com certeza :)"

Mabel: "Artistas preferidos? Músicas preferidas dos Beatles? Você é cantor mesmo ou é só um hobby? Se é só um hobby, qual a sua profissão mesmo? E se não, se é a sua profissão, quais são seus hobbys? Gosta de Londres ou quer se mudar para algum lugar? Quantos anos você tem?"

    Jack sorriu, ao ver que ela também estava curiosa. Bom, ou ela era curiosa de natureza mesmo, o que já era um ponto que ele ganhava de já saber algo sobre ela.

Jack: "Meus artistas preferidos são The 1975, Arctic Monkeys, Troye Sivan, Melanie Martinez, Beatles e Nirvana. Quase todas as músicas dos Beatles, mas, atualmente, estou fanático por I've Just Seen A Face. Ainda estou fazendo faculdade (de design gráfico), mas sou cantor no tempo livre e recebo por isso. Meus hobbys são desenhar, escrever histórias e poemas e tocar violão. Gosto de Londres, e moraria aqui para sempre. Tenho vinte e um anos."

Mabel: "Faço vinte e um semana que vem. Sua vez ;)"

Mabel: "Eu sei que você está curioso para saber mais sobre mim, sou um mistério ;)"

    Jack morde os lábios, e começa a digitar freneticamente. Ela já tinha respondido a idade. Quais eram os artistas preferidos dela? Sim. Se ela gostava de ler? Se gostava dos livros de Harry Potter? Se gostava de ler fanfiction? Se escrevia? Se gostava de Harry Potter, qual era sua casa de Hogwarts e por que? Cores preferidas? Falar sobre os últimos fatos marcantes da vida dela.
    Jack quase sorri, satisfeito com o comentário. Clica no botão de enviar. Esperar a resposta, analisar a fonte na qual estava escrito o "digitando" na tela.
     Jack olha o seu quarto, enquanto espera a mensagem de Mabel chegar. O celular cai em seu rosto três vezes por minuto enquanto analisa a parede cheia de pôsteres de Harry Potter, da Corvinal e da Lufa-Lufa - o teste que fez tinha dado empate entre as duas casas. O Chapéu Seletor em cima de um banco em frente à janela, os livros nas edições branca, original e de colecionador na prateleira, as varinhas penduradas na parede. Jack analisa tudo aquilo, e começa a perceber detalhes, como o fato de que o cartaz da Lufa-Lufa esta desalinhado, e começa a achar que a resposta de Mabel está demorando um tempo bastante longo.
    Até que o celular vibra e Jack sai correndo em direção a cama, deixando que o cartaz da Lufa-Lufa caísse no chão.

Mabel: "Meus artistas preferidos são os mesmos que os seus MAIS Avril Lavigne e Ingrid Michaelson. Amo ler e escrevo fanfics na internet - histórias originais também. Adoro ler fanfics, sou fanática por Harry Potter e meu teste deu empate entre Sonserina e Corvinal. Não sei porque, hahahah"

Mabel: "Minhas cores preferidas são prateado, azul e preto. Fatos recentes da minha vida... acho melhor falar pessoalmente. Odeio falar sobre isso. Principalmente por mensagem."

    Jack levanta uma sobrancelha. Estava curioso para saber o que tinha acontecido com Mabel, mas não queria "forçar a barra". Ela não gostava de falar sobre isso, e ele não deveria fazer ela falar apenas porque ele estava curioso... certo?
    Ele volta a deitar na cama, com a tela do celular ainda brilhando. O que ele faria? E o que responderia depois... daquela resposta?
   Jack respira fundo e envia a coisa mais certa que se passou pela sua cabeça, mesmo que, ainda assim, ele não achasse que aquela não seria a resposta correta se fosse um teste.

Jack: "Você é, de fato, bastante misteriosa."

~

O que ele queria dizer com aquilo?! Mabel estava numa pilha de nervos. Será que ele estava curioso para descobrir mais sobre ela, ou será que aquilo era uma espécie de desistência, já que ela era misteriosa e complicada demais? Aquilo era uma crítica ou um elogio?!
    Mabel morde os lábios, guardando o celular na bolsa para prestar atenção na aula pela qual ela estava ali em Londres. O motivo de estar ali era aquela aula, e não um cantor de bar... ou não?
    Argh! Mabel amaldiçoa a própria cabeça por fazer aquele tipo de joguinhos com ela. Depois das ilusões que viveu na relação com Diego, Mabel tinha realmente muito medo dos truques da sua própria mente. Mais do que muita coisa por aí.
Será que estava acontecendo a mesma coisa com Jack? Será que todos os pensamentos, tudo que ela pensava ser um elogio... era apenas um truque? Será que a impressão que ela teve dele estar cantando para ela naquele dia era, de fato, só uma impressão?
Não podia ser. Ela não podia passar por aquilo de novo, pensar que estava apaixonada por alguém, e não estar. Mabel, você não é louca, ela diz para si mesma. Ou será que isso é apenas a sua loucura te afetando, para você não tentar parar?
Mabel teve vontade de gritar naquele momento, gritar que a cabeça dela estava explodindo de confusões e oposições, como se uma luta estivesse acontecendo ali, e, pelo amor de Deus, parem com os poemas de drama e tragédia russos!
Mabel fecha os olhos. Sinto muito, Jack. Ela pensa, sabendo que teria que terminar o que tinham naquela noite, mesmo que eles não tivessem nada, de fato.
Ela não podia se apaixonar, não naquele momento.
Porque ela ainda vestia preto, ainda estava de luto por um amor inventado.

Hey, JudeOnde histórias criam vida. Descubra agora