IX: Querida Prudence

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"As nuvens serão uma corrente de margaridas
Então deixe-me ver você sorrir novamente
Querida Prudence, por que não me deixa vê-la sorrir?
Querida Prudence, por que não sai para brincar?
Querida Prudence, receba o novo dia
O sol se levantou, o céu está azul
Está lindo e você também está
Querida Prudence, por que não sai para brincar?"
(Dear Prudence, de The Beatles)

Mabel está sentada na cama, de lado, olhando o lado de fora. Mesmo depois da noite anterior, chuvosa, e o dia todo nublado, ela conseguia ver o sol brilhante saindo por detrás das nuvens. Será que Jack estava esperando-a? Será que ele estava pensando nela todos aqueles dias, como ela fazia?
    O sol brilhava, escondido por entre as nuvens, no céu azul claro, como se dissesse que sairia, se ela também o fizesse. Os olhos de Mabel estavam com olheiras, ela se sentia horrível, podre, como se tivesse sido deixada em um canto, esquecida, deixada para apodrecer, sem ninguém que se importasse com ela.
    Mabel pega o celular em cima da cabeceira e, mesmo sem saber o porquê, pesquisa o nome de Jack no Facebook.

~

Jack não sabia de onde tinha vindo aquela força de vontade. O sol brilhando por detrás das nuvens tinha dado a ele força para levantar da cama, junto com o pressentimento de que o sol saindo em Londres depois de dias chuvosos significava alguma coisa especial.
"Show surpresa na rua Luz do Sol. Me esperem lá! (Covers dos Beatles)"
     Jack postou o aviso em seu Facebook, torcendo para que alguém aparecesse. Porque ele precisava cantar. E ele tinha um bom pressentimento quanto àquele show surpresa.

~

Quando Mabel viu o aviso de que Jack faria um show, Mabel agarrou a primeira roupa que viu em seu armário - que era o vestido que usou na noite que terminou tudo, mesmo que pouco, que tinha com Jack, e que, àquela altura, já estava seco, e uma jaqueta de couro. Calçou rapidamente suas botas marrons, também de couro, e apenas jogou o cabelo para o lado, ignorando o quão bagunçados eles estavam. Mabel só precisava chegar naquele show. E logo.
     Daquela vez, Mabel não observou as pessoas na rua, e nem controlou seu jeito de andar. As botas dela apenas batiam de modo determinado pelas calçadas londrinas, e seus olhos passeando rapidamente pelas placas com os nomes das ruas, se localizando pelo aplicativo de mapa em seu celular.
    Quando seus olhos pararam na placa com letras que formavam o nome da rua em que Jack faria o show, Mabel para e olha para frente, vendo-o com um microfone encostado em seus lábios e segurando um violão junto ao corpo.
    Algumas pessoas estavam reunidas em volta dele, pessoas de todas as idades, mas Mabel não se preocupou em analisar esse tipo de coisa. Ela apenas correu em direção ao lugar onde o show estava ocorrendo e esperou ansiosamente que Jack a visse.
    E agradeceu a Deus, mesmo que não acreditasse neste, pelo fato de Jack ter olhado para ela quase imediatamente.
     Ele sorri e começa a falar no microfone.
     - Bem, eu tenho duas músicas para tocar. Duas músicas especiais. - Jack ainda está com um sorriso enorme estampado no rosto. - A primeira é sobre o dia de hoje.
      As primeiras notas de Dear Prudence começam a tocar, e Mabel percebe que, realmente, aquela era a música para o seu dia, e fica satisfeita ao saber que a vida deles já estava seguindo a mesma trilha sonora.

~

As últimas notas da música são tocadas, pelos dedos ágeis de Jack no violão, e todos ali batem palmas, mesmo que fracas, já que todos estavam com lágrimas escorrendo pelo rosto por causa da performance esplendorosa que Jack fez de Dear Prudence.
- Bem... - diz Jack, com um sorriso no rosto que, mesmo que menor que o de antes, não coincidia com a música que tinha acabado de tocar. Mabel quase riu ao perceber que, mesmo que só tenha conversado com Jack por um dia, já sabia que aquele tipo de ato era a cara dele. - A outra música é para uma pessoa muito especial para mim, e... Mesmo que eu só tenha conversado com ela por um dia, estou apaixonado por ela. - Jack para de falar por alguns segundos, deixando que Mabel se perdesse no olhar dele, fazendo com que ela percebesse que a próxima música para ela. - Eu sei que isso é loucura, mas... Eu realmente agradeço a ela pelo infinito que me deu nesse dia e... Bem, e por estar aqui hoje.
    Jack começou a dedilhar seu violão no ritmo de I've Just Seen A Face, e Mabel coloca as mãos nos lábios, com a expressão de surpresa e espanto ao mesmo tempo.
    Mabel olhava para Jack ali, cantando, na frente do público, com umas dez pessoas em volta. Ela ignorava que essas pessoas olhavam de Jack para ela, como se acompanhassem uma partida de tênis. Obviamente, já tinham percebido que a garota pela qual Jack estava apaixonado era Mabel. O coração dela estava do tamanho de uma uva passa, de emoção.
    Jack estava apaixonado por ela.
    Jack estava cantando Beatles para ela, em um show, nas ruas de Londres! E não era mais como o show do bar, no qual ele apenas tinha visto a aparência de Mabel. Dessa vez ele a conhecia, tinha conversado com ela, e pensava que a tinha perdido - mesmo que, em todo o tempo que ficaram separados, era nele que Mabel pensava a cada minuto do dia.
    Quando Jack tocou a última nota da música, já estava parado em frente a Mabel. Ele coloca o violão no chão, e oferece a mão a ela.
    - Mabel Rodrigues... - ele começa. a Você teria o prazer... - agora um sorriso já se formava no rosto dela. - De me conceder... - Ele segura a mão dela e a puxa para mais perto de si. - Essa dança?
     Mabel sorri e coloca a mão no ombro de Jack.
     - O prazer é meu.
     E ali, naquela rua, sem se importarem com a quantidade de pessoas que os observava, Mabel e Jack começaram a dançar, enquanto ele cantava, em sussurros, a letra da música.
     De repente, Jack sente um cutucão em seu braço e para de cantar e dançar com Mabel ali na rua.
     - Olha, eu sinto muitíssimo em atrapalhar o show, mas... Eu preciso falar com você. - Jack fica olhando para a mulher de cabelos azuis parada na sua frente. - Ah, e não fique com ciúme ou com raiva dele, por favor! Vocês dois ficam completamente fofos juntos! Aliás, você pode participar da conversa também!
     Mabel olhou para Jack com as sobrancelhas levantadas. Ele dá de ombros.
      - Vamos conversar, então... - diz Jack.
     A mulher de cabelos azuis sorri e anda em frente, enquanto Jack a segue, segurando a mão de Mabel.
- Bem... - ela diz. - Eu estou montando um grupo de cover dos Beatles. E... Eu acho que você seria maravilhoso para participar. - ela parece animada. - E você vai ser o primeiro integrante do grupo. - os olhos dela analisam as expressões de Mabel e Jack. - A propósito, eu sou Alessia.
Alessia estende a mão e Jack e Mabel apertam.
- Hã... Eu posso entrar em contato com você depois? - pergunta ele, colocando a mão na nuca.
- É claro! - Alessia sorri. - Aqui está meu número. - ela entrega um cartão para Jack e outro para Mabel. Ela se prepara para sair, mas se vira novamente na direção deles. - E, eu sei que eu já falei isso, mas nunca pensei que fosse possível existir tamanha fofura assim no mundo. - Mabel e Jack estão com uma expressão de confusão. - Vocês dois! - explica Alessia, como se aquilo fosse óbvio. - Vocês dois são incrivelmente fofos! - os dois sorriem. - Bem, agora eu já estou indo! E me ligue quando decidir! - Alessia olha para Jack e para Mabel e sai dali.

- Hum... Você vai ligar? - pergunta Mabel, fazendo Jack sorrir.

- É claro que vou! Adorei a ideia! - ele para de falar por algum tempo e olha para Mabel. - E você? Podemos... hã... continuar o que temos? Mesmo que... Bem, mesmo que só tenhamos conversado por um dia?

Mabel ri ao reconhecer suas palavras ali.

- Sabe... Eu não teria dançado com você, nem aparecido para o show se não fôssemos continuar.

Jack brinca e suspira de alívio.

- Que bom! Se você não aceitasse, eu já teria usado todas as minhas cartas na manga. O próximo passo talvez fosse comprar um outdoor e escrever seu nome ali.

Mabel gargalha.

- Bom... que tal começarmos de novo? - ela diz. - Aceita um café no Starbucks?

Jack sorri.

- Ficaria honrado... Minha querida Prudence.

Mabel sorri ao perceber a referência feita por Jack e entrelaça o braço no dele. Os dois, andando pelas ruas de Londres. Uma união cheia de música. Duas vidas com trilhas sonoras entrelaçadas e... Cheias de Beatles.

Hey, JudeOnde histórias criam vida. Descubra agora