II: Através do Universo

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"Palavras flutuam como uma chuva sem fim dentro de um copo de papel
Elas se mexem de forma selvagem enquanto deslizam através do universo
Piscinas de mágoas, ondas de alegrias
Estão passando por minha mente aberta
Me possuindo e me acariciando"
(Across the Universe, de The Beatles)

Mabel tinha adormecido na cama, com a música ecoando pelos seus ouvidos e as lágrimas secando em suas bochechas.
Ela se levanta da cama, e toma sua decisão ao checar o seu e-mail pelo aparelho celular e rever a última mensagem que recebeu: a de um curso do exterior que a tinha convidado para estudar lá. Inglaterra. Parecia bom.
Mabel sorri, ao ver que ela poderia se sentir acima daquilo tudo que acontecera. Que ela poderia ver as palavras de Diego flutuando em volta dela, como se fossem pingos de chuva caindo do céu e ela estivesse de guarda-chuva; veria tudo que ele fizera com ela como se fossem pequenas pedras em seu caminho, pedras que ela poderia chutar para o lado, para que possa continuar a andar pela sua estrada de tijolos amarelos.
Mabel sorri para si mesma, e sai do quarto, descendo as escadas de sua casa.
- Pai! - ela grita, e tanto o pai, quanto a mãe, que estava parada em frente à bancada da cozinha, olhassem para ela.
- O que, querida? - o pai responde.
- Olha aqui! - Mabel coloca o celular na frente do pai. - Recebi uma resposta daquele curso que eu queria no exterior! Eu ganhei a bolsa!
Mabel deixa o celular caído na mesa e começa a pular, além de se pendurar no pescoço do pai, comemorando. Depois de comemorar um pouco com ela, o pai de Mabel pega o celular de cima da mesa e começa a ler a mensagem enviada pelo curso.
- Céus, querida, eles vão pagar tudo! A bolsa, a estadia, o voo... - Mabel assente com a cabeça, se controlando para não começar a pular e bater as mãos de novo. - Você não pode deixar essa oportunidade passar. - o pai devolve o celular para Mabel. - Você vai.
Mabel solta gritinhos e abraça o pai, apesar de saber que a mãe continua sem dar uma palavra.
- Querida? - o pai de Mabel fala, agora encarando a esposa, que estava de costas. - Não vai dizer nada? É uma grande conquista para Mabel, não acha?
A mãe de Mabel se vira.
- Bom, você já tomou a decisão por mim, não é mesmo? - os olhos da mãe de Mabel estão vermelhos, e ninguém sabia se era por causa da atitude do marido ou por causa da cebola que estava cortando.
A mãe de Mabel já tinha saído da cozinha, quando o pai dá batidinhas no ombro dela, e diz:
- Eu estou muito orgulhoso de você, querida. Mesmo. - Mabel assente, com um pequeno e tímido sorriso no rosto. - Deixe que eu termino de cortar as cebolas, e responda o pessoal do curso. Você definitivamente vai, não importa o que sua mãe diga. Esse é o seu sonho, e eu não tenho coragem de cortar suas asas e te impedir de vivê-lo.
Mabel dá um beijo na testa do pai e sai correndo pelas escadas, enquanto sorri.
Ela iria estudar a Inglaterra! Ela iria estudar na Inglaterra, e não havia Diego algum ali para tirar aquela felicidade dela.
Porque agora seu coração já estava bloqueado.

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