"Chorando, chorando,
Esperando, esperando,
Desejando, desejando
Você irá voltar,
Eu simplesmente não consigo
Tirar você da minha mente."
(Crying, Waiting, Hoping, de The Beatles)Jack andava em frente. Ele precisava chegar ao local marcado. Ele precisava vê-la, precisava ver Mabel.
E quando a vê... Jack apressa o passo, mesmo que boquiaberto, vendo-a com um vestido florido e os cabelos soltos, encaracolados, batendo no ombro. Ela estava parada, encarando-a. Não sorria, por que? Será que não estava tão feliz em vê-lo quanto ele?
- Olá... - ela diz, quando ele chega mais perto.
- Olá... - Seja cauteloso e não pareça tão desesperado quanto realmente está, ele pensa. Senão ela pensará que você está maluco, que você está perdendo a cabeça. Aja como se você estivesse se sentindo exatamente como deveria: como se tivesse conhecido-a há um dia.
- Eu... Eu preciso dizer uma coisa. - Jack percebe que a respiração dela está pesada. Ele se preocupa. O que aconteceu? Era por isso que ela não sorria?
- Diga. - Ela diz e você se controla, ele diz para si mesmo. Controle, Jack, controle.
- Precisamos terminar tudo aqui. - ela diz, finalmente, mas sua respiração não deixa de estar pesada. - Tudo que temos e tudo o que podemos ter. - Mabel para, por alguns instantes, e completa, rapidamente: - Mesmo que eu só tenha conhecido você ontem.
Jack está boquiaberto, e agora sua respiração também está pesado. Controle, ele diz para si mesmo. Tenha controle de tudo que sai e de tudo que fica.
Jack não consegue impedir a si mesmo de pensar naquilo. Ela sai, e ele fica ali, sozinho. Sozinho, como sempre. E, na primeira chance que agarrou, na primeira oportunidade que teve de ter alguém ao seu lado... bom, era aquilo. Tinha acabado.
- Por quê? - é tudo que ele consegue dizer, tudo o que ele consegue e tudo que ele pode, tudo que não seja decepção consigo mesmo. - O que eu fiz de errado?
Não era a intenção de Jack que Mabel ficasse com pena dele. Ele não estava tentando. Mas, naquele momento, que até ele estava com pena dele mesmo, não era possível que os outros não se sentissem assim.
- Não é você, Jack. Eu juro! - algumas lágrimas começam a tentar sair dos olhos de Mabel, e está óbvio que ela tenta impedi-las. - Eu... Eu não estou pronta ainda. - ela para e deixa uma lágrima escorrer, como se aquilo fosse tudo que ela pudesse se dar ao luxo de, naquele momento. - Me perdoe, por favor, Jack, mas eu tenho que ir. - Mabel começa a andar, mas, depois de dois passos, se vira de novo na direção de Jack. - E, por favor, não me escreva.
Mabel está andando pelas ruas, e Jack a observa ir embora. E é quando começa a chover. Ele amaldiçoa a meteorologia, que tinha previsto uma noite quente para aquele dia. Ele sabe que parece desolado, ali, na chuva, observando Mabel andar para casa, sem virar para trás para olhar para ele. Olhando para os fios de cabelo dela ficando molhados, o vestido florido grudando no corpo dela, acentuado suas curvas.
Quando Mabel vira para a outra rua, Jack respira fundo, mas não sai dali. Continua imaginando que ela ainda está ali, com ele, e os dois estão conversando sobre qualquer coisa.
Jack respira fundo novamente. Ele nunca tinha pensado que aquelas coisas de filme realmente aconteciam. Quando a protagonista deixa o cara na comédia romântica, sempre começa a chover. A chuva é sempre o que acontece depois dos desastres, dos momentos trágicos - nos enterros, nos términos de namoro, depois da descoberta das traições.
Sempre a chuva.
Jack se vira para voltar para casa quando as pessoas começam a encarar, como se soubessem exatamente o que estava se passando em sua cabeça, com pena. Jack tinha vontade de gritar para elas que, não era apenas porque tinham assistido a um filme de romance com uma cena parecida que saberiam como ele estava se sentindo.
Hollywood nem sempre tem razão.~
Mabel chora desesperadamente ao chegar em casa. Ela sabia que estava fazendo papel de ridícula, chorando por um cara que tinha conhecido no dia anterior, mas ela não se importava.
Pelo menos ninguém tinha partido seu coração.
O que Mabel, naquele momento, não sabia, mesmo que logo fosse descobrir, era que a dor de um coração que você mesmo quebrou não é menor do que quando quebrado por outrem.~
Vários dias se passaram, e Jack ainda estava naquele clima triste e melancólico.
Tinha ido cantar no bar todos os dias, mas cantava músicas tristes dos Beatles, algo como Eleanor Rigby ou I Want To Hold Your Hand. Seus olhos já estavam ficando com olheiras, por passar as noites chorando.
Jack, naquele momento, descobriu que, ao contrário do que as músicas e poemas diziam, não era nada romântico passar a noite chorando por alguém.
Ele chorava e chorava, enquanto esperava que ela voltasse. Ele implorava aos céus que ela o fizesse. A cada vez que seu celular vibrava, ele torcia para que fosse ela. Mas nunca era. Jack anseia por um sonho, por algo que já acha que nunca vai acontecer, por um momento que talvez nunca chegue a existir. Mas, ainda assim, acreditava. Isso é fé, não é?, pensa Jack. Mas, mesmo que fosse, ele preferia não ter. Jack preferia não ter aquela esperança que não saía dali de dentro, sabendo que não era real, que aquele desejo não se concretizaria.
Mesmo que ele desejasse com todas as suas forças que ela voltasse, ele sabia que não podia fazer nada quanto a isso, por mais que ele chorasse, esperasse e desejasse.
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Hey, Jude
ContoMabel é uma escritora, que sempre viu nas palavras um refúgio. Seus pais achavam que ela era sedentária demais, o que, de fato, era, e que deveria fazer mais amigos. E Mabel estava satisfeita em ficar em seu quarto com os fones no ouvido e o dedo na...