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"Meu nome é Anna, tenho 24 anos, acabei a faculdade mais cedo, sou loira, olhos verdes, tenho algumas sardas, e estou completando meu primeiro ano como interna no hospital Oliver Green"

-- 21:00, Londres, Hospital.

Estava sentada lendo um livro sobre técnicas de sutura , ao lado da sala de radiologia; espremida em um banquinho, comendo um chocolate. Me levantei para jogar o pacotinho fora, quando ouvi um berro.

- Estou no céu. - gritou. - Literalmente. Anna Mcfinn!

Me virei e vi um menino ruivo com um curativo enorme e sangrento no pé.  Ed Sheeran.

- Ah. Meu. Deus. - ri sarcasticamente sem acreditar. - Parece que a fama realmente subiu a cabeça.

- Eu estou "ótibo" - disse rindo.

- Está bêbado. - falou a enfermeira. - Leve-o para suturar esse pé, acho que você consegue. - disse me entregando o prontuário. - não há nenhuma fratura, ou hemorragia.

- Ok. - falei pegando a maca.

Levei a cama de rodinhas até o quarto, que não era muito longe. Todos estavam o olhando, alguns cochichando e outros tirando foto. Sério isso? Chamei Kendra para me ajudar a colocá-lo na cama, ele era pesado. Assim ela me deixou com ele, observei o que havia mudado. Ele tinha cortado um pouco os cabelos, mas ainda tinham seu toque bagunçado, continuava branquelo mas agora tinha uma barba envolvendo seu rosto o que o deixava mais velho. Tive vontade de passar a mão em seu rosto que havia mudado; mas recuei porque me lembrei tudo que havia passado.

Peguei uma seringa e um pouco de anestesia e injetei no peito de seu pé, onde estava um largo e profundo corte.

-O que é que você fez?- perguntei á ele enquanto cochilava.

- Deixei um copo cair. - falou rindo. - Mas eu não estou "bêbabo"

- Estou vendo. - falei pegando a agulha e a linha. - Mais sóbrio que nunca.

- Olhe para mim. - ele falou sorrindo. - Estou famoso, mundialmente, cheio de fãs maravilhosas que me dão todo o apoio e estou gastando meu dinheiro bebendo em um bar.

- Acredite, quando eu digo isso, fora a parte dos fãs, dinheiro e fama também vou muito em bares. - falei sorrindo sarcasticamente.

- Ei. Eu sei que vou me arrepender de falar isso quando estiver sóbrio. - falou agora sério, mas ainda um pouco embolado. - Mas, eu senti sua falta An. - Céus, quanto tempo não ouço esse apelido. - Sério, em meus primeiros anos em Londres, sem você, foram, foram vazios. Eu sei que eu parti seu coração, ferrei com sua vida escolar mas eu tinha que ir. Eu tinha. E eu sabia que se eu falasse com você diretamente, eu não iria conseguir te deixar. Eu te amava, foram apenas dois meses, mas foram dois meses amando como eu nunca amei. She foi para você e outras milhões de músicas. An, há volta?

- Não, Ed. - falei perdendo meu fôlego ao ouvir suas palavras.

Dei os últimos pontos, segurando o choro, assim que terminei, ele havia dormido. Saí correndo da sala á direção da sala de plantão, vazia. Lá me encostei na porta, respirando pesado.

FLASHBACK...

2007, Janeiro.

Ed Sheeran foi um amor de férias. Lá em Suffolk eu era uma menina relativamente desejada, então uma noite, em uma festa tinha uns quatro meninos me olhando, já no inicio dela, eles foram super simpáticos comigo e tal. Depois eles me chamaram para dar uma volta no lago.

Ingênua, fui. Quando cheguei lá não havia ninguém, além dos quatro. Estava escuro e frio. Eles começaram a dizer que eu era muito bonita e tinha um corpo maravilhoso, um deles veio me beijar com muita brutalidade e os outro começaram a me despir, eu comecei a recuar assutada sabendo o que estava por vir. Pedi para que parassem. Não pararam. Chorei. Esperneei. Gritei. Berrei. Me debati. Nada.

Quando acabou a tortura. Me deixaram, nua no porto que tinha no lago. Estava muito frio, e eu não conseguia sair do chão, em choque eu diria. As lágrimas saiam mas o choro não. Os berros. Nada. Só estava no porto, nua, com frio e paralisada.

Até que ele chegou, Ed. Ele veio, já entendendo o que havia acontecido, mas não chamou ninguém com medo de só aumentar a vergonha de mim mesma. Me levantou e deu seu moletom.

Passei alguns meses em casa, os médicos diziam que só eu mesma iria conseguir me tirar desse trauma, meus pais ficaram aflitos. Nenhum amigo fez questão de me visitar. "Ocupado com as provas" "Muito cansada" "Passando por tempos difíceis." Só porque acham que estou mentindo, que eu provoquei, que a saia estava curta e eu estava bêbada. Mas ele veio.

Ed chegou na minha casa sem nada nas mãos,os que vieram haviam trazido chocolates e flores; ele porém chegou sem nada. Ele cumprimentou meus pais e eles agradeceram por ele estar presente.

- Olá. - ele acenou. Não respondi.

- É, eu só queria ver como você estava. - disse entrando no quarto.

- Bom. Como você acha que eu estou? - perguntei utilizando o pouco senso de humor que eu ainda tinha.

- Tá. Desculpe. Só queria que você soubesse que eu me importo, apesar da gente só ter se visto naquele dia.

- Tá. Agora pode ir? - perguntei.

Ele me olhou triste e se levantou, não havia muito que ele podia fazer; e ele não queria insistir. Aquela foi a primeira vez que falamos, nunca vou me esquecer. Ele vinha toda semana, e toda vez era a mesma coisa, ele vinha, perguntava como eu ia e eu o mandava embora, até que no terceiro mês eu o não mandei embora. Mandei o ficar. Nós não conversamos muito, só o mandei ficar e juntos ficamos em silêncio. Não sei porque, mas logo que ele foi, finalmente consegui ir a escola, encarar o mundo. É claro que o medo me continha. Mas eu ia, estudava sem falar com ninguém além de Ed.

Meses se passaram, havia combinado com Ed de ir ao um parque, e finalmente naquele dia nos beijamos, foi um beijo calmo sem muitos detalhes que me lembro. Passamos alguns meses assim, dois, juntos. Dois. Meses. E eu já havia me apaixonado.

Eu sabia que Ed queria ir para Londres para se tornar um músico, mas achei que ele iria me avisar. Em vez de acordar de manhã na mesma cama que havíamos dormido com um bilhete dizendo que ele havia ido para Londres e para não o procura-lo.

OFF

Anos De Hoje...

- Ei!- berrou uma voz.

- Callie. Oi. - falei sonolenta.

- Você passou a noite dormindo aí? - perguntou.

- Que? - perguntei. -NOITE?? QUE HORAS SÃO??

-  6 da manhã.  - disse rindo.

Me levantei correndo na direção da sala de Ed. Ele estava sentado na cama com o celular na mão.

- Ah. Bom dia. - falei baixo.

- Anna? Oi,me contaram o que aconteceu.- ele disse envergonhado.

- Já lidei com coisa pior.- falei sem olhar.

-Eu falei alguma coisa... Quando eu estava bêbado ?- perguntou confuso.

- Não. Relaxe.- menti. - Pode ir, você tá liberado.

Ele assentiu e eu me retirei da sala rápido, suspirei balançando a cabeça para esquecer tudo. Eu não o veria mais.

SheOnde histórias criam vida. Descubra agora