15-em uma noite chuvosa

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Faltavam quinze minutos pra que fossem exatamente meia noite,as últimas chuvas já caíam há quase duas semanas,aquela começava tímida com algumas gotas de água sobre a calçada e um vento arrastando as folhas de papel pra o lado leste.

A cidade quase já se despedia,alguns carros passavam com os vidros embaciados e os pneus húmidos de tanto abraçarem o asfalto,a aquela hora so bares se mantinham abertos e alguns táxis amarelados circulavam a conta gotas.

Num quarteirão em que se misturavam escritórios e edifícios residenciais Frank se mantinha em pé de frente ao edifício onde martha vivia,vestia um sobretudo azul e apesar do guarda-chuva pequenas gotas de água beijavam seus sapatos de puro cabedal.

Olhava fixamente em direção a janela do quarto,a luz ainda acesa e o vulto de trás da cortina diziam que ela ainda estava acordada,provavelmente lendo um livro da sua interminável coleção de romances.

Nem ele mesmo sabia o que lhe levara até ali,talvez estivesse apaixonado e só notara após ligeiro afastamento,talvez sentisse algum tipo de remorso ou ainda estivesse no fundo preocupado com ela.pensou em subir e bater na porta,mas ignorou a idéia logo em seguida e preferiu deixar-se por aí contemplando a janela.

Do outro lado da rua uma jovem mulher tentava se equilibrar por cima do salto alto,marcava passos apressados e olhava pra atrás com a preocupação estampada no olhar,tinha o vestido totalmente molhado colado ao corpo e a bolsa encharcada pendurada ao ombro.

Frank a observou mas logo em seguida lançou seu olhar novamente pra janela de Martha.

Atrás da jovem um homem caminhava a ritmo de perseguidor com um sorriso no canto da boca e o olhar devorador fixado nela,a aparência jovial e o ar ameaçador geravam desconfiança,vestia um enorme casaco onde caberia perfeitamente uma arma e carregava com ele um saco com latas de cerveja,tinha uma aberta colada à mão direita,jogou-a ao chão depois de finalizá-la com um gole profundo e logo buscou por outra.

Movida por um instinto infeliz a jovem entrou em um beco onde então seu perseguidor a alcançou com facilidade.

-Então pra quê tanta pressa bonequinha?-disse o homem encostando-a contra a parede.o hálito a álcool vindo dele era quase insuportável.

Ela gelava de medo,a luz que vinha de uma lâmpada colada ao poste deixava à vista o rosto dele,tinha a pele clara,avermelhados olhos fundos e uma enorme barba desorganizada cobria sua face redonda.

-Por favor me solte! Eu tenho dinheiro aqui na bolsa.-implorou ela.

-Não se preocupe que comigo nem precisa pagar.-disse ele se divertindo com a situação.

Frank conseguia ouvir os gritos dela misturados ao sorriso irritante daquele homem vindos do beco do outro lado da rua.quando ele surgiu na entrada do beco o homem tentava beijá-la de maneira forçada,tinha um pequeno canivete encostado ao rosto dela,estava frio mas ela podia sentir a baixa temperatura da lâmina que aos poucos lhe cavava a pele.

-hey! Eu não posso permitir que você magoe a moça.-disse ao homem que com toda a sua força jogou a mulher pra o chão.

-Ha sempre alguém tentando impedir o amor.quem é você? O pai dela ou mais um idiota querendo parecer herói?

-Sou apenas alguém que acha que você não devia fazer isso.

-E eu sou alguém que acha que você devia sair daqui agora,antes que eu enterre esse canivete no teu estômago.-disse o homem marcando dois passos a seu encontro.

Frank sorriu de forma irônica,jogou o guarda-chuva pra o chão como se preparando pra uma luta corpo à corpo.

-Precisa mesmo ser desse jeito?-perguntou ao homem que se demonstrava confiante,pelos seus quase dois metros de altura e peso de meio elefante lhe parecia muito fácil derrubar Frank e enterrar o canivete nele.

-Sim.vai ser assim,eu enfio o canivete em você e depois o meu pau na donzela.

Com uma agilidade ao alcance de poucos Frank acertou-o em cheio com o punho cerrado no meio da cara,bem firme sobre o nariz que jorrava rios de sangue logo de imediato,em seguida outro golpe no abdômen bem na boca do estômago e ele caiu de joelhos em sua frente deixando o rosto bem a disposição pra uma forte joelhada debaixo do queixo,tinha agora a barba ensopada com a chuva que caía e com o próprio sangue.

-eu podia alvejar você agora bem no meio da testa,mas tenho um peixe maior por pegar,não posso desperdiçar balas com bêbados e violadores de quinta.espero que você aprenda a lição hoje porque da próxima não serei tão brando.-disse Frank em seu ouvido.

O homem desatou a correr pisando com um pé em lugar de outro enquanto se contorcia de dor e em poucos segundos desapareceu no escuro.

-Então você está bem?-perguntou Frank pra a jovem que entre choros e soluços tentava se recompor.

-Eu acho que sim.

-Devias ter mais cuidado.não é seguro andar por aí a essa hora com esse clima.

-Eu sei.muito obrigado,você é um herói.como posso lhe agradecer?

-Pegue um táxi,vá pra casa e cuide desse arranhão.

Ele marcou passos curtos desaparecendo entre as luzes da noite deixando-a em pé na calçada com o olhar de quem parecia não ter agradecido o suficiente.minutos depois ela subiu em um dos poucos táxis que ainda circulavam.

-Pra a quinta avenida por favor-disse a jovem ainda com a voz trêmula se recuperando do susto.

De qualquer das formas acabou se sentindo bem com o que fizera a aquele homem, melhor ainda por ter salvo a vida daquela mulher embora não lhe parecesse o suficiente depois de carregar injustamente em seus ombros o peso da morte de todas as vítimas que não conseguira salvar.

sádico "O Génio Das Facas"Onde histórias criam vida. Descubra agora