Não chore, garotinha

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O celular toca, fazendo um som super alto que me faz pular da cama, meu cabelo vai todo para meu rosto enquanto eu procuro o celular. Finalmente o acho. É um número desconhecido que chama, eu dou um suspiro antes de atender.

- Alô. - falo tentando manter os olhos abertos . - Quem é?
- Olá, Kate. - fala.
Kate? As unicas pessoas que me chamam de kate são as minhas tias por parte de pai.
- Tia Eve? - eu arrisco o nome.
- Não, querida, eu sou a Abbie. - ela responde. Eu nunca sei o nome delas.
- Oh. Oi, tia Abbie. - digo novamente. - E aí?
- Eu estou bem. Só estou aqui imaginando o porque de eu ter que ligar para poder falar com a minha única sobrinha.
- Desculpe por nunca ligar... ou visitar vocês. - digo fazendo careta. Acho que vem um sermão por aí. Ótimo.
- Está tudo bem, Kate, nós sabemos que vocês tem as suas coisas para fazer. - diz. - Então... você deve estar imaginando o porque de eu estar te ligando agora, após todos esses anos.
- Na verdade sim. - eu me jogo na cama novamente. - Algo aconteceu?
- É a sua vó. - ela diz com a voz triste.
Eu me sento na cama novamente.

Minha vó. Natalie Jean Nacon ou só nana como eu sempre a chamei. Uma das melhores pessoas que tive o prazer de conhecer nesses meus breves anos de vida. Quando eu me lembro dela, a primeira memória que me vem à cabeça é quando eu ia visita-la com meus pais e ela me dava doce antes do jantar, escondido da minha mãe é claro, ou quando ela me deu a minha primeira lição de violão quando eu ainda era uma criança. 
Eu nem sei porque me mantive longe dela por tanto tempo.
Ainda tive contato com ela por algum tempo, mas tanta coisa aconteceu que acabamos não nos falando mais.

- O que aconteceu com ela? - eu pergunto.
- Eu não sei como dizer isso... - ela para. - Ela tem câncer, Kate. - diz e eu imediatamente sinto meu coração ser despedaçado.
- Ah não. Me diz que você não está falando sério, tia.
- Sinto muito, querida. - ela tenta uma voz cuidadosa. - Se eu dissesse isso estaria mentindo.
- Por que vocês nunca contaram isso? - pergunto limpando as lagrimas que escorrerem pela minha bochecha.
- Você conhece sua vó, amor. Sabe como ela se importa com a aparência, sabe como ela nunca deixaria as pessoas a verem doente, e em caso algum deixaria você sofrer por ela.
- Eu não entendo... - digo chorando e então o silêncio se instala entre nós.
- Ela desistiu da terapia, Kate. - ela fala com voz de choro. - Disse que se iria morrer seria na casa dela, não em um hospital.
Eu me mantenho em silêncio, não sei se sou capaz de dizer algo nesse momento.
- Ela quer te ver, antes de... você sabe.
- Eu vou. - sussuro.
- Eu vou dizer para ela. - diz. - Tenho que ir agora, amor. Te vejo em breve.
Ela desliga e eu faço o mesmo.
Me jogo na cama novamente e abraço meu travesseiro, tentando jogar todos os meu sofrimento para fora em forma de lágrimas.

Faz algum tempo que eu estou deitada na minha cama tentando me controlar e levantar da cama. Não estava dando certo. Eu não aguento mais chorar.

Finalmente me levanto e vou para o banho.
Quando saio, arrumo uma bolsa com algumas roupas e me troco, usando uma vestido e um cardigan longo.

Antes de tudo eu preciso ligar para minha tia e conversar sobre isso.
Eu ligo e ela atende no terceiro toque.
- Oi, Kit Kat. - diz.
- A tia Abbie falou com você? - pergunto torcendo que sim, não quero ter que falar.
- Sim, ela me ligou mais cedo. Como você está?
- Tentando aceitar. - eu dou um suspiro. - Você?
- Estou bem... na medida do possivel.
- Quando nós vamos?
- 13:00. - ela diz. - Está ok para você?
- Sim. Vem me buscar?
- Sempre. - ela solta um riso anasalado. - Te vejo mais tarde então.
- Tchau. - falo e desligo.

Saio do quarto, encontro Trubs sentada no sofá e Vênus desmaiada em um canto da sala.
- Bom dia, Kats. - diz.
- Não é realmente um bom dia. - respondo e vou até a cozinha e pego um café.
- O que que aconteceu? - ela fala abaixando o volume da TV.
- É a minha vó. - eu me sento ao lado dela no sofá. - Ela tem câncer e... está morrendo. - eu sinto meus olhos se encherem de lágrimas.
- Amiga... - ela se levanta e me abraça. - Não chora que eu choro também. Eu já estou sensível, te ver chorar vai me deixar pior.
- Por que você está sensível? - pergunto tentando não chorar.
- Nick não está, e... eu estou naqueles dias. - ela dá um sorriso.
Eu solto um riso anasalado.
- Triste.
- E a Juli e os bebês? - pergunto.
- Os bebês estão no quarto com Bella, a babá. Juliette está no curso. - ela se senta de novo.
- Eu conheço essa Bella? - pergunto. - Eu não me lembro dela.
- Não, ela foi contratada a alguns dias antes do natal, mas eles a liberaram.
- Hm. - eu resmungo antes de afundar mais no sofá. - Ela é legal?
- Não tive tempo de descobrir. - ela confessa.
- Vamos descobrir agora? - pergunto. - Eu tenho tempo de sobra até a hora de ir.
- Pode ser. - ela se levanta e arruma o cabelo. - Vamos?
- Vamos. - eu me levanto e nós andamos até o quarto dos bebês.
Eu abro a porta e nós entramos.
- Oi. - Trubs fala se aproximando dela.
- Olá. - Bella diz.
- Ei. - eu digo também e ando até o berço de Kate. - Eu sou a Katelyn, prima da Juliette.
- Eu a cunhada... eu acho. - Trubs diz.
- Prazer, sou Bella.- ela diz sorrindo.
- Ouvimos que você é a babá dos bebês. - digo. - E queriamos te conhecer.
Eu brinco com Kate, seus olhinhos azuis cheios de vida não me deixam pensar em todo o desastre que está acontecendo do lado de fora do quarto.
- Ah! Claro, se quiserem saber de algo, pode falar que eu respondo.
- Você tem experiência com gêmeos? - pergunto. - Quer dizer... além deles dois.
- Bom... Sim eu já havia cuidado de dois meninos antes. - ela diz pegando Theo do berço e o colocando no trocador.
- Interessante. - digo e continuo brincando com Kate.
- Eles tinham cerca de um ano. - ela continua. - A maluca da mãe deles me demitiu porque disse que eu estava dando em cima do marido dela, claro que não era verdade.
Eu troco um olhar com Trubs.
- Sério? - ela pergunta.
- Ele meio que dava em cima de mim, mas eu estava lá apenas para trabalhar, e não para ser a outra né. - ela fala terminando de trocar Theo, depois o coloca de volta no berço. - Mas tenho certeza de uma coisa, ele estava saindo com a secretaria dele.
- Como você tem certeza? - pergunto.
- Acho que depois de ver ela sair do escritório do chefe dela, de batom borrado, cabelo bagunçado e saia amassada... - fala e da uma risada. - Quando ela me viu deu um pulo e disse: "O dia foi bem cheio". Depois saiu correndo.
- Uau. - Trubs dá risada.
- Não sei o que dizer. - falo. - Bom, nada além do comentário de que homens não prestam. Não tenho uma experiência com eles que não tenha terminado mal.
- Eu nunca namorei... - ela fala.
Eu arqueio as sobrancelhas.
- Quantos anos você tem? - eu paro. - Se não for uma pergunta muito invasiva.
Não é foi pergunta invasiva.
Eu perguntei uma coisa pior.
- 19... faço 20 mês que vem.
- Você é bem nova. Bom... é mais velha que eu mas, é nova.
- Mas não é por isso. Eu estudei em um colégio de freiras, eu não faço idéia de como me aproximar de um homem.
- Acho que eu tenho uma nova missão... - Trubs fala e me olha.
- Acho que nós temos uma nova missão. - corrijo. Eu me aproximo de Trubs. - Acha que precisamos de uma transformação?
- Acho que sim, ela esta meio... sem graça. - diz ela baixinho.

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