Tudo está errado

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Faz algum tempo que nós estamos no hospital, os outros também vieram, mas eventualmente acabaram voltando para casa.
Já são quase 3h40 da madrugada. Juli anda de um lado para o outro, eu continuo a minha constante procura de um lugar para me escorar. O sono e todo o cansaço e estresse do dia de hoje estão consumindo meu corpo. Se não fizer algo logo vou acabar desmaiando por aqui mesmo. O lado bom é que pelo menos já estou no hospital.
- Juli? - a chamo.
- Hã. Oi? - ela me olha.
- Vamos na cafeteria tomar um café e comer algo? Se eu não fizer isso vou entrar em pane.
- Vamos. - ela diz e nós saimos da sala de espera e vamos para o café do hospital.

Assim que pegamos os nossos pedidos, sentamos em uma das mesas perto da janela.
- Eu nem sei mais o que estou sentindo. - falo quando tomo um gole de café. - Eu estou tão esgotada, esses bebês pesam e exigem demais de mim. Imagine eu, uma garota que não tem certeza de nada na vida, tendo que fornecer algo solido para eles se formarem e crescerem. - falo mais para mim do que para ela. - Imagino que esteja igual ou pior que eu.
- Kat... - ela me olha. - Eu...
- O quê? - pergunto. - Qual o problema?
- O problema é que eu estou grávida. - ela fala e volta a chorar. - E eu não sei o que eu vou fazer!
E eu não sei o que dizer.
A família continua crescendo.
- O quê? - praticamente grito, mas depois abaixo o tom. - É do Justin? O Justin! Juliette!
- É claro que não! - ela sussurra. - O que acha que eu sou? Eu tenho sentimentos. Eu dormi com Nick a apenas 4 meses, e faz o mesmo tempo que ele morreu! Eu não poderia ficar com outro... Não poderia... - ela abaixa a cabeça e a deita na mesa, enquanto chora. - Eu não sei o que eu vou fazer... Como eu poderia dar um lar a uma criança neste momento se não dou conta nem dos que já tenho?
- A gente dá um jeito, ok? - eu mexo no cabelo dela. - Funcionou até hoje, por que não funcionaria com mais três? - a essa altura eu já tenho lágrimas escorrendo pelo rosto. - Por que você acha que eu ainda estou encarando esse negócio de ter gêmeos? Porque eu tenho vocês e assim como eu posso contar contigo, você pode contar com todas nós.
- Mas sem o Nick eu não aguento! - Juli se levanta em desespero. - Não dá mais, eu não aguento, eu sinto um vazio muito grande aqui sem ele. Eu queria poder pedir demissão da vida.
- Você pode pedir demissão da vida sim, mas isso se chama suicídio, Juli! - eu exclamo. - Agora se senta e pensa numa saída racional! Para de agir assim!
- Não há saida. - ela diz irredutível.
Eu fico calada, apenas encaro seu rosto desesperado.
- O que você quer fazer?
- Isso é exatamente o que eu não sei. - ela diz. - Vou ter este bebê, mas dói tanto que ele não vá conhecer o pai, ou que meus filhos não terão Nick quando precisarem. Como agora.
- Eu sei que dói. - pego em sua mão. - Sei que isso parece estar te corroendo por dentro, Juli, mas você tem que ser forte por ele. Você vai ser forte por ele. - eu coloco a mão em sua barriga.
- Eu vou tentar. - ela fala. - Eu juro. Mas não posso sozinha
- Nós cuidamos uma da outra, ok? - eu a abraço.

[...]

Abro a porta do apartamento de Dom com a chave reserva que fica no vaso de uma palmeira no corredor.
A sala está vazia quando entro, jogo minha jaqueta sobre o sofá e me sento ao lado. Estou quase cochilando quando ele aparece.
- Com sono? - pergunta.
- Não dormi nada essa noite. - eu me . - A Kate passou a noite inteira de observação e eu fiquei com a Juli, não poderia deixar ela sozinha.
- E ela está bem?
- Vai ficar. - falo. - Eu não tenho certeza de como vai ser.
Ele se senta ao meu lado e me abraça, deixando-me apoiada em seu peito.
- Você tem que dormir pelo menos um pouco.
- Poderia dizer que não, mas estou muito cansada para contrariar. - digo fechando os olhos.
Escuto a sua risada melodiosa antes de ser lançada em um sono profundo.

Abro os olhos novamente, quando já está escuro e chove do lado de fora. Me levanto da cama e ando pelos corredores em direção a sala.
Ele está sentado no sofá com o notebook no colo, assim que escuta o barulho de meus passos descalços, ele olha para mim.
- Dormiu bem?
- Sim, na verdade foi a minha primeira noite sem sonhos em semanas. - me sento ao lado dele.
- Isso é bom.
Eu apenas concordo com a cabeça.
- Sabe o que eu lembrei? - pergunta. - Eu ainda não dei o seu presente.
Ele se levanta do sofá antes que eu possa dizer alguma coisa e sai da sala, voltando em poucos minutos com um embrulho grande e alto.
- O que é? Uma pintura? - pergunto.
- Não, mas é algo parecido. Abra.
Eu começo a soltar a fita que prende a embalagem, assim que o último pedaço é solto, posso ver o que é.
Uma moldura grande que bate na minha cintura enquadra uma foto minha.
- Mentira que você fez isso. - eu o olho rapidamente, mas volto a atenção para o quadro.

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