New Year

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Everything is going to be just fine.
...

Eu sinceramente não acho que já tenha me sentido tão covarde como estou sentindo agora.

Não sei o que fazer.

Devo ficar feliz? Correr até ele e fingir que nada aconteceu? Voltar lá e fazer cara de paisagem? Contar sobre o que eu tenho dentro do meu útero? Ou simplesmente continuar sentada aqui em um canto no costado?
A última opção, com certeza.

Eu dou um longo suspiro.
O que deu em mim? Fugir como uma garotinha assustada não é algo que eu faço normalmente, ou é?
Talvez tudo o que eu sou é uma garotinha assustada, por isso eu me comporto como tal.

Definitivamente não sei.

Como eu poderia simplesmente ignorar o fato de que ele está aqui depois de tudo o que aconteceu, todas as discussões, toda a choradeira e toda aquela tristeza.

Argh.

Não sei o que fazer.

Eu abraço meus joelhos e deito minha cabeça sobre eles.

- Kat. - eu vejo minha tia aparecer ao meu lado. - Ainda bem que eu te achei, já estava pensando que você tinha pulado para fora do barco.
- Ainda não pulei... Ainda.
Eu falo e observo a praia desaparecer conforme o barco se afasta da costa.
- Eu não contei que ele viria porque eu não sabia. - ela se senta ao meu lado e eu a olho. - Tudo bem! Eu sabia. - ela faz um sinal de rendição. Eu sabia. - Não me olha com essa cara, Kat.
- Que cara? - eu a olho novamente.
- De quem está julgando. - diz - Sinto muito não ter avisado.
- Tá. - falo - Mas eu não te perdoo. Você viu o nível do ridículo que eu passei? Claro que viu. Se você tivesse contado eu poderia ter pelo menos me preparado mentalmente.
- Sinto muito mesmo, Kit Kat. - ela coloca a cabeça em meu ombro e eu fecho meus olhos por um instante.
- Ok.
- Você continua fazendo àquilo não é?
- Aquilo o que? - eu arqueio uma sobrancelha.
- Toda vez que você encontra uma situação que não sabe como enfrentar, você foge. - ela sorri. - Simplesmente sai correndo, se senta em um canto e ignora até que não tenha mais que enfrenta-la.
- Ah, isso. - eu faço uma careta. - Parece que os velhos hábitos nunca mudam não é?
- Você faz isso desde que eu consigo me lembrar. Uma vez você ficou escondida por tanto tempo que nós só te achamos de madrugada.
- Onde eu estava?
- Na casa da árvore da antiga casa dos seus pais.
Eu dou um pequeno sorriso.
- Minha mãe pirou né?
- Você sabe que sim. - ela sorri.
- Vamos lá para dentro? - pergunta.
- Não, eu prefiro ficar aqui mais um pouco. - respondo com um meio sorriso.
- Vai ficar bem?
- Vou ficar ótima. - eu respondo e ela assente com um olhar preocupado.

Alguns minutos se passam depois que ela se foi.
Eu continuo sentada, observando as montanhas e as praias que passam rapidamente.
Eventualmente eu terei que sair desse canto, sair principalmente dessa posição, minhas costas começaram a doer.
Tenho que ir e enfrentar o motivo pelo qual saí correndo.
Uma coisa ruim de quando você foge é ter que voltar, encarar as pessoas outra vez. Não sei se eu invento isso na minha cabeça ou se realmente acontece, mas eu sempre acho que as pessoas me encaram com uma expressão de quem está julgando e pensando o quão louca eu devo ser.
(Acho que você pode perceber que eu faço isso bastante.)

Eu finalmente me levanto do chão, e tenho que esperar um pouco até conseguir sentir a circulação voltar nas minhas pernas. Arrumo meu cabelo em um coque, solto um longo suspiro e então começo a caminhar.

Não há ninguém no convés - eu agradeço internamente por isso -, mas consigo escutar vozes e risadas abafadas, o pessoal provavelmente está na proa.
Pego minha bolsa que está jogada em um canto e começo à andar até as cabines.

UnbreakableOnde histórias criam vida. Descubra agora