Migliore pizza

4 2 0
                                    

Eram quase meio dia quando pegamos um cachorro quente na barraquinha ao lado do hospital e sentamos em um banco lá perto.
_ Davi foi diagnosticado com leucemia no início desse ano, - ele começou a me contar.
_ Eu sinto muito, - disse.
_ Não sinta, - ele respondeu sorrindo, - a culpa não é sua, ele é um menino forte e entende as coisas.
_ Ele é um ótimo menino, - eu falei sorrindo, - e você é um ótimo irmão Batman.
_ Você se dá bem com crianças Mulher Maravilha, - ele parou e pensou, - já sei onde podemos fazer o trabalho.
_ Onde?
_ Meu irmão, outro irmão, Nicolas tem uma sala a mais no escritório dele, com dois computadores sobrando.
_ Que bom! Vai ser ótimo! Quando começamos.
_ Que tal ágora? - Ele perguntou sorrindo, como eu amava esse sorriso.
_ Tudo bem. - Sorri também.
Ainda comendo o cachorro quente voltamos para o Volvo e fomos ao escritório do Nicolas, não ficava muito longe. Era um lugar bonito.
_ Erik! Quanto tempo, - um cara alto de cabelo espetado de olhos escuros nos parou.
_ Oi Nicolas! Nic essa é Katerina, Kat, esse é o Nicolas, o segundo mais velho.
Cumprimentei Nicolas, ele era legal e simpático, nos levou a uma sala vazia com dois computadores para fazermos o trabalho.
_ O que achou? - Erik perguntou assim que entramos.
_ É ótima! Por onde começamos?
_ Eu falei com o Sr White esses dias e ele disse que o trabalho tem que fazer críticas na parte literária clássica, podemos começar por ela, de acordo com ele é a mais importante.
_ Ok, - respondi sentando na mesa para começarmos a escrever, - vamos fazer uma escala, de pior para melhor?
_ Boa ideia. Começamos por Jane Austin? - ele perguntou.
_ Não gosta?
_ Não que eu não tenha gostado, é que achei um tanto enrolado e sonhador demais pelo lado da autora, - ele disse pensador.
_ É verdade, - concordei digitando, - Jane continuou com nome de solteira depois de anos, ela escrevia o que queria para ela.
_ Exatamente, "mesmo por uma ótima escrita, tais histórias poderiam não passar de sonhos e desejos para si própria," - ele dizia enquanto eu escrevia, - minha vez?
_ Sim, - troquei de lugar com ele - Fitzgerald?
_ Era ótimo também, "O Grande Gatsby", "Suave é a noite" , li quase todos, amo os livros dele.
_ A história dele é fantástica e trágica, teve a mulher internada em um hospício, - eu falava em quanto lembrava de um dos meus professores que amava Fitzgerald.
_ Um sonhador também, - Erik disse enquanto lia a biografia do autor.
_ Todos somos sonhadores, mas eles são mais. Já percebeu como o lado da imaginação e do talento na maioria das só desperta com algo trágico? Como se usassem isso para se superar da parte ruim. - Pensei.
Passamos o resto da tarde escrevendo e refletindo sobre o lado trágico da vida de cada autor e comparando com seu talento para a escrita, as seis horas voltamos para a faculdade pois as sete já tínhamos aula.
Me despedi de Erik e fui para o dormitório me arrumar.
_ Por ande andou? - Bia perguntou assim que cheguei.
_ Fazendo o trabalho com o Erik.
_ Transaram? - Cas perguntou maliciosa.
_ Não.
_ Se pegaram? - Ela continuou.
_ Não.
_ Nenhum beijo?
_ Cassie!
_ Aí que tédio! - Murmurou.
_ Vou tomar banho, tenho aula às sete, - eu disse indo ao banheiro.

Coloquei meu vestido jeans com uma sapatilha e cinto vermelhos, fiz uma trança em meu cabelo e a amarrei com uma fita. Um pouco antes da sete Dani e Erik foram no dormitório me esperar, ambos também tinham aula.
Erik sentou ao meu lado e Dani na fileira seguinte, atrás de nós. 
Um professor logo chegou, usava uma blusa comum e uma calça, com cabelo e barba preta.
_ Meu nome é Marcel Houck, por vocês minha preferência é ser chamado de Sr. Houck, - ouvi Daniel que estava atrás de mim sussurrar: "que cara chato".
O Sr. Houck logo começou a passar um vídeo sobre a vida de Stephen Hawking, eu estava me esforçando para manter os olhos abertos.
_ O pinto desse cara era indomável, - Daniel disse derrepente atrás de nós.
_ Sua boca é indomável! - Erik respondeu.
_ Daniel você está prestando atenção? - Perguntei espantada.
_ É, só na parte em que ele é incapaz de falar e basicamente de se mexer e ainda teve duas esposas e três filhos, - Dani continuou, - odiei esse professor.
_ Ele é um idiota, - Erik disse sussurrando, - trabalhava com meu pai até ser despedido por matar alguém em uma ação fácil de uma siriurgia, ainda culpou meu pai por isso, depois veio lecionar.
_ Ei o que vocês acham de sairmos de fininho e ir comer uma pizza...
_ Erik, receio que esteja um pouco distraído, - Sr. Houck disse pausando o vídeo e interrompendo o desejo de Daniel passando um sermão em Erik, - poderia me repetir a data de nascimento de Hawking?
_ Com todo o prazer querido Sr. Houck, - Erik respondeu confiante com risadinhas pela sala, - Stephen Hawking nasceu em 8 de janeiro de 1942, exatamente no aniversário de 300 anos da morte de Galileu.
_ Parece que nessa parte você prestou a atenção, - Marcel disse insatisfeito, - e qual o nome de sua esposa?
_ Acho que sua pergunta é uma pegadinha professor, - Erik continuou, calmo e confiante - Stephen teve duas esposas, a primeira era Jane Hawking e sua segunda esposa, Elaine Mason.
_ Qual é o diagnóstico dele? - Sr. Houck continuou um tanto nervoso.
_ Hawking é portador de esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem atingir as funções cerebrais, uma doença que ainda não possui cura, - Erik respondeu firme e sorrindo.
_ Certo, - Sr. Houck disse por fim vencido continuando o vídeo.
_ Como você fez isso? - Perguntei sussurrando para Erik ao meu lado.
_ Nunca baixe a guarda com um professor que odeia seu pai, - ele respondeu sorrindo, eu ri.
Depois de mais duas horas com o mesmo professor tivemos mais duas aulas com a Sr. Mayer e por último mais uma com o Sr. White. Encontrei Cas, Bia e Henrique nas três últimas aulas.
Os três tiveram que ficar devido aos horários, enquanto eu, Erik, Dani íamos buscar Sophia para aquela pizza.
_ Onde vamos? - Sophi perguntou após entrar no carro e dar um beijo em Daniel. Olhei para Erik ao meu lado no banco de trás.
_ Migliore pizza, - ele respondeu, - descendo a avenida e virando a esquerda na outra rua.
O restaurante era ótimo, a música italiana tocando ao fundo todo decorado de verde, vermelho e branco. Sentamos em uma mesa de quatro, Dani e Sophi de um lado e do outro eu e Erik.
_ É um encontro duplo? - Sophia perguntou um pouco confusa.
_ É sim amor, - Daniel respondeu antes que eu e Erik pudéssemos abrir a boca, olhamos bravos para ele.
_ Erik né? Eu não pude te conhecer pessoalmente até aqui, o Dani fala de você as vezes, parecem ser bem amigos, - ela continuou.
_ É sim Sophia, muito prazer. - Ele logo respondeu educado.
_ Vamos pedir uma pizza de palmito? O que acha amor? - eu estava realmente impressionada com o romantismo de Dani.
_Para mim está perfeito, e vocês? - concordamos com a cabeça, - ótimo então, - ela disse fazendo o pedido ao garçon.
_ Depois vamos pedir uma de brigadeiro? Docinha como você Sophi.
_ Não tanto quanto você Dani...

Já estava quase dormindo quando Erik me mandou uma mensagem:

Que melação.

Ri baixinho e respondi:

Nem me fale, vou matar o Daniel.

Eu te ajudo, se esconder os as provas ninguém vai suspeitar. Vamos sair daqui?

Perguntei:

Como?

Minta, de uma desculpa da qual acreditem em ouvir.

Olhei para ele e dei um sorriso discreto, depois comecei a respirar pela boca e forcei meu olho a lacrimejar.
_ Kat, você está bem? - Dani perguntou.
_ Eu... Erik, amor... - dizia continuando com minha novela mexicana.
_ Vou levar ela para fora, - Erik respondeu se levantando, e colocando seus braços em baixo de meus ombros.
Continuei com o meu drama até a porta do restaurante, o mesmo tinha um tipo de jardim, com banquinhos e vasos de flores, nos sentamos em um dos banquinhos longe da visa da pizzaria. Não aguentei e comecei a rir, ele riu junto.
_ Você mandou bem! - disse ainda rindo.
_ Obrigada!
Por um momento não dissemos nada, ficamos cara a cara, quando ele aproximou seu rosto do meu e eu respondi ao movimento fazendo o mesmo, até que apenas alguns sentimentos nos separassem.
Eu não estava com medo, eu sentia algo a mais por Erik e não podia negar, mas eu não sei porque não avançava, fiquei encarando seus olhos, pareciam não só me olhar como também observar meus pensamentos.
_ Kat! Você melhorou? - Paramos ao ouvir Dani gritando da porta do restaurante.

Memory Onde histórias criam vida. Descubra agora